A polícia espanhola intensificou as patrulhas nas ruas de Ceuta, enclave que pertence à Espanha e que fica na fronteira com o Marrocos, desde a madrugada desta quinta-feira (20/05) à procura de marroquinos que migraram a nado pelo mar Mediterrâneo para a cidade nos últimos quatro dias.
A ação, acordada com o governo do Marrocos, faz parte de uma operação empreendida pelo governo espanhol desde segunda-feira (17/05) para impedir a entrada dessas pessoas no país. Os militares da Espanha utilizaram veículos blindados e cassetetes para barrar migrantes na praia da região.
Segundo o jornal El País, o patrulhamento policial resulta de um acordo firmado entre Madri e o governo do Marrocos que prevê a abertura da fronteira entre os dois países a cada duas horas para permitir o retorno de 40 a 50 pessoas.
Cerca de 8 mil migrantes conseguiram entrar em Ceuta desde segunda-feira. De acordo com a imprensa espanhola, a massiva onda migratória foi beneficiada por um relaxamento de controle por parte do Marrocos. Isso porque o país teria desaprovado uma assistência médica prestada pela Espanha ao líder independentista do Saara Ocidental, Brahim Ghali, território em disputa com o Estado marroquino.
Segundo autoridades espanholas, 5,6 mil pessoas já retornaram aos seus territórios.
Images of Spanish soldiers beating migrants/refugees and throwing them into the sea on the Moroccan border. #EU #HumanRightspic.twitter.com/i5E634U1yi
— Josep Goded (@josepgoded) May 18, 2021
Episódios de repressão por parte da polícia espanhola contra os migrantes foram reportados pelas redes sociais. À Reuters, uma fonte do Ministério do Interior espanhol disse que “em nenhuma circunstância as forças de segurança usam de violência contra eles e, no caso de Ceuta, a polícia tem passado grande parte do seu tempo a ajudar pessoas que precisam de ajuda”.
Red Cross/ Reprodução Twitter
Voluntária da Cruz Vermelha espanhola acolhe migrante marroquino
Crise diplomática
O tribunal superior da Espanha entregou ao líder independentista do Saara Ocidental, Brahim Ghali, nesta quarta-feira (19/05) uma intimação para uma audiência preliminar em um caso de supostos crimes de guerra.
A convocação é o primeiro passo para um possível julgamento do líder da Frente Polisario, cuja internação em um hospital espanhol para tratamento no mês passado teria provocado um descontentamento no governo do Marrocos. Ghali se recusou a assinar a convocação.
Segundo o portal Monitor do Oriente Médio, uma fonte próxima à investigação judicial disse que ele pode não comparecer, pois está portando um passaporte diplomático argelino, o que pode lhe garante imunidade. A notícia da convocação chega depois da onda de migrantes que rumou ao enclave espanhol de Ceuta, no norte da África.
Na noite de terça-feira, o Ministro de Estado dos Direitos Humanos do Marrocos, El Mustapha Ramid, sugeriu que o país tinha justificativa para relaxar os controles de fronteira devido à hospitalização de Ghali. A Espanha concordou em permitir a hospitalização de Ghali em Logroño, norte da Espanha, como um “gesto humanitário”.
O Saara Ocidental é um território disputado pelo Marrocos desde meados da década de 1970, pelo qual a Frente Polisário, apoiada pela Argélia, tem lutado para garantir a independência. Antes disso, estava sob controle espanhol.
Segundo a intimação, Ghali e outros líderes do grupo são acusados de genocídio, assassinato, terrorismo, tortura e desaparecimentos.
O Marrocos tem trabalhado nos últimos anos com a Espanha, seu maior parceiro comercial, para reprimir os fluxos de migrantes para Ceuta e outro enclave espanhol, Melilla, através do Estreito de Gibraltar.
(*) Com Monitor do Oriente.