Dirigentes da União Europeia (UE) se reúnem nesta quinta (20/10) e sexta (21/10), em Bruxelas, para tentar encontrar uma resposta comum à crise energética. Desde o início da guerra na Ucrânia, o bloco vem tendo dificuldades para resolver as diferenças internas e chegar a um consenso sobre a questão.
Desde fevereiro, a guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia resultam no aumento do preço do petróleo, do gás e da eletricidade. Mas, nos últimos meses, a Europa reage de forma lenta, enfraquecida pelos interesses individuais dos países-membros.
A poucas semanas do início do inverno no Hemisfério Norte, a urgência é grande. Por isso, para o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, a cúpula “é a mais importante dos últimos tempos”. Segundo ele, caso o encontro desta quinta e sexta não dê “um sinal político claro” contra os preços elevados de gás, será “o fracasso da Europa”.
Milhares de empresas europeias se sentem ameaçadas pela concorrência dos Estados Unidos ou dos países asiáticos, onde os preços das contas subiram menos. Na Alemanha e na França, manifestações contra o alto custo de vida levaram milhares de pessoas às ruas nas últimas semanas. Não é à toa que um encontro entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, será realizado nesta tarde para tentar aparar as diferenças, antes do início da cúpula.
A expectativa é que as discussões entre os 27 dirigentes da UE sejam longas. Na última cúpula em Praga, no início de outubro, vários líderes fizeram duras críticas à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O presidente polonês, Mateusz Morawiecki, acusou diretamente a líder de priorizar interesses alemães.
A ministra espanhola da Transição Energética, Teresa Ribera, também não poupou a demora da Comissão Europeia a reagir. “As propostas ainda são um pouco tímidas. Precisamos de medidas concretas. É frustrante ver a que ponto a reação da Europa diante deste desafio que enfrentamos é lenta e trabalhosa”, disse.
Twitter/Ursula Von Der Leyen
Vários líderes fizeram duras críticas à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen
Motivo das divisões
O principal problema é que cada país da UE tem seu próprio “mix energético”: alguns dependem do nuclear, outros do gás ou até do carvão para produzir eletricidade. A padronização do preço do gás é o que bloqueia boa parte das discussões, mesmo que um dispositivo deste tipo já esteja sendo aplicado na Espanha e em Portugal, o que permitiu diminuir o valor das contas de energia.
Vários países, como a França, defendem a extensão deste mecanismo. No entanto, a Alemanha recusa a alternativa, bem como a Dinamarca e a Holanda, reticentes sobre a intervenção do Estado nos mercados. Para Berlim, baixar artificialmente o preço do gás poderia prejudicar o objetivo de sobriedade energética, incitando as pessoas a consumirem mais.
Von Der Leyen defende que “o modelo ibérico precisa ser estudado”. “Há questões em suspenso, mas não quero neglicenciar nenhuma pista”, declarou a chefe da Comissão Europeia na quarta-feira (19/10).
Já a criação de um teto para o preço das importações é descartado no momento. Segundo Scholz, determinar um valor máximo “traz sempre o risco de os produtores venderem o gás para outros países, e nós, europeus, poderíamos acabar com menos gás no lugar de mais”.
Nesta semana, von Der Leyen apresentou outras propostas: organização de compras de gás em comum, novas regras para tentar impor o compartilhamento do produto na Europa para ajudar os países em maiores dificuldades ou ainda uma reforma do índice do mercado TTF (a “Bolsa do gás” europeu), utilizado como referência nas transações entre os operadores.
“Há muitos progressos, mas não uma resolução dos principais problemas”, avalia um diplomata europeu. “As prioridades diferem: a Alemanha privilegia a segurança de abastecimento porque ela pode pagar preços mais elevados, mas muitos países não podem arcar com esses gastos”, sublinha.