A ex-presidenta Argentina Cristina Kirchner publicou nesta quarta-feira (14/02), um documento em que analisa a política econômica do país e faz críticas a Javier Milei, cujo governo ela acusou de ir “além do disruptivo”.
“[O discurso e a prática do governo] nos levam a um lugar que a Argentina nunca conheceu. Isso se desenvolve, no entanto, em um marco econômico e social de extrema gravidade”, disse.
Entre as centenas de propostas do governo criticadas pela ex-mandatária peronista está a dolarização da economia. Segundo Cristina, a dolarização impedirá definitivamente a possibilidade de desenvolvimento com inclusão social na Argentina.
“O país não terá mais dólares. Pelo contrário, iremos ter menos dólares, porque a competitividade da maior parte do setores produtivos geradores de divisas será afetada e o peso da dívida externa aumentará na nossa economia”, disse.
Imprensa do Senado da Nação Argentina, Domínio público, via Wikimedia Commons
Após publicar documento com críticas à política econômica de Milei, Cristina Kirchner travou discussão pelas redes com ministro da Economia
O documento de 33 páginas classifica o momento atual da economia argentina como “a terceira críse de dívida”, com início na gestão liberal de Maurício Macri e que deve atingir seu auge no governo ultraliberal de Milei. A ex-presidente endereça duras críticas ao atual ministro da Economia, Luis Caputo, a quem ela aponta como principal responsável pela atual crise.
“O safari da dívida do então secretário de finanças, Luis Caputo, culminou em 2018, quando, diante da impossibilidade de cumprir os vencimentos da dívida contraída, o governo recorreu ao prestador de última instância e trouxe de volta o FMI como auditor da economia argentina”, aponta o documento. “Reciclar funcionários fracassados para reeditar políticas fracassadas, só pode conduzir a maus resultados”, diz outro trecho do documento, em relação aos quadros do governo Macri que integram o atual Executivo, Caputo entre eles.
O ministro reagiu à publicação do documento e criticou os 16 anos de gestão de Cristina como presidente e vice-presidente. “A convido a ter um pouco de dignidade e permanecer calada enquanto os argentinos de bem fazem um enorme esforço de suportar e superar o desastre econômico dos seus últimos quatro anos de governo, sem dúvida o pior da história argentina”, postou Caputo em suas redes.
A fala do ministro não ficou sem resposta. “Bom dia senhor ministro. Não é o primeiro de sua família que tenta me calar. Só em um país com este Poder Judiciário você pode voltar a ser um funcionário público”, postou a ex-presidente no X (antigo Twitter). Cristina fez referência ao fato de a família de Caputo ter sido investigada por financiamento à Revolução Federal, grupo do qual faziam parte os envolvidos na tentativa de assassinato de Cristina que ocorreu em setembro de 2022.
Governo Milei é cada dia mais o governo Macri
A ex-presidente pontua que, quando estava finalizando o documento, surgiram declarações de Milei em relação à nova aliança do governo com a incorporação orgânica do macrismo no âmbito legislativo e executivo. “A se confirmar essa informação estaremos na presença da quarta coalizão de governo pela fusão de Macri e Milei.”
Em seu retorno à Argentina nesta terça-feira (13/02), depois de passar por Israel e Itália, Milei voltou suas atenções para a importante derrota parlamentar de seu pacote ultraliberal conhecido por Lei Ônibus e deu indicações de que deve aprofundar a presença em seu governo do Partido Republicano (PRO), de Maurício Macri.