O ex-presidente espanhol Felipe González se reuniu nesta segunda-feira (08/06) com a MUD (Mesa da União Democrática), coalizão opositora ao governo do presidente Nicolás Maduro. A chegada do ex-mandatário a Caracas no domingo (07/06) gerou protestos de setores ligados ao chavismo. Ontem, Maduro criticou o que chamou de “conspiração contra a Venezuela para desqualificar o governo revolucionário”.
González pretendia se incorporar na qualidade de “assessor técnico externo” à defesa de Leopoldo López e Antonio Ledezma, detidos por incitação à violência nas manifestações de 2014 e por atuação em plano de tentativa de golpe contra o governo de Nicolás Maduro, respectivamente.
Felipe González, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), presidiu o governo da Espanha entre os anos de 1982 e 1996.
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Agência Efe
González falou aos meios de comunicação ao lado da esposa de Ledezma, Lilian Tintori
Neste domingo, no entanto, a presidente do TSJ (Tribunal Supremo de Justiça), Gladys Gutiérrez, afirmou que o ex-presidente não poderá fazer parte da defesa dos opositores porque não pode “exercer como profissional do Direito em uma causa penal em território nacional”, afirmou ao ressaltar que tal ação fere a Constituição.
“Vou acatar a decisão do TSJ de não integrar a defesa de López”, afirmou González nesta segunda durante uma entrevista coletiva concedida à imprensa. Ele ressaltou ainda que tentará participar da audiência de López, caso seja autorizado.
De acordo com a esposa de Ledezma, a audiência preliminar do prefeito de Caracas ocorrerá nesta quarta-feira (09/06). Para a quinta-feira (10/06), está prevista mais uma sessão do julgamento de López — em greve de fome há duas semanas — data em que deverá se encerrar a visita de González.
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Ontem, o espanhol se reuniu com familiares de ambos os presos para conhecer os detalhes da causa e visitou pessoalmente Ledezma, que está em prisão domiciliar após uma cirurgia de hérnia abdominal, realizada em 26 de abril.
“Finalmente, com a autorização, fizemos o encontro muito gratificante e cordial. Tanto o prefeito Ledezma, como eu mesmo, acreditamos que na Venezuela falta diálogo para resolver os problemas, que já há um compromisso do presidente [Nicolás] Maduro de [organizar] as eleições [legislativas], é preciso dialogar, recompor, reconciliar e reconstruir instituições”, afirmou à imprensa após a visita.
Em seu Twitter, o jornalista e cientista político argentino Juan Manuel Karg ironizou a visita: “Felipe González chegou a Caracas para contar a mais de 20 meios de comunicação que na Venezuela há liberdade de imprensa”.
Felipe González llegó a Caracas para contarle a + de 20 medios que en Venezuela no hay libertad de prensa. En fin… pic.twitter.com/eHNkb1R1Qc
— Juan Manuel Karg (@jmkarg) 7 junho 2015
Rechaço
A atitude do espanhol de defender os opositores venezuelanos foi mal recebida pelo governo do país. O parlamento o declarou, no mês passado, 'persona non grata'. De acordo com a imprensa venezuelana, a visita ocorre sem maiores transtornos, apesar de alguns protestos.
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Muito ativa nas redes sociais, a militância chavista realizou um tuitaço nacional com as hastags #FelipeFueraDeAquí (Felipe Fora Daqui) e #VenezuelaSeRespeta (Venezuela deve ser Respeitada) em reprovação à visita de González, considerada uma ingerência na política nacional. Também foram realizadas manifestações em praças de diversas cidades do país.
Agência Efe
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Lembrando as 43 vítimas dos protestos violentos realizados no último ano, Maduro afirmou, neste domingo, que a extrema-direita desde o eixo Bogotá-Madri-Miami se mantém em conspiração contra a Venezuela “para desqualificar o governo revolucionário, assim como dirigentes socialistas e instituições públicas para justificar uma intervenção estrangeira”, disse, fazendo alusão à visita de González.
Em seu Twitter, o mandatário ressaltou ainda que “a extrema direita que deu golpes de Estado na Venezuela pretende impor uma chantagem internacional para que seus crimes fiquem impunes”.
La Derecha Extrema que ha dado Golpes de Estado en Venezuela pretende imponer un chantaje internacional para que queden impunes sus crímenes
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) 7 junho 2015
No passado, “as oligarquias corruptas entregaram o país a máfias espanholas que saquearam a Venezuela, hoje o povo se faz respeitar”, ressaltou o mandatário que já havia denunciado que tal rede internacional realiza uma “guerra psicológica” para gerar temor e angústia entre os venezuelanos através de rumores difundidos na redes sociais e empresas de comunicação.
Situação dos detentos
De acordo com um documento obtido com exclusividade por Opera Mundi, sobre a situação dos políticos presos, Leopoldo López se encontra em uma cela que mede 5,5 metros quadrados e contém: “cama, colchão, almofada, cobertor, geladeira, forno micro-ondas, televisão com decodificador de satélite, biblioteca, mesa, cadeiras, entre outras comodidades”. Além disso, “uma vez por semana, vai à missa, pratica exercícios físicos diariamente”. O detento recebe visitas diariamente: às segundas, terças e quartas é acompanhado por advogados; quintas, sextas, sábados e domingos, recebe familiares. Com relação à saúde, López está “em boas condições”. Ele foi transferido para uma unidade menor porque foi encontrado um aparelho radiocomunicador em sua posse.
Já Ledezma, se encontra em sua casa, onde cumpre prisão domiciliar. A cela que ocupava era de 12 metros quadrados, com banheiro privado e tinha os mesmos equipamentos da que ocupa Ledezma. De acordo com o documento, Ledezma informou à consultora e defensora delegada da área metropolitana que “recebia tratamento digno”. Da mesma forma que López, recebia visitas todos os dias da semana e também era permitida a entrada de objetos pessoais e comida.