O diplomata Eduardo Saboia deve ser ouvido na tarde desta terça-feira (27/08) na sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em Brasília. Ele coordenou a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada de La Paz até o Brasil sem anuência do Itamaraty. O episódio gerou uma crise diplomática entre Brasil e Bolívia e resultou na queda do chanceler brasileiro Antonio Patriota. Em entrevista à Folha publicada hoje (27) ele já diz ter pronta sua defesa e fez críticas em tom de ameaças ao MRE.
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Saboia organizou a saída do senador da capital boliviana com dois veículos oficiais, com placas diplomáticas da embaixada – o primeiro deles contando com a presença de dois fuzileiros navais brasileiros. Após 21 horas e meia de viagem de carro, passando pelo território boliviano, eles chegaram até Corumbá (Mato Grosso do Sul) e depois se dirigiram a Brasília. Pinto Molina responde a mais de 20 processos na Bolívia e já foi condenado por um deles.
Opositor do presidente boliviano Evo Morales, o senador alega sofrer perseguição política. Em maio do ano passado, pediu asilo na Embaixada brasileira e foi atendido. A Bolívia, no entanto, não outorgou um salvo conduto para que ele pudesse deixar o país.
Agência Efe
Roger Pinto Molina em Brasília, na residência do advogado Fernando Tibúrcio Peña
Saboia, ex-encarregado de negócios do Brasil em La Paz (espécie de embaixador interino) se encontra afastado por tempo indeterminado de suas funções. Em entrevista à Folha, ele ameaça:
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“Se vierem para cima de mim, tenho elementos de sobra para me defender e para acusar”, afirmou. “Tenho os e-mails das pessoas, dizendo olha, a gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que estão negociando [a saída do senador da embaixada] e a gente finge que acredita”, afirmou.
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“O Itamaraty quer saber o que aconteceu. Vou prestar os esclarecimentos, e espero que haja sensatez. Se vierem para cima, tenho elementos de sobra para me defender e para acusar: a questão da omissão… Se a gente entrar numa questão legal, vai ser uma lavação de roupa suja que todo mundo vai sair prejudicado. Se quiserem me crucificar, vai ser uma burrice. Não sou da oposição, votei na Dilma [Rousseff, presidente do Brasil]. Mas não podia me omitir. E foi resolvido um problema político. A situação envenenava as relações [Brasil-Bolívia], impedia uma viagem da presidente. Tiramos o bode da sala. Mas, se você me perguntar, “fez bem para minha carreira?”, vou dizer: “Não”.
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Saboia diz não se arrepender e estar amparado pela Constituição e pelos tratados internacionais assinados pelo Brasil. “Fiz uma opção por um perseguido político, como a presidente Dilma fez em sua história”. Ele criticou o Itamaraty por não se empenhar na resolução do caso e afirmou ter alertado por diversas vezes sobre a deterioração do caso.
Defesa
O advogado Fernando Tibúrcio Peña, defensor do senador boliviano Roger Pinto Molina condenou a iniciativa do Ministério das Relações Exteriores de examinar a possibilidade de abertura de inquérito sobre a atuação do diplomata Eduardo Saboia.
“O Itamaraty não está sendo justo com o ministro [última etapa na carreira diplomática, antes de se tornar embaixador] Eduardo Saboia. O ministro foi corretíssimo o tempo todo com o senador, percebendo que ele [o boliviano] não estava bem de saúde e cuidando para mantê-lo o melhor possível”, disse Tibúrcio Peña à Agência Brasil. Nos 455 dias que ficou abrigado na embaixada, o boliviano apresentou um quadro depressivo e também cálculo renal.
Em nota, o Itamaraty ontem (25) anunciou a possibilidade de abertura de inquérito e deu a entender que Saboia tomou a decisão de forma unilateral. “O encarregado de negócios do Brasil em La Paz [embaixador temporário], ministro Eduardo Saboia, está sendo chamado a Brasília para esclarecimentos. O Ministério das Relações Exteriores abrirá inquérito e tomará as medidas administrativas e disciplinares cabíveis”, diz o texto.
Saboia, no entanto, que se encontra afastado por tempo indeterminado de suas funções, disse em entrevista ao jornal Folha de São Paulo publicada nesta terça-feira (27/08) já ter sua defesa pronta e ameaçou o Ministério de Relações Exteriores em caso de retaliação.
Para Peña, a divulgação de uma nota oficial pelo Itamaraty incluindo o nome de Saboia coloca em risco não só a vida do diplomata, mas também da família dele e ameaça a carreira diplomática do profissional. “É uma situação delicada e causa surpresa”, ressaltou o advogado.
No Itamaraty, os diplomatas não informam ao certo como será um eventual inquérito envolvendo Saboia. As punições, em geral, vão desde uma advertência oral até a exoneração da carreira profissional. Porém, há os defensores de uma sanção intermediária que é a da suspensão provisória da carreira, considerando que seus antecedentes são todos positivos e que tem um histórico de bons serviços prestados.