A rede de lojas Fnac da França anunciou a retirada das prateleiras do jogo de tabuleiro “Antifa” criado por um coletivo antifascista. A decisão ocorreu após críticas de vários políticos do partido de extrema direita Reunião Nacional e de um sindicato da polícia francesa.
“Afirmações racistas, manifestações homofóbicas, violências fascistas, chega: joguem contra a extrema direita!”, propõe “Antifa – O Jogo”, vendido pelas lojas Fnac até o último fim de semana. A embalagem explica que a brincadeira de simulação cooperativa aceita de 2 a 6 participantes a cada partida.
Quem lançou a polêmica foi o Sindicato dos Comissários da Polícia Nacional (SCPN), que junto a uma foto da caixa do jogo, protestou contra a Fnac no Twitter, no último sábado (26/11). “Fnac, o que você tem a dizer por destacar os antifas, que quebram, incendiam, a agridem nas manifestações?”, publicou.
No domingo (27/11), a rede de lojas respondeu ao SCPN, também no Twitter: “Compreendemos que a comercialização deste jogo possa ter ofendido alguns dos nossos públicos. Estamos fazendo o necessário para que ele não esteja mais disponível nas próximas horas”.
A promessa foi cumprida. Depois de ser retirado das prateleiras da Fnac, “Antifa” deixou se estar disponível para a venda online na segunda-feira (28/11). No entanto, a polêmica teve sequência, depois que vários políticos do partido de extrema direita Reunião Nacional resolveram se pronunciar sobre o assunto.
“Casa 1: bloqueio uma universidade; casa 2: “espanco um militante de direita”; casa 3: “ataco um comício do Reunião Nacional”, casa 4: “lanço um coquetel molotov contra a polícia. Fnac, você não tem vergonha?”, tuitou o deputado de extrema direita, Grégoire de Fournas. O político esteve recentemente no centro de uma polêmica na França, ao proferir uma frase racista na Assembleia Francesa.
“Dar destaque aos antifas, esse grupo raivoso que utiliza a violência apenas para atacar a nossa democracia e ao que temos de melhor em nosso país… Absolutamente escandaloso!”, tuitou outro deputado do Reunião Nacional, Victor Catteau.
Librairie Kléber/Twitter
O jogo antifa foi alvo de reclamações da extrema direita da França e teve que ser retirado do catálogo da FNAC
Fabricante e criador do jogo protestam
A editora independente Libertalia, responsável pela fabricação do jogo, bem como o coletivo La Horde, criador do “Antifa”, denunciaram serem vítimas de censura, após “alegações mentirosas da extrema direita”. “Vocês não nos calarão”, tuitou a Libertalia.
Em seu site, a editora apresenta “Antifa – O Jogo” como “uma brincadeira de simulação e de gestão” na qual os participantes encarnam “um grupo antifascista local”, colocando em prática “ações que demandam tempo, meios e um pouco de organização”.
Em entrevista ao jornal Le Monde, Hervé de la Horde, autor do jogo, se defendeu das acusações da extrema direita, afirmando “a iniciativa de diabolizar os antifas”. “Em nenhum momento o jogo incita o ataque às pessoas. Pode haver danos a propriedades, mas nunca às pessoas”, diz.
Nicolas Norrito, cofundador da Libertalia se diz “chocado” com a decisão da Fnac, que se dobrou às exigências do partido Reunião Nacional e de um sindicato policial. “Lamentamos que a posição da Fnac, uma rede que foi fundada por dois antifascistas, um dos quais – Max Théret – foi combater contra as tropas de Franco na Espanha em 1936”, disse ao jornal Le Monde.
Muitos internautas também protestaram contra a decisão da Fnac. Vários questionam a retirada do jogo das prateleiras, ao mesmo tempo em que “Mein Kampf” (Minha Luta), de Adolf Hitler, é vendido pela rede de lojas. Segundo a Libertalia, um novo lote de “Antifa”, estará disponível a partir de janeiro de 2023 em seu site.
Na tarde de segunda-feira, a Libertalia comemorou a notoriedade que a polêmica proporcionou ao jogo. Cerca de quatro mil exemplares da nova edição colocados à venda no site da editora há um mês se esgotaram rapidamente.
Outras lojas onde o “Antifa” ainda está disponível aproveitaram para chamar a atenção de quem quer adquiri-lo. É o caso da livraria Kléber, em Estrasburgo, no nordeste da França. “Caso vocês se interessem, ainda temos!”, tuitou junto a uma foto do jogo.
Questionada pela RFI Brasil, a gerente das edições Libertalia autorizou o uso da imagem do jogo e avisou não poder responder emails dado o volume de encomendas e demandas de imprensa causado pelo episódio.