Fundador da Blackwater treinou mercenários em bases do exército colombiano
Fundador da Blackwater treinou mercenários em bases do exército colombiano
Uma reportagem do jornal norte-americano The New York Times revelou esta semana que a família real dos Emirados Árabes Unidos contratou o norte-americano Erik Prince, criador da controversa empresa de mercenários Blackwater, para criar um exército particular. Segundo o veículo, as forças militares encomendadas contam agora com quase 800 homens, em sua maioria, colombianos. De acordo com a revista colombiana Semana, eles foram treinados em bases do exército colombiano.
Wikicommons
Erik Prince, fundador da empresa Blackwater Worldwide
A Blackwater é investigada por diversas denúncias de violação de direitos humanos na invasão norte-americana ao Iraque, empreendida desde 2003, e ao Afeganistão, em 2001. A empresa foi contratada pelo governo dos Estados Unidos para atuar em operações nesses países.
Os Emirados Árabes Unidos, apesar de ricos, têm um exército de dimensões modestas e pouco treinado. Conforme relatou o NYT, a família real estaria cada vez mais assustada com a chamada “primavera árabe”, as manifestações populares por mudanças em outros países da região. Com isso, recorreram à Blackwater — rebatizada de Xe Service.
De acordo com a reportagem, a Xe Service criou a Thor Global Enterprise nas Ilhas Virgens Britânicas — próximas a Porto Rico — com a intenção de recrutar mercenários na América Latina. Na Colômbia, foi criada uma página na rede social Facebook para recrutamento chamada “Thor Colombia”, na qual militares e policiais em serviço ou afastados e pessoas comuns se candidataram para os testes de admissão.
Um contingente de colombianos ingressou em novembro do ano passado no país, com contratos de trabalhadores da construção civil, diz a reportagem. Eles foram alojados em um complexo militar provisório, chamado Cidade Zayed e receberam um pagamento diário de 150 dólares, de acordo com o NYT.
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O recrutamento acontecia na sede de uma empresa colombiana em Bogotá, a Fortox S.A. Um dos sócios seria José Arturo Zuluaga Jaramillo, que há cinco anos era o titular de uma empresa onde, no mesmo endereço, colombianos eram recrutados para a Blackwater. No entanto, aquele esquema, que parecia vantajoso — o salário prometido era de quatro mil dólares –, era na verdade um golpe. Os mercenários recebiam somente parte do dinheiro, enquanto eram obrigados a vigiar bases em Bagdá.
Bases colombianas
Além disso, a Fortox não tem licença para atividades militares na
Colômbia, nem para recrutar pessoal de segurança privada, mas uma
reportagem da Semana — realizada após a denúncia feita pelo NYT essa semana –,
revelou que esses treinamentos eram feitos em bases regulares do Exército colombiano, conforme mostram fotos,
tiradas no Comando Conjunto de Operações Especiais da base de
Facatativá. Nelas, é possível ver o recrutador de Blackwater Robert Bowen
com outros norte-americanos e colombianos.
De acordo com o NYT, Washington tinha conhecimento do projeto da Blackwater para Abu Dhabi e foi totalmente complacente, pois considera as forças militares árabes “inexperientes”, apesar de um contingente do reino ter formado parte dos exércitos aliados que apoiaram a ocupação no Iraque.
As leis norte-americanas exigem que os cidadãos do país obtenham uma autorização do Departamento de Defesa para capacitar combatentes estrangeiros. Contudo, o porta-voz do Pentágono, Mark Toner, afirmou que, com relação a Abu Dhabi e à nova empresa de Prince, “existe uma investigação” em andamento. Segundo ele, no ano passado, justamente por treinar e utilizar no Iraque mercenários da Colômbia e
das Filipinas sem autorização, a Blackwater foi condenada a
pagar uma multa de 42 milhões de dólares.
Baixa qualidade
Segundo Daniel Coronell, editor da Semana e diretor do site de notícias Univisión, que se ocupou da recente investigação, “não há militares colombianos em Abu Dabi. São ex-militares, muitos deles com péssimo treinamento, servindo como mercenários. Outros não têm nenhuma preparação militar e trabalham como vigilantes. Envolveram-se apenas porque foram iludidos com a promessa de muito dinheiro”.
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De acordo com Coronell, estas pessoas se tratam de soldados improvisados que recebem um treinamento rápido e superficial e que, após poucos dias, viajam para os Emirados.
O baixo nível dos mercenários colombianos, afirma o NYT, está afetando o negócio de Prince com o xeque Mohamed bin Zayed al-Nahyan, que havia prometido que, se o primeiro batalhão tivesse êxito, ele subsidiaria a entrega de uma brigada de milhares de homens. Um contrato do valor de bilhões de dólares.
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