Os sinais na estrada advertem para ter cuidado com a neblina. Aqui na Serra Norte de Puebla sempre há neblina e chuva. E também por estas condições geológicas e atmosféricas aqui em 1903 foi construída a primera central hidroelétrica do México e uma das primeiras da América Latina. Em volta das usinas foi sendo constituído um povoado, Necaxa, que agora é uma cidade. A cidade dos eletricistas, onde 90% dos habitantes trabalhavam para a companhia LyFC (Luz y Fuerza del Centro), liquidada por um decreto do presidente Felipe Calderón no último dia 12 de outubro.
Todas as usinas foram ocupadas pela forças federais de segurança no dia 11 de outubro às 8 da noite, quando a mayoria dos trabalhadores não estava. “Mas, se você olhar bem, são militares disfarçados de polícia federal. Os fuzis são M16 militares, fuzis de assalto não de uso da polícia, mas do exército, com o número de matricula e as listras verdes. Os uniformes são novíssimos e eu não me surpreenderia se até fossem falsos. Fizeram tudo depressa porque não podiam pôr agentes da PFP (Polícia Federal mexicana) em todas as instalações da LyFC do país. O que ocorre é que isto não é tarefa do exército. Então disfarçaram-nos de policiais federais”, relata Juan Manuel, um aposentado da empresa e dirigente do Sindicato Mexicano de Eletricistas (SME), o sindicato mais antigo e aguerrido do país.
Operários demitidos em Necaxa, onde 90% dos trabalhadores são do setor elétrico
Necaxa é o simbolo da situação dos eletricistas no México. “Esta cidade está paralizada. Tudo o que temos aqui se devemos a este sindicato e a esta empresa”, confirma o prefeito da cidade, Luís Gerardo Martínez Gómez. Os 10% restantes dos trabalhadores locais são comerciantes que dependem totalmente dos eletricistas. “O governador do estado de Puebla se disse disposto a financiar planos de emprego temporário de três meses para evitar um êxodo, mas eu não estou otimista. Acho que em breve Necaxa vai virar uma cidade-fantasma. E acontecerá o mesmo com a maioria das cidadezinhas da região, onde há outras hidroelétricas. Todos os jovens e chefes de família terão que ir embora daqui para procurar trabalho em outro lado. A economia desta comunidade está destruída. Antes, um açougueiro matava no mínimo três animais por semana. Na última semana, matou só um, e ainda sobrou carne”.
Os poucos comerciantes da cidade apoiam a luta do SME, participam das passeatas como se fossem eletricistas também. Os preços já caíram pela metade. Os taxistas estão parados e não têm clientes.
“Esta é a cidade dos eletricistas”, explica, com dor, Isabel, que vende café e pão doce perto da sede do sindicato. “Embora minha familia não seja de eletricistas, o drama me envolve. Para quem vou vender o meu café e meus pães, além dos jornalistas? Todos estamos na mesma situação”.
Os olhares dos trabalhadores na assembléia sindical na sede histórica do SME trasmitem raiva, desilusão e impotência, além de muita surpresa. Ninguém pensava que algo assim pudesse acontecer.
Segunda parte: Solidariedade se mantém acesa em Necaxa
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