Em discurso nesta quarta-feira (28/12), o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou que a solução para o conflito palestino-israelense determinado pela ONU — a existência de dois Estados soberanos, que implicaria na criação do Estado palestino — “corre risco” devido à expansão dos assentamentos israelenses em áreas palestinas ocupadas.
“A verdade é que a violência, o terrorismo, a expansão dos assentamentos e a ocupação que parece não ter fim, estão se juntando para destruir a esperança da paz nos dois lados e cimentando a realidade de um único Estado e uma ocupação perpétua”, afirmou Kerry no discurso.
Agência Efe
Em discurso, John Kerry condenou política de assentamentos de Israel
O secretário disse ainda estar frustrado com as posições do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, que apoia e autoriza a criação de assentamentos em “localizações estratégicas que impossibilitam a existência de dois Estados”.
“O primeiro-ministro de Israel apoia publicamente a construção de dois Estados, mas sua atual coalizão é a mais conservadora da história israelense (…). O resultado é que as políticas deste governo — que o próprio primeiro-ministro descreveu como 'o mais comprometido com assentamentos em toda a história de Israel' — estão levando para a direção oposta, em direção a um único Estado”, afirmou John Kerry.
Atualmente, EUA e Israel vivem um momento de tensão, após o governo norte-americano se abster, pela primeira vez em oito anos, da votação no Conselho de Segurança da ONU que aprovou uma resolução condenando a política de assentamentos em território palestino promovido pelo governo de Israel.
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Na ocasião, a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Powers, justificou a posição do país como consistente com as políticas norte-americanas, visto que Washington considera os assentamentos ilegais.
O próprio secretário de Estado defendeu a abstenção dos EUA no Conselho de Segurança, apesar de dizer não estar de acordo “com todos os aspectos” da resolução.
Nesta quarta-feira, ele voltou a justificar as decisões do governo norte-americano, dizendo que “os Estados Unidos não podem continuar defendendo Israel se permitirmos que uma solução viável de dois Estados seja destruída diante de nossos olhos”.
O pronunciamento de Kerry ocorre apenas 23 dias antes de a administração do presidente Barack Obama ser substituída pela do presidente eleito Donald Trump, que já prometeu estreitar os laços entre os EUA e Israel.
Trump chegou até a comentar o discurso do atual secretário de Estado por meio de sua conta no Twitter, dizendo que “não podemos continuar deixando que Israel seja tratado com total desdém e desrespeito. Eles [israelenses] costumavam ter um grande amigo nos EUA, mas agora não têm mais. Continuem fortes, Israel, 20 de janeiro [data da posse do republicano] está se aproximando rápido”.
We cannot continue to let Israel be treated with such total disdain and disrespect. They used to have a great friend in the U.S., but…….
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 28 de dezembro de 2016
Kerry, por sua vez, mencionou a amizade entre os EUA e Israel em seu discurso, afirmando que “amigos precisam dizer um ao outro duras verdades, e amizades requerem respeito mútuo”.
“Alguns acreditam que a amizade entre os EUA e Israel significa que os EUA devem aceitar qualquer política, independentemente dos nossos próprios interesses, de nossas próprias posições, de nossas próprias palavras, de nossos próprios princípios — mesmo após pedir diversas vezes que essas políticas mudem”, disse Kerry.
Netanyahu ainda não comentou o discurso do secretário de Estado norte-americano, mas agradeceu o apoio de Donald Trump também por meio do Twitter. Além disso, nesta quarta, o governo israelense suspendeu a expansão dos assentamentos na parte palestina de Jerusalém para evitar novos choques com os EUA.
President-elect Trump, thank you for your warm friendship and your clear-cut support for Israel! 🇮🇱🇺🇸@IvankaTrump @DonaldJTrumpJr https://t.co/lURPimG0wS
— Benjamin Netanyahu (@netanyahu) 28 de dezembro de 2016