Cerca de 3 mil empregos temporários foram criados este mês por governos de províncias e distritos do Japão, em regiões onde há maior concentração de imigrantes, como medida emergencial para combater as demissões em massa ocorridas no último trimestre. O aumento do desemprego deve-se principalmente à queda das exportações de automóveis e eletroeletrônicos para os Estados Unidos, setores que mais empregam brasileiros no país asiático.
As vagas abertas pela administração pública vão de limpeza de ruas e praças a trabalhos como intérprete, mas têm prazo de validade até março, quando se encerra o ano fiscal. Apesar de não integrarem um pacote específico de combate à crise, os postos temporários serviram como aperitivo do anúncio feito no último dia 18 pelo primeiro-ministro Taro Aso, de que pretende criar 1,6 milhão de vagas nos próximos três anos.
“Essa é a segunda vez que perco o emprego em menos de um ano. Por enquanto vou aguardar, mas se eu não conseguir nada, terei de voltar para o Brasil”, lamenta o paulista André Saito, 27, ex-operário da Sony que emigrou pela primeira vez para o Japão há cinco anos, com o objetivo de comprar um imóvel.
Um levantamento divulgado no final de dezembro pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar prevê que aproximadamente 85 mil trabalhadores com contratos de prestação de serviço serão demitidos até março.
Por implicarem em menos custos trabalhistas para as empresas, são imigrantes como Saito que mais vêm sentindo os efeitos da crise econômica global. Como têm contratos temporários, custa menos para as empresas demitirem-nos.
Atento às consequências que isso pode acarretar para a terceira maior comunidade estrangeira do país, o primeiro-ministro também afirmou, no dia 13, que lançará em fevereiro um pacote de medidas para socorrer os quase 320 mil brasileiros que vivem aqui. O plano está sob responsabilidade da ministra da População e Igualdade entre os Sexos, Yuko Obuchi.
Xenofobia
Para Angelo Ishi, sociólogo e professor da Universidade Musashi, de Tóquio, crises como a atual ameaçam a estabilidade financeira dos imigrantes, mas também acarretam outro tipo de prejuízo: a exclusão social.
“Sempre que a situação econômica aperta nos países desenvolvidos, há um possível aumento de xenofobia. Isso não acontece apenas no Japão, é comum as pessoas se questionarem por que empregar estrangeiros quando existem tantos jovens querendo trabalhar”, analisa o acadêmico.
Ishi é um dos coordenadores do projeto No Border (“sem fronteira”, em português), que desde 2006 se dedica a buscar soluções para incentivar a integração dos imigrantes à sociedade japonesa.
Atualmente, menos de 2% da população do país é representada por estrangeiros, em grande parte mão-de-obra emigrada de vizinhos asiáticos, como China e Coréia do Sul. O Japão possui mais de 130 milhões de habitantes, segundo dados oficiais.
Veja os últimos dados divulgados sobre a economia japonesa e leia sobre a busca dos dekasseguis pelos benefícios sociais.
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