Horas depois de o partido de extrema-direita Pro Deutschland (Pró-Alemanha) ter divulgado nota de que levará ao cinema o vídeo “A Inocência do Islã”, que gerou protestos em diversos países do mundo por satirizar os muçulmanos e seu profeta Maomé, o governo alemão estuda impedir sua difusão alegando problemas de ordem pública.
A recomendação foi feita por Wolfgang Bosbach, porta-voz de assuntos do Interior (relativo à segurança) da CDU (União Democrata-Cristã), principal partido do governo e ao qual pertence a chanceler Angela Merkel: “Nem o direito à liberdade de expressão nem a liberdade artística são ilimitados”, afirmou, em entrevista à rádio pública Bayerisches Rundfunk.
Agência Efe
Crianças saem às ruas para protestarcontra exibição do filme
O Parágrafo 166 do Código Penal alemão serviria como base para uma eventual proibição. De acordo com tal item, quem “insulta o conteúdo da confissão religiosa ou ideológica do outro de maneira capaz de perturbar a ordem pública” está sujeito a até três anos de prisão. Para os proponentes da proibição, este seria o caso, já que a película denigre a imagem do profeta Maomé.
O governo alemão sempre condenou o conteúdo desse vídeo produzido nos Estados Unidos. Sua exibição foi o estopim da escalada de violência no mundo muçulmano contra embaixadas de grandes potências ocidentais.
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O Pro Deutschland é um grupo minoritário e islamofóbico, que se posiciona contra o crescimento da religião muçulmana na Europa e a construção de mesquitas. Ele propõe agora exibir o polêmico filme em alguma sala de cinema em Berlim, capital da Alemanha, no mês de novembro.
Na última sexta-feira (14/09), a representação diplomática alemã no Sudão foi incendiada, e sofreu risco de invasão do edifício. A imprensa alemã publicou que os imãs sudaneses ficaram dias aquecendo os ânimos dos manifestantes, dizendo que na Alemanha é comum se exibir impunemente caricaturas de Maomé.
Há alguns meses, o Pro Deutschland exibiu em toda Alemanha cartazes dos desenhos do dinamarquês Kurt Westergaard, cuja difusão em 2005 por jornais de toda Europa provocou revoltas no mundo muçulmano, o que já havia gerado protestos.
Discordância
No meio político alemão, há um consenso de que o filme é uma obra ofensiva. “Uma estupidez de mau gosto”, classificou Volker Beck, do Partido Verde, enquanto Robert Zollitsch, presidente da Conferência dos Bispos Alemães, definiu o filme como “uma provocação sem sentido e inaceitável”.
Entretanto, uma possível intervenção do Estado para conter a difusão do vídeo na Alemanha tem gerado controvérsia. Políticos do SPD (Partido Social Democrata) e do Partido Verde argumentam que o filme é provocador, mas não contém conteúdo punível.
A ministra alemã da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, por sua vez, rejeitou procedimentos jurídicos até o momento. Em vez disso, pediu que “a ampla maioria da sociedade se coloque de maneira decidida contra os poucos provocadores”, fazendo alusão ao Pro Deutschland.
Enquanto isso, o ministro de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, defende a proibição. “Espero que o mesmo respeito para com outras religiões seja mostrado aos muçulmanos e aos indivíduos de fé islâmica”, disse Westerwelle em entrevista à agência Deutsche Welle, ressaltando a previsão de punição para quem insulta uma religião e perturba a ordem pública.
Hans-Peter Friedrich, ministro do Interior, também declarou que agiria com “todos os meios legalmente permitidos” contra a difusão do filme anti-islâmico.