O líder do Partido Popular (PP) da Espanha, Alberto Núñez Feijóo, se encontrou nesta quarta-feira (30/08) com o atual primeiro-ministro Pedro Sánchez, numa tentativa de selar um acordo para a formação de um novo governo, a partir do resultado da eleição do dia 23 de julho.
O pleito realizado há pouco mais de um mês terminou com a legenda conservadora como a mais votada. Porém, seu percentual de votos lhe permitiu eleger 136 cadeiras no Congresso, 40 a menos que as 176 necessárias para ter maioria simples e formar governo. Tampouco seria possível em uma aliança natural com o partido de extrema direita Vox, que elegeu 33 representantes.
Após mais de um mês de negociações, Feijóo tentou uma jogada ousada, ao propor ao Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE), do premiê Sánchez, um acordo para um governo fracionado, que seria liderado pelo PP, mas que defenderia um programa em comum pactado entre os dois partidos, incluindo algumas demandas dos socialistas.
Essa fórmula também agregaria um compromisso do PP em convocar novas eleições para novembro de 2025, o que faria deste um mandato de apenas dois anos, e não os usuais quatro anos.
Porém, Sánchez chegou à reunião com uma resposta pronta dos socialistas, que rejeitaram a oferta conservadora.
Ainda assim, o PP espera conseguir apoio de outras forças políticas a essa alternativa, em negociações com o Vox e com as legendas independentistas de direita da Catalunha (Junts) e do País Basco (PNV), que elegeram 7 e 5 deputados, respectivamente. Essa possível aliança conformaria uma bancada de 182 representantes, suficiente para formar um governo.
Governo da Espanha
Feijóo e Sánchez não chegaram a um acordo para formação de um governo fracionado entre conservadores e socialistas, proposto pelo PP
Porém, a possibilidade de unir os setores independentistas e o Vox em uma mesma frente é pequena, já que um dos elementos do discurso da extrema direita espanhola é sua forte oposição a esses grupos, considerados por eles como “terroristas”. A iniciativa de buscar apoio no PSOE, aliás, é vista por boa parte da imprensa espanhola como um reconhecimento do PP de que outra forma de alcançar maioria é inviável.
Por sua vez, o PSOE também tenta formar uma maioria para manter Sánchez no poder. Os socialistas elegeram 122 representantes e poderiam buscar uma coalizão com o Movimento Somar, legenda de esquerda que herdou o eleitorado do extinto Podemos e que obteve 31 vagas no parlamente em 23 de julho.
Ainda assim, essa fórmula necessitaria do apoio dos independentistas de esquerda, incluindo a Esquerda Republicana Catalã (ERC), que conseguiu sete cadeiras, e a esquerda basca (EH Bildu), que obteve cinco, e também dos independentistas de direita, Junts e PNV.
O maior problema seria o apoio do Junts, partido que anunciou uma clara condição para conceder seu apoio, seja ao PP ou ao PSOE: a anistia aos nove ex-parlamentares catalães que estão presos ou exilados por seu apoio ao referendo independentista de 2017, considerado pela direita como um “golpe separatista”.
Esse apoio também custaria muito a Sánchez, que mantém uma postura claramente crítica ao independentismo catalão, recusando todos os pedidos de indulto apresentados pelo Junts nos últimos quatro anos.
Caso o impasse se mantenha nas próximas semanas, o premiê Sánchez poderia se ver obrigado a convocar uma nova eleição para o mês de novembro.