O ex-presidente bósnio Radovan Karadzic passou a responder a duas acusações de genocídio, em vez de uma, no Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), na cidade holandesa de Haia. A corte aceitou acrescentar ao processo a acusação pelo massacre de 8 mil muçulmanos na cidade bósnia de Srebrenica, em 1995.
Uma moção para acrescentar quatro novas acusações, porém, foi rejeitada pelos juízes, que consideraram as provas insuficientes. Em seguida, a promotoria apresentou uma segunda acusação emendada, por mais um suposto assassinato. Isso ocorreu no último dia 18. Ainda não há data para o início do julgamento.
Karadzic compareceu a uma audiência preliminar no dia 20, para se declarar inocente ou culpado das acusações. Mas o juiz da fase prévia do julgamento, Ian Bonomy, adiou a declaração, necessária para o início do julgamento. “Estamos à espera de decisão sobre o pedido da promotoria”, explicou. Espera-se que haja outra audiência preliminar no prazo de duas semanas.
O ex-líder dos sérvios da Bósnia tem uma semana para contestar o pedido dos promotores de acrescentar uma nova acusação. Ele esclareceu que sua resposta contestará a amplitude da acusação, o que tende a retardar o processo. “Acho que esse julgamento será muito longo”.
Karadzic, chamado pelos mais críticos de “carniceiro de Belgrado”, já respondia por outros crimes cometidos na guerra da Bósnia (1992-1996) e por cumplicidade com genocídio e violação grave da Convenção de Genebra. Além do assassinato de muçulmanos em Srebrenica, é acusado pelo cerco a Sarajevo, no qual morreram milhares de pessoas.
Desaparecido desde 1997, foi preso no dia 21 de julho de 2008 na Sérvia, quando viajava em um ônibus por Belgrado, fazendo-se passar pelo médico Dragan Dabic.
O conflito
Em 29 de fevereiro de 1992, muçulmanos e croatas da Bósnia votam pela independência em relação à antiga Iugoslávia, em um referendo boicotado pelos sérvios e reconhecido pela União Européia. A Guerra da Bósnia começa quando nacionalistas sérvios tentam evitar a separação, que contraria seus planos de formar a “Grande Sérvia”, um país próprio.
Sob a liderança de Karadzic, os sérvios cercam a capital Sarajevo em 6 de abril de 1992 e ocupam 70% do país, matando e perseguindo muçulmanos e croatas. A ONU e os Estados Unidos tentam mediar acordos, que duram pouco tempo, até que em 11 de julho de 1995 tropas servo-bósnias lideradas pelo general Ratko Mladic tomam a área de segurança da ONU em Srebrenica. Na semana seguinte, cerca de 8.000 homens e meninos muçulmanos são mortos. Karadzic e Mladic são indiciados pelo tribunal em Haia pelo cerco a Sarajevo.
Em agosto do mesmo ano, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) bombardeia tropas servo-bósnias. O conflito termina oficialmente em 14 de dezembro, quando Alija Izetbegovic (líder muçulmano da Bósnia), Franjo Tudjman (líder da Croácia) e Slobodan Milosevic (da Sérvia) aceitam um acordo mediado pelos EUA em Dayton (Ohio), permitindo a entrada de 60 mil soldados da Otan na Bósnia.
A região é formada atualmente por seis repúblicas (Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia) e duas províncias autônomas (Kosovo, de população albanesa, e Voivodina, habitada majoritariamente por húngaros).
O conflito deixou cerca de 200 mil mortos e 1,8 milhão de refugiados.
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