Uma disputa regional com cara de presidencial. É dessa forma que oposição e governo enxergam a importância da eleição para governador de Miranda, um dos Estados mais estratégicos da Venezuela. Não é para menos: mais além da escolha entre os nomes de Henrique Capriles, oponente de Chávez em 7 de outubro e Elias Jaua, ex-vice-presidente, está em jogo o futuro do jogo político no país. Somado a este cenário está a doença do presidente venezuelano, que imprimiu ainda mais importância a essas eleições.
Agência Efe (13/12)
Atual governador de Miranda e ex-concorrente na eleição presidencial, Henrique Capriles, discursa no último evento de sua campanha eleitoral no estado
A reeleição de Capriles poderia significar uma injeção de moral para o ex-candidato presidencial derrotado que, dessa vez, rompeu com a nova estratégia da oposição nas presidenciais de adotar um discurso ameno, com roupagem progressista, e apareceu mais agressivo na campanha, de acordo com o analista político venezuelano Alberto Aranguibel. “Nessas eleições, Capriles retomou seu perfil antigo, de ataques ao governo. Se não ganhar, não será mais uma opção de liderança da oposição”, apostou.
Para parte da MUD (Mesa de Unidade Democrática) – uma heterodoxa mistura de partidos como os tradicionais Copei (democrata-cristão) e AD (Ação Democrática) e os recentes Primeiro Justiça e Vontade Popular – os gritos de fraude eleitoral e os ataques frontais a Chávez não eram traduzidos em votos. Henry Ramos Allup, secretário geral da AD e uma das vozes mais conciliadoras da oposição venezuelana, disse em outubro, após a vitória de Chávez, que “não podemos continuar afirmando que, quando ganhamos os resultados, eles são limpos e quando perdemos, houve fraude”.
A estratégia então foi alterada. De fato, Capriles foi quem mais perto chegou de Chávez em uma contenda presidencial, ao conquistar 44,55%, contra 54,42%. Os quase três milhões de votos que davam a vantagem para o presidente em 2006 caíram para a metade esse ano, apesar de o número de votos absolutos chavistas também ter crescido. Parte da análise pós-eleição culpou problemas estruturais da revolução, como o abandono de algumas missões sociais e a perpetuação de uma excessiva burocracia. Porém, outro setor aposta em uma migração definitiva de eleitores, agora atraídos pelo novo discurso oposicionista.
Percebendo esse novo cenário, Chávez designou um dos nomes mais fortes de seu governo para frear o avanço oposicionista. Elias Jaua, de 42 anos, é visto como um político eficiente e trabalhador, além de ter chefiado importantes ministérios, como o da Agricultura. De acordo com lideranças chavistas, uma vitória do ex-vice poderia acabar com as chances de Capriles encabeçar uma liderança na oposição, fragilizado por duas derrotas seguidas.
Plano nacional
Mais além, em um plano nacional, teria força para provocar mais disputas internas na MUD, que desde a eleição presidencial batalha para se manter unida. A dissonância de posicionamentos, causada pela mescla de correntes políticas e evidenciada após o resultado da eleição presidencial, pode ser o calcanhar de Aquiles do bloco. Uma oposição novamente fragmentada é o principal desejo chavista, nesse momento de incerteza com a saúde do presidente.
Agência Efe (13/12)
O ex-vice-presidente de Hugo Chávez, Elias Jaua, participa do último comício de sua campanha eleitoral em Miranda que mesmo sob chuva, reuniu dezenas de pessoas
A oposição venezuelana sabe disso. “O governo se valerá de tudo para erodir a unidade. Como na campanha presidencial, surgiram nomes que cantaram uma suposta desintegração da MUD”, afirmou Ramos Allup. “Se a ideia é crescer eleitoralmente até triunfar, devemos atrair quem votou no governo, sem jamais insultá-los, menosprezá-los ou humilhá-los, pois seu direito de votar no governo é tão legítimo e respeitável como o nosso de votar na oposição”, continuou.
Enquanto Capriles diz que pesquisas de opinião internas apontam para uma vantagem de 22 pontos sobre Jaua, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) afirma que está na frente. “Não há um só dos 23 Estados em que não tenhamos possibilidade real de triunfo”, disse essa semana Jorge Rodríguez, chefe do comando de campanha do partido.
Para Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisas Datanálisis, afirmou que “a incerteza ao redor da saúde de Chávez incentivará o voto do oficialismo para garantir a continuidade do processo revolucionário, e o mesmo efeito se reproduzirá na oposição, ‘animada’ com a possibilidade de que se celebrem novas eleições presidenciais” em breve. Mais do que um troféu eleitoral, a eleição em Miranda pode definir o futuro político venezuelano.
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