O ex-presidente boliviano Evo Morales chegou por volta das 14h20 (hora de Brasília) no aeroporto da Cidade do México, após receber asilo político do governo do presidente Andrés Manuel López Obrador. Morales e o ex-vice da Bolívia, Álvaro García Linera, foram recepcionados pelo chanceler mexicano Marcelo Ebrard.
Morales fez um pronunciamento logo depois de pousar e falou sobre o golpe de Estado que sofreu. “O triunfo da eleição no primeiro turno foi onde começou o golpe de Estado na Bolívia”, disse.
“Quero dizer que estamos agradecidos ao presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, por estarmos aqui agora. (…) No sábado (09/11), quando chegava na zona do trópico de Cochabamba, um membro da equipe de segurança do Exército me informou e me deixou ler mensagens que pediam que ele me entregasse por 50 mil dólares, um dia antes da renúncia. E por isso estamos muito agradecidos pois salvaram nossa vida”, afirmou.
O boliviano disse que “não vai mudar por causa do golpe” e que irá continuar “trabalhando pelos mais humildes”. “É um momento para me fortalecer para voltar a Bolívia e ao mundo”, afirmou. Morales denunciou, também, episódios de violência contra ele e outras autoridades. “Eles [oposicionistas] queimaram tribunais, atas de eleições e queimaram casas. Saquearam e atearam fogo na casa da minha irmã e na minha em Cochabamba.”
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A viagem entre Assunção – onde o avião fez uma escala – e a Cidade do México durou cerca de 9 horas. Ebrard disse que, por segurança, o local onde Morales terá sua residência no México não será revelado.
Negociações
Segundo Ebrard, em entrevista coletiva à imprensa pouco antes da chegada de Morales, houve atraso por “questões operacionais e técnicas” que foram resolvidas sob intervenção do presidente eleito na Argentina, Alberto Fernández.
“O avião [na ida] parou em Lima, no Peru, e teve que esperar para solicitar as licenças correspondentes, algo muito complexo por causa da situação e não se sabe quem decide o que”, afirmou Ebrard.
ABI
Morales chegou ao México na tarde desta terça
“A permissão foi concedida e, quando chegaram à Bolívia, disseram que não era válida e que não podiam aterrissar. Eles tiveram que retornar a Lima e esperar várias horas, mas graças à intervenção de nossa embaixadora, subsecretário e um servidor, conseguimos uma permissão com o comando, que mostra quem tem força lá”, disse.
O chanceler detalhou as complicações existentes para deixar a Bolívia com o ex-presidente, uma vez que era complexo obter permissão das autoridades bolivianas para usar o espaço aéreo.
Ele disse que a negociação foi realizada com as autoridades diplomáticas mexicanas e as autoridades militares bolivianas, já que, segundo Ebrard, são as Forças Armadas que têm o controle do país após a renúncia de Morales.
Segundo o chanceler, o avião da Força Aérea mexicana decolou às duas da manhã em direção ao México, saindo do Paraguai. O avião foi impedido
. As “viagens”, como Ebrard classificou as negociações diplomáticas, fizera com que a aeronave sobrevoasse águas internacionais.
México “orgulhoso”
Em relação à decisão do México de asilar Morales, Ebrard disse que é um “orgulho” conceder o direito de asilo a políticos perseguidos e é uma tradição que deve ser mantida. “Este é um governo diferente e estamos agindo de forma diferente. Sem dúvida, isso terá um impacto e marcará posições na América Latina, onde o México posiciona sua liderança”, afirmou.
Ebrard ainda ressaltou a tradição mexicana de dar asilo a figuras políticas perseguidas. Segundo ele, o direito de asilo é para proteger a vida de pessoas em perigo e não fazer avaliações de qualquer tipo de processos políticos internos de cada país.
Veja o momento da chegada de Evo Morales ao México: