O governo do Sri Lanka anunciou hoje (18) a derrota militar dos Tigres de Libertação da Pátria Tâmil (TLPT), com a morte do líder do grupo Vellupillai Prabhakaran e a retomada do controle do último reduto que ainda estava em mãos dos rebeldes. Em entrevista à TV estatal, o porta-voz do Exército Udaya Nanayakkara disse que 250 rebeldes foram mortos durante a noite de domingo e que todo o território disputado, no norte do país, está agora em poder do governo.
Segundo relatos do governo cingalês, os rebeldes tentaram esta manhã abrir uma via de escape para seus líderes, em vão. “Tentar escapar era sua única oportunidade. Agora todos estão mortos e não há nenhum sobrevivente na região”, disse Nanayakkara. Ele também afirmou que o segundo em comando da guerrilha, Pottu Amman, está entre as vítimas do último ataque. “É só uma questão de tempo para identificarmos o cadáver de Prabhakaran”, acrescentou.
Imagem disponibilizada pelo Exército cingalês mostra último reduto do TLPT, no norte do país – EFE
Encurralada em menos de um quilômetro quadrado no povoado de Vellamullivaikkal, a guerrilha tâmil declarou o fim da batalha ontem (17), e anunciou um cessar-fogo unilateral.
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Civis
Os civis foram os principais atingidos na guerra entre as tropas do governo e os rebeldes tâmeis – mais de 50 mil ficaram encurralados em regiões ao norte sob fogo cruzado, sem assistência médica e alimentação e cerca de 6 mil morreram desde a escalada da violência, há três meses, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas). Ao todo, 70 mil pessoas já morreram ao longo dos mais de 20 anos de conflito no país.
O governo afirma ter resgatado os 50 mil civis que continuavam nas áreas de guerrilha antes dos bombardeios do final de semana.
Por outro lado, em comunicado publicado hoje pela manhã no Tamil.net, site do TLPT, a guerrilha denunciou que o Exército realizou um “massacre decidido” contra o último reduto tâmil, onde apenas estavam “mil guerrilheiros feridos, funcionários e civis”. Atualmente, o site se encontra fora do ar.
Desde 1983, o Sri Lanka vive uma situação de guerra civil, protagonizada pelo governo e pelos Tigres, uma organização armada que luta pela criação de um estado independente, que seria chamado de Tamil Eelam, localizado ao norte e ao leste da ilha do Sri Lanka.
Os tâmeis são uma etnia minoritária no país – 13,9% da população total, de 20,2 milhões de habitantes. Os cingaleses são maioria (73,8%).
Resultados
A União Europeia (UE) pediu uma investigação internacional e independente sobre possíveis violações humanitárias na guerra. “Os responsáveis devem ser levados à Justiça”, disseram os ministros do bloco, que também criticaram a guerrilha por usar civis “como escudos humanos” e por recrutá-los à força para o combate.
Quase nenhum órgão internacional pode atuar junto aos civis ou próximo aos locais de combate durante os meses de tensão. A entrada de jornalistas também foi proibida. Somente a Cruz Vermelha Internacional foi autorizada a levar ajuda aos milhares de cingaleses encurralados ao norte. A organização inclusive resgatou alguns utilizando barcos.
O secretário do Ministério de Assuntos Exteriores do Sri Lanka, Palitha Kohona, disse que o Executivo receberá de bom grado qualquer ajuda internacional para os 250 mil tâmeis que se encontram refugiados em campos protegidos pelo governo. Kohona afirmou que não há um calendário para o retorno de todos esses civis a seus povoados, nos quais equipes trabalharão para retirar minas e construir sistemas de condução de água e outras infra-estruturas.
O funcionário do Governo também afirmou que ainda não é possível saber quantos civis morreram no conflito. “Só há denúncias exageradas dos [guerrilheiros do] TLPT, que utilizaram [os civis] para se salvar”, declarou.
Manifestantes em Londres – EFE/Frantzesco Kangaris
Após o anúncio da derrota, centenas de tâmeis e descendentes da etnia residentes na Europa e na Austrália, simpatizantes do TLPT, protestaram contra as ações do governo do Sri Lanka.
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