Pela primeira vez na história, Cuba teve neste fim de semana um ato público de homossexuais. Pelas ruas de Havana, gays, lésbicas, transexuais e travestis desfilaram e dançaram ao ritmo da conga cubana, em comemoração ao dia contra a homofobia, celebrado em diversos países do mundono sábado (16).
O ambiente era festivo e grande parte dos participantes celebrou os progressos ocorridos em Cuba, mas outros ressaltaram que há ainda um longo caminho a ser percorrido na preservação dos direitos dos homossexuais.
Uma das conquistas é que, em Cuba, os transexuais ganharam o direito de oferecer seus serviços em qualquer localidade – como as prostitutas. Eles também podem ir a escola vestidos de mulher, mas com autorização do governo.
Participantes do dia contra a homofobia, em Havana – Fotos: EFE (16/05/2009)
Javier foi uma das centenas de cubanos que parou para assistir ao desfile que passou pelas principais ruas da capital, “Eu fiquei atordoado, nunca tinha visto nada assim”, disse em entrevista a BBC Mundo.“Os cubanos ainda parecem um pouco chocados por conta dos hábitos machistas enraizados na sociedade. Eu não sou homofóbico”, afirmou Javier, que não quis informar o sobrenome.
Daniela, uma das transexuais presentes no evento, disse que o preconceito ainda é forte, pois muitos homófobos tentam atacá-la na rua e ofendê-la.
Lucia Sotolongo, policial, diz apoiar a livre escolha: “Esta atividade deve ser encarada como normal, eles são parte da nossa sociedade, eles são pessoas como nós, todos nós temos os nossos defeitos.”
“Temos de apoiar os homossexuais, eles são iguais a nós, o fato de terem uma opção sexual diferente não significa que não têm direito ao trabalho e à felicidade”, disseram Adriana Castillo e Ariana Serguera, duas jovens que acompanhavam a marcha.
A diretora do Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex) e organizadora do evento, Mariela Castro, filha de Raúl Castro e importante defensora do direito à opção sexual em Cuba, afirma que para acabar com o preconceito que ainda existe é necessário educar as pessoas e ajudá-las a aceitarem os outros. No evento, as principais envolvidas são as organizações políticas, da Juventude Comunista de Ricardo Alarcon, presidente do Parlamento cubano.
Mariela Castro caminha em Havana
com manifestantes
Revolução e os homossexuais
Há mais de um ano Mariela apresentou ao Parlamento uma lei que prevê determinados direitos às minorias sexuais, como o reconhecimento de uniões entre homossexuais e o direito à herança. O tema não foi discutido no plenário.
“Estamos chamando os cubanos a participar, para que a revolução possa ser mais profunda e incluir todas as necessidades do ser humano”, disse a diretora do Cenesex.
A posição do Estado Revolucionário Cubano nem sempre foi essa. Entre 1965 e 1968, gays eram encarcerados nas Unidades Militares para Ajudar a Produção (UMAPs) entre 1965 e 1968 – campos de trabalho forçado criados para reeducar tendências contra-revolucionárias. Na entrada destes campos, uma placa dizia “o trabalho os tornará homens”.
Em 1979 o regime comunista descriminalizou a homossexualidade entre maiores de 16 anos, mas demonstrações públicas de comportamento “homossexual” continuaram a ser ilegais.
Em junho de 2008 uma marcha organizada sem a sanção do Cenesex foi cancelada momentos antes de começar.
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