O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, não virá mais ao Brasil nesta semana. A viagem à América do Sul, que incluiria também Venezuela e Equador, foi adiada sem explicação oficial. A decisão foi anunciada hoje (4), após uma série de informações contraditórias divulgadas durante o dia.
Ahmadinejad tinha um encontro previsto para quarta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, acompanhado de 110 representantes de 65 empresas de praticamente todos os setores da economia iraniana. Seria a maior delegação de empresários a acompanhá-lo numa visita oficial.
O governo iraniano pediu o adiamento da visita para depois das eleições presidenciais, marcadas para 12 de junho. O presidente é candidato a um segundo mandato de quatro anos.
A Irna, agência de notícias estatal, informou de manhã que a viagem havia sido cancelada. Pouco depois, a notícia repercutiu na imprensa, mas a Embaixada do Irã manteve a versão de que a programação não seria alterada. No fim da tarde, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que o presidente não viria.
O pesquisador Ely Karmon, do ICT (Instituto Internacional de Contra-Terrorismo), disse ao Opera Mundi, desde Israel, que o adiamento da visita pode ter relação com o medo de a oposição conseguir alguma vantagem enquanto Ahmadinejad estivesse fora do país, embora ele acredite que a viagem fizesse parte da campanha eleitoral do presidente.
Segundo a Folha de S.Paulo, a decisão foi motivada pelo acirramento da tensão no cenário político interno, já que o presidente deixou de ser o único candidato conservador após Mohsen Rezei, chefe da Guarda Revolucionária entre 1981 e 1997, lançar-se oficialmente como candidato. Em suas primeiras declarações, Rezei acusou Ahmadinejad de ter implementado uma política econômica e interna que está levando o Irã “ao precipício”. Também criticou o presidente por questionar o Holocausto e confrontar sistematicamente o Ocidente.
Estados Unidos
A intenção de visitar o continente foi criticada hoje pela secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que se disse preocupada com a influência de Teerã na América Latina. No fim de semana, houve protestos de israelenses em algumas cidades brasileiras. Ahmadinejad critica sistematicamente os Estados Unidos e Israel. Na última conferência sobre racismo da ONU (Organização das Nações Unidas), ele chamou Israel de país racista.
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Ely Karmon acredita que, neste momento, a visita seria prejudicial para a política externa brasileira, principalmente por conta das pressões contrárias. Já o cientista político Sebastião Carlos Velasco e Cruz, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), acredita que a visita só teria pontos positivos porque o Irã é uma potência econômica, cultural, geográfica e politicamente estratégica, além de ser um parceiro comercial importante para o Brasil.
“É um momento importante para a política externa brasileira, que mostra um conflito permanente na diplomacia: é preciso escolher entre ser um país soberano e independente ou ser um carneiro atrás dos Estados Unidos,” disse o professor da Unicamp.
Esta seria a primeira visita de Ahmadinejad ao Brasil. Em janeiro de 2007, ele visitou Equador e Nicarágua, onde assinou um acordo de cooperação. Em abril deste ano, foi à Venezuela, onde assinou um acordo estratégico de dez anos.
Mesmo sem o presidente, o encontro entre empresários dos dois países, nos próximos dias, em São Paulo, foi mantido, segundo o subsecretário geral de assuntos políticos do Itamaraty, Roberto Jaguaribe.
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