Com a capital, Quito, como centro das atenções, o Equador realiza neste domingo (23/02) eleições municipais para eleger prefeitos, vice-prefeitos, conselheiros urbanos e rurais e porta-vozes das juntas paroquiais. A disputa entre Augusto Barrera, atual prefeito e dirigente da governista Aliança País, e Mauricio Rodas (SUMA-Vive), político expoente da nova direita equatoriana, deve ser acirrada. As últimas pesquisas apontam um empate entre os candidatos.
Facebook/Augusto Barrera
Barrera (de camisa branca), candidato da governista Aliança País, ao lado do presidente Correa. Político enfrenta Mauricio Rodas
Cerca de 12 milhões de pessoas estão aptas a votar e pelo menos 150 observadores internacionais, assim como representantes da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), da Alba (Aliança Bolivariana Para os Povos de Nossa América), da OEA (Organização dos Estados Americanos), da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), da Liga Árabe e da Comunidade Andina, estão no Equador para acompanhar o pleito.
A campanha de Barrera teve forte participação do presidente Rafael Correa, que chegou a pedir licença de suas funções para se dedicar a apoiar ele e outros candidatos a prefeitos. “Entendamos o que está em jogo: não é o serviço da cidade, é a ponta de lança para tratar de parar a Revolução Cidadã”, afirmou o chefe de Estado sobre a candidatura de Rodas. Para Correa, esse novo campo político que busca se consolidar no país enxerga a prefeitura de Quito como plataforma para projetar suas ambições presidenciais.
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Alfredo Serrano, analista espanhol, aponta em artigo para o Página 12 que se trata de uma jogada no curto prazo, para se alcançar uma conquista a nível nacional no longo prazo. O objetivo da “direita regional”, afirma, é lançar “um novo padrão de candidato, Rodas, que se diz centrista-progressista”.
Rodas participou da última eleição presidencial, ficando em quarto lugar, com menos de 4% dos votos. De acordo com o analista argentino Juan Manuel Karg, em artigo, o candidato se insere em uma estratégia regional, com o objetivo de construir um campo conservador “mais versátil discursivamente e menos confrontativo com algumas ações de caráter social”, características de governos neoliberais. “Esses atores” se retratam como “uma suposta 'renovação política', quando na verdade reúnem “expoentes da política tradicional que os 'antecedeu', o que lhes assegura territorialidade e base social”.
Arquivo/TeleSur
Karg cita exemplos na América Latina dessa nova configuração de forças da direita, “com algumas matizes e diferenças, mas que compartilham um horizonte comum e uma estratégia similar para tentar chegar ao poder”, como Henrique Capriles, na Venezuela, Eduardo Campos, no Brasil e Sergio Massa, na Argentina.
[Rodas e Henrique Capriles, membro da oposição venezuelana]
Além disso, escreve o analista, Rodas recebe orientações de Moisés Naim, membro do diretório do norte-americano NED (Fundação Nacional para a Democracia), da Junta Diretiva do Banco Mundial e ex-ministro da Indústria e Comércio de Carlos Andrés Perez, na Venezuela, conhecido por levar a cabo um governo neoliberal.
A ponte aconteceria por meio do “think thank” Ethos, baseado no México e fundado por Rodas em 2008. Karg cita a agência de notícias equatoriana Andes, que informa que Naim é membro do conselho da Ethos.
Conforme diz a Andes, Rodas foi integrante da juventude social-cristã do Equador, força política de direita que elegeu León Febres Cordero (1984-1988), acusado por uma comissão da verdade de ter instalado um regime de torturas, desaparecimentos forçados e terrorismo de Estado.
As principais propostas do candidato da aliança SUMA-Vive são a redução de multas e impostos, enquanto Barrera promete dar continuidade a obras de infraestrutura , como a instalação do sistema de metrô, orçada em 1,4 bilhões de dólares e cuja inaguração foi prometida para 2016.
Para Serrano, “se a direita de sempre, agora apresentada na versão amigável-light-moderna chega a ganhar em Quito, não terá perdido o candidato da Revolução Cidadã mas será esta que precisará afrontar um representante com poder político dispostos a representar o poder econômico ainda existente no país”. Ainda segundo o analista, “a chave estará em saber se o povo equatoriano, essa vez o quitenho, vota entre Rodas e Barrera, ou prefere, por outra parte, optar entre Correa e a volta do neoliberalismo”.