As duas câmaras do Congresso dos Estados Unidos aprovaram o mais ambicioso orçamento na história do país, que soma 3,5 trilhões de dólares (7,7 trilhões de reais). O orçamento brasileiro, apenas como parâmetro de comparação, é de cerca de 1,6 trilhão de reais.
Para a maioria dos democratas, o valor aprovado no Congresso é o símbolo das grandes decisões necessárias para se sair da crise, a espinha dorsal do plano de governo de Barack Obama, na qual ele empenhou seu capital político. Para os republicanos, uma perigosa guinada à esquerda.
Sua aprovação, na madrugada de quinta para sexta-feira desta semana, não foi uma tarefa fácil, porque além da oposição dos republicanos, não houve unanimidade entre os democratas. Na Câmara de Deputados, o orçamento foi aprovado por 233 a 196, com a oposição de 20 democratas. No Senado, o placar foi 55 a 43, com dois democratas votando contra.
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Um dos deputados democratas que votaram contra foi Betsy Markey, uma novata na Câmara que explicou numa entrevista coletiva a sua posição. “Estudei todo o orçamento, mas não pude votar a favor. Fui eleita para devolver aos norte-americanos uma responsabilidade fiscal e penso que o Congresso deve ser mais agressivo nos cortes do déficit federal. Neste momento em que as famílias estão apertando o cinto, devemos cortar muito mais o desperdício governamental”.
Mais ou menos o mesmo pensa o senador democrata pelo Nebraska, Ben Nelson, que se queixou do gigantismo do orçamento. “É verdade que esta administração herdou números vermelhos na economia. Mas este orçamento apresenta um déficit de 1 trilhão de dólares para os próximos dois anos e aumenta consideravelmente a dívida [pública]. Vivemos tempos difíceis e o governo deve aprender com as famílias norte-americanas e cortar as despesas”.
Mas, em termos gerais, tanto deputados quanto senadores votaram de acordo com seus partidos.
O orçamento está desenhado de uma forma que obriga os congressistas a aprovar, nos próximos meses, leis que determinem o investimento da maior parte desses fundos na expansão da cobertura de saúde pública para pessoas sem seguro, em áreas como energia e meio ambiente e no aumento dos empréstimos para educação, todas promessas de campanha do presidente.
Em termos gerais, está focado tanto no corte e criação de impostos como no crescimento de gabinetes governamentais que prestam diretamente serviços sociais à população. Aí residem duas das principais críticas dos republicanos, que consideram o orçamento como um “manifesto indiferente ao perigo” que serve apenas para aumentar o tamanho do governo.
“Isso representa uma virada, dramática e potencialmente irreversível, rumo à esquerda no nosso país, em áreas como saúde, educação e propriedade privada”, comentou o líder republicano no Senado, Mitch McConnell.
Hora de “arregaçar as mangas”
Para os democratas, o orçamento reflete as necessidades do país em momentos de crise. “Não tenho dúvidas em afirmar que os democratas na Câmara e no Senado estão ombro a ombro com um presidente que apenas quer tomar as decisões que este país precisa para ir em frente. Os republicanos tem de perceber que chegou o momento de arregaçar as mangas e trabalhar”, disse o deputado Chris Van Hollen, arquiteto da estratégia de aproximação com o eleitorado, que Obama adotou durante a campanha presidencial.
Os dois projetos vão agora a uma comissão de reconciliação, que tratará de limar suas divergências em assuntos como saúde, no qual não há acordo sobre como aplicar os fundos sem criar um déficit de 1 trilhão de dólares a mais na próxima década.
Também há divergências entre as duas câmaras na questão do estabelecimento de limites às emissões de gases tóxicos. Obama quer cobrar impostos de empresas para financiar o programa.
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