O Mundial de natação de Roma, encerrado no primeiro domingo de agosto, deu fim à curta era dos maiôs que aceleram os atletas na piscina graças à redução do atrito. Na próxima competição de alto nível os artefatos já não estarão presentes e até lá muitos dos recordes estabelecidos com eles correm risco de ser derrubados pela Federação Internacional de Natação (Fina).
O nadador brasileiro César Cielo celebra vitória na final dos 100 m livres, em Roma – Ettore Ferrari/EFE (30/07/2009)
A partir de abril de 2010, apenas trajes de material têxtil, e não mais de poliuretano, serão aceitos nas competições oficiais. Os homens serão obrigados a usar uma bermuda até os joelhos a partir de setembro. As mulheres terão permissão para vestir um maiô até o joelho, cavado nos ombros. Essa nova fase vem logo depois do Mundial em que apenas um recorde sobreviveu ao domínio dos maiôs: o da americana Kate Ziegler nos 1,500 m, batido em 2006.
“É pouco provável que nos próximos anos alguém consiga bater essas marcas obtidas com o maiô”, disse ao Opera Mundi o ex-nadador e jornalista Neil Weiner, que acompanha natação para jornais ingleses. “Trata-se de uma clara derrota das fabricantes, que esperavam transformar a natação em outro esporte, parecido com o automobilismo, no qual o seu carro importa mais do que sua capacidade individual de conseguir resultados”.
A Fina foi criticada por quase todas as principais federações nacionais antes de se definir nas últimas semanas pela proibição aos maiôs que ajudaram na quebra de 108 recordes no ano passado. O material de poliuretano das vestimentas permite ao atleta boiar mais e a deslizar melhor e mais rápido na água.
“Nenhum nadador estará autorizado a usar ou vestir qualquer dispositivo ou maiô que possa aumentar a velocidade, flutuação ou resistência durante uma competição”, definiu a entidade antes da despedida do material em Roma. Os recordes estabelecidos ali, diz a Fina, poderão vir acompanhados de asteriscos para apontar a influência do maiô para o resultado.
O novo presidente da entidade reafirmou a decisão durante o Mundial em Roma. “Precisamos controlar. As novas regras foram claras e vamos adotá-las. Agora será criada uma comissão com os cinco continentes para discutir sobre as questões do controle”, afirmou Júlio Maglione. A medida deve abalar as fabricantes dos maiôs Jaked 01 e X-Glide, que ajudaram até a afetar o desempenho do maior nadador de todos os tempos, o norte-americano Michael Phelps, na disputa na Itália.
Dois segundos
Em Roma até o nadador que ganhou oito medalhas de ouro nas Olimpíadas de Pequim sofreu. Na disputa dos 400m livre, Phelps foi superado pelo alemão Paul Biedermann, que bateu marca histórica da prova sem nem treinar essa distância. Tudo graças ao maiô de alta tecnologia. “Estava focado nos 200m. Acho que a velocidade ajudou. Mas sei que o maiô me deu uns dois segundos”, disse o campeão.
O brasileiro Cesar Cielo, campeão olímpico nos 50m, deixou Roma como o principal velocista do mundo: foi nos 100 m livre, com novo recorde mundial (46s91) e na sequência igualou o russo Alexander Popov com a vitória nos 50 m livre, com 21s08, novo recorde do campeonato e sul-americano. O maiô também o ajudou a não perder tempo diante de seu principal adversário, o francês Fred Bousquet.
Enquanto nadadores menos conhecidos como Biederman elogiavam os novos maiôs que permitiram a ele chegar ao topo do pódio em Roma, a maior estrela da natação ameaçou por meses boicotar todas as competições enquanto os supermaiôs não fossem banidos.
Por conta de um acordo de patrocínio, Phelps não usou em Roma um maiô tão moderno quanto o do rival alemão. Mesmo assim, conseguiu cinco medalhas. Com o maiô mais moderno, apontaram, estimativas, ele poderia ter sido campeão de mais uma ou duas provas.
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