A primeira tentativa do líder do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, de tentar formar maioria no Parlamento espanhol para ser investido no cargo de primeiro-ministro do país terminou em fracasso nesta quarta-feira (27/09).
O político conservador obteve 172 votos favoráveis à sua proposta, que precisava de 176 apoios para ser aprovada.
Além dos 137 parlamentares do próprio PP, Feijóo contou com o respaldo dos 33 representantes do Vox (partido de extrema direita) e de dois parlamentares regionalistas – integrantes da União do Povo de Navarra e da Coligação das Ilhas Canárias.
Apesar do fracasso na primeira tentativa, Feijóo terá mais duas chances para tentar formar uma maioria que garanta sua investidura como primeiro-ministro, direito que adquiriu devido ao fato de que seu partido foi o mais votado nas eleições gerais realizadas em 23 de julho.
Vox emperrou maioria
Os votos contra a investidura de Feijóo foram 178. Incluíram os representantes do Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE), do atual premiê Pedro Sánchez, cuja bancada tem 121 deputados, e os do Movimento Somar (antigo Podemos), liderado pela vice-premiê Yolanda Díaz, dono de 31 votos.
Mas os setores que decidiram em favor da rejeição foram os regionalistas da Catalunha e do País Basco. A Esquerda Republicana Catalã (ERC) e o Juntos Pela Catalunha (Junts) possuem sete votos cada. O Partido Nacionalista Basco (PNV, por sigla em espanhol) tem seis representantes, enquanto a Esquerda Basca (EH Bildu) tem cinco. O último voto contra foi do único parlamentar do Bloco Nacionalista Galego.
Os casos mais chamativos são os do Junts e do PNV, partidos de direita da Catalunha e do País Basco, que possuem concordâncias ideológicas com o PP e poderiam formar governo com Feijóo em termos programáticos, mas que se viram afastados da proposta conservadora devido à presença do Vox na coalizão.
O líder da legenda de extrema direita, Santiago Abascal é cogitado como vice-premiê em um possível novo governo de Feijóo, mas seu discurso prega a perseguição judicial aos setores regionalistas por “querer dividir a Espanha”.
Abascal também defende a manutenção da prisão política de representantes do Junts que participaram da campanha pelo referendo independentista de 2017 e costuma chamar os membros do PNV e do EH Bildu de “terroristas”, devido ao fato de que alguns deles fizeram parte de organizações como o Pátria Basca e Liberdade, a já extinta guerrilha nacionalista que era mais conhecida como ETA, sua sigla em idioma basco.
Partido Popular da Espanha
Após discurso no Parlamento, Feijóo ficou a quatro votos de obter a maioria necessária para ser o novo primeiro-ministro da Espanha
No discurso de investidura, realizado nesta terça-feira (27/09), Feijóo tentou se aproximar especialmente dos catalães, fazendo alusão a uma possível anistia aos presos políticos do Junts.
Porém, a votação desta quarta mostrou que os representantes da direita da Catalunha só entregarão seus votos mediante um compromisso mais concreto – mas que o líder do PP se resiste em ceder, por temor a perder o apoio do Vox, cuja bancada é mais numerosa.
Esperanças para Sánchez
Se o PP falhar três vezes em obter os 176 votos necessários para formar maioria, o rei Felipe VI será obrigado a chamar os líderes dos principais partidos para uma nova rodada de reuniões.
Após esses encontros, se abrem duas possibilidades. Uma delas é que seja permitido a Sánchez a oportunidade de formar maioria. A outra é a convocação de novas eleições, provavelmente para novembro deste ano.
A permissão para Sánchez tentar formar maioria requer que o monarca considere que o resultado da esquerda nas eleições de 23 de julho é forte o suficiente para obter esse direito.
Mesmo estando mais distante do quórum de 176, o governismo tem como trunfo o fato de que alcançou essa maioria necessária duas vezes desde aquela eleição: quando elegeu a socialista Francina Armengol como nova presidente da Câmara e quando se aprovou a lei que permite o uso dos idiomas basco, catalão e galego em cerimônias oficiais do Congresso.
Em ambas as votações, realizadas em agosto, o PSOE conseguiu o apoio de todos os parlamentares regionalistas, que juntos reúnem 28 votos.
Mesmo assim, caso o monarca espanhol conceda a Sánchez a oportunidade de formar maioria, será um desafio para ele conseguir os 14 votos dos partidos catalães, que até o momento se mostram irredutíveis com a exigência de anistia aos presos do referendo.
Se trata de uma medida com a qual o premiê socialista resiste em se comprometer. Em seus cinco anos de governo, em nenhum momento foi feito um gesto sequer em favor do perdão aos independentistas.