Héctor Béjar nasceu em 2 de setembro de 1935 no distrito Ricardo Palma, província Huarochirí, departamento de Lima, capital do Peru. Seu pai, Mariano Béjar Pacheco, era um músico e membro do Partido Aprista que não concordava com a direção da organização. Sua mãe, Zoila Rivera Rordíguez, era professora.
O novo ministro das Relações Exteriores do Peru estudou direito na Universidade Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), porém nunca foi dirigente estudantil, mas, na verdade, secretário de imprensa do Centro Federado de Letras.
Aos 16 anos, Béjar trabalhou como na Rádio Central de Lima. Com este emprego de quatro horas por dia, conseguiu se financiar e trabalhou até os anos 60 nesta emissora. Em 1951, com 15 anos de idade, começou a estudar na UNMSM. Conquistou a graduação de licenciado em direito e ciências políticas, em 1999; mestre em gestão de projetos sociais, em 2002; e doutor em sociologia, em 2006.
No ano de 1953, Béjar entrou no Partido Comunista Peruano (PCP), uma organização clandestina. Foi secretário da assessoria de imprensa e membro do Comitê Provisional Central de 1954 a 1959. Em 1956, fundou Unidad, o jornal do PCP. Seu pseudônimo no partido era “Alayza”.
Ainda no mesmo ano, pela primeira vez, o atual chanceler do Peru foi preso por organizar uma peregrinação a José Carlos Mariátegui. Sua segunda detenção foi em maio de 1958, no marco das mobilizações organizadas pela esquerda para dar “boas vindas” à visita do vice-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon ao país. A resposta do Estado peruano frente às manifestações foi a prisão de dezenas de pessoas. Entre elas, estava Béjar.
Em 1959, foi expulso do PCP, junto com Juan Pablo Chang – assassinado ao lado de Ernesto Che Guevara, em outubro de 1967. No decorrer de suas militâncias, Béjar e Chang tiveram fortes críticas à direção e ao caminho político do partido. Junto com Chang, Guillermo Mercado León e Luis Zapata Bodero (os dois últimos morreram na guerrilha “Javier Heraud”, do Exército de Libertação Nacional (ELN), em dezembro de 1965), entre outros, formaram, depois da expulsão, em 1959, o Comitê Leninista do Departamento de Lima.
Essa organização tinha como objetivo fundar um outro partido comunista, já que eles não consideravam o PCP como uma autêntica entidade de esquerda. No período que fez parte do mencionado comitê, até 1961, seu grupo se chamava Peru Popular.
Béjar, em 1961, viajou a Cuba para realizar treinos militares e estudos políticos com o objetivo de desenvolver a guerra de guerrilhas no Peru. Em setembro de 1962, ainda na ilha, fundou o ELN, estando à frente da direção do grupo. A organização surgiu do desejo de jovens peruanos que seguiam o exemplo da Revolução Cubana, sendo dirigida através de uma liderança coletiva.
A base do ELN estava formada por um grupo de sete peruanos que viajaram a Cuba em meados de 1961. Um deles foi Héctor Béjar. Politicamente heterogêneo, algumas das pessoas que formaram o exército de libertação eram ex-membros do partido comunista.
Posteriormente, o grupo de sete estava acompanhado por outras pessoas, como algumas que abandonaram o partido comunista de orientação moscovita, por revolucionários independentes e ainda um grupo com cerca de 40 estudantes peruanos que haviam recebido bolsas para estudar em Cuba, mas, impressionados pela Revolução, queriam organizar a luta guerrilheira no Peru.
O ELN passou por três fases distintas, Béjar participou ativamente dos dois primeiros. A primeira delas começou desde sua fundação até a primeira derrota da organização em maio de 1963, na cidade peruana de Puerto Maldonado, com a morte do poeta Javier Heraud.
A segunda fase foi com um processo de reestruturação e uma avaliação da experiência da primeira guerrilha. Nesta, em setembro de 1965, a entidade criou a frente guerrilheira “Javier Heraud” no departamento de Ayacucho, província de La Mar. Esse período se encerrou em dezembro do mesmo ano, com a derrota do exército e a morte de quase todos os seus militantes.
Havia apenas dois sobreviventes, um deles era o Béjar. No entanto, estava doente, com leishmaniose, e a guerrilha dizimada. Ali, durante os anos guerra, utilizava o pseudônimo de “Calixto”.
Tendo a ELN uma disciplina militar, o agora chanceler liderava a guerrilha, mas não comandava o ELN. Mesmo assim, ele teve a carreira política mais longa de todos aqueles que fizeram parte do grupo guerrilheiro no departamento de Ayacucho.
Diferente de outros, Béjar não foi condenado pela Justiça peruano por não haver provas de sua participação na guerrilha. Os camponeses da Fazenda Chapi, um dos territórios atacados em 1965, que acabou causando a morte de dos proprietários, não o reconheceram como um dos guerrilheiros. O militante, então, estava na prisão sem sentença, porém o Estado peruano definiu 17 anos de prisão contra ele.
Seu primeiro livro, Peru 1965: Anotações sobre uma experiência guerrilheira, que ganhou o Prêmio Casas das Américas de Ensaio Latino-Americano em 1969, foi resultado da extensão de um relatório que ele preparou sobre a guerrilha para o ELN, em 1965.
Esse texto foi denominado Relatório de 1965 e foi publicado em mimeógrafo pela organização. O documento inicial foi ampliado porque Desirée Lieven, líder franco-russa de um comitê de apoio aos presos políticos no Peru e na França, propôs publicar as análises e experiências de Béjar pela editora Maspero. No entanto, Hildebrando Pérez Grande, membro do ELN, propôs que ele concorresse ao prêmio de melhor redação da Casa das Américas.
Além deste livro, após sua prisão, o advogado conseguiu publicar diversos trabalhos em relação à guerrilha. Em 1967, por exemplo, o Exército de Libertação Nacional publicou Revolução: Presente e futuro. Este trabalho é uma síntese explicativa dos antecedentes objetivos e das principais experiências do movimento guerrilheiro de 1965, e particularmente da organização peruana.
Andina
Atual chanceler continua escrevendo artigos e fazendo apresentações relacionadas à guerrilha dos anos 1960
Um ano depois, a revista chilena Punto Final publicou A Lição dos Erros e, em 1969, saiu na revista OCLAE de Cuba Ernesto Guevara e a Revolução Latino-americana e Dois guerrilheiros continentais, um artigo sobre Che Guevara e Juan Pablo Chang.
Béjar e outros presos políticos, em 24 de dezembro de 1970, foram anistiados. Sua libertação não foi condicional, já que, conversas com os representantes militares do governo de Juan Velasco Alvarado (1968-1975), produto de um golpe militar contra o presidente Fernando Beláunde, em 1968, o levaram a atuar no “grupo inicial” do Sistema Nacional de Apoio à Mobilização Social (Sinamos).
O objetivo do Sinamos era trabalhar pela transferência do poder, pois os militares pensavam em abandonar o Estado. Assim, se saíssem, não entregariam a direção do país aos partidos, mas organizariam uma espécie de governo popular com representação de trabalhadores e camponeses. A missão do Sinamos era principalmente organizar os camponeses que receberam terras por meio da Reforma Agrária ocorrida em 1969, e os trabalhadores das comunidades industriais, que, junto com o empresariado, dirigiam suas empresas.
O ministro estava a cargo da direção geral das Organizações Juvenis. Essa diretoria organizava jovens voluntários que auxiliavam as ligas agrárias, mas que também tinham tarefas técnicas. Além disso, a direção desenvolveu atividades de divulgação sobre a Revolução entre os jovens. Béjar trabalhou no Sinamos de 1971 a 1975, até a queda de Velasco.
Após este trabalho, esteve por alguns meses como redator adjunto do jornal El Comercio, expropriado pelo governo militar de Velasco, e havia sido convidado pelo diretor Helan Jaworski. Quando a correlação de forças no governo era definitivamente contra o processo iniciado pelo presidente, Béjar foi despedido em maio de 1976.
Liderado por Francisco Morales Bermúdez, o novo governo militar pensava que Béjar voltaria a organizar a guerrilha. Por isso, foi perseguido por cerca de um ano carregando um mandado de prisão contra ele.
Em dezembro de 1976, seu segundo livro intitulado A Revolução na armadilha foi publicado. Este trabalho trata dos processos políticos no período de 1968 a 1975.
Sob a liderança de Jaworski, em 1977, foi fundado o Centro de Estudos de Desenvolvimento e Participação (CEDEP) com a missão de manter relações com os camponeses beneficiários da reforma agrária e oferecer assistência técnica a essas comunidades. Béjar aderiu e teve a tarefa de continuar a desenvolver contatos com as ligas agrárias e com as federações camponesas. No período de 1989 a 2000, assumiu a direção do centro.
Além de desenvolver trabalhos com as comunidades, o CEDEP também publicou uma revista de ciências sociais chamada Socialismo e Participação. Béjar foi diretor da mídia por nove anos.
Apoiando a Associação Nacional de Centros do Peru, participou da organização de 13 Conferências Nacionais de Desenvolvimento Social (CONADES), que reuniram organizações peruanas que trabalharam pelo desenvolvimento durante o período de 1995 a 2007. Ele se encarregou de propor os textos dos relatórios centrais que indicavam políticas sociais para superar a situação de pobreza de grande parte da população.
Todo esse trabalho influenciou o Acordo Nacional, em 2002, firmado pelo ex-presidente Alejandro Toledo, que incorporou um conjunto de demandas sociais como políticas públicas.
A partir de 1994, após a aprovação da Constituição de 1993, juntou-se à oposição à ditadura neoliberal de Alberto Fujimori, por meio do Comitê Cívico, liderado por Gustavo Mohme Llona, diretor do jornal La República, e participou da organização do Movimento pela Democracia e Sociedade. Neste, Béjar coordenou e centralizou um movimento antiditatorial, conseguindo realizar atividades que mobilizaram milhares de pessoas, culminando na fuga de Fujimori e na volta à democracia.
Trabalhou até 2009 no CEDEP. Foi nesse período que publicou seu terceiro livro: Política Social, Justiça Social (2001). Saiu do CEDEP porque, por um lado, não havia mais financiamento para o tipo de projetos que Béjar propunha e, por outro, começou a trabalhar como professor. A revista Socialismo e a Participação não continuou por falta de financiamento, sua última edição foi em outubro do mesmo ano.
Após a queda do ditador Fujimori em 2000, ele voltou à política de esquerda organizada. Por um tempo, Béjar foi o coordenador de uma frente que visava unir a esquerda. Posteriormente, algumas dessas organizações criaram a Frente Ampla, que participou das eleições parlamentares de 2016. Essas eleições marcaram o retorno da esquerda de forma organizada após mais de 20 anos de ausência no Congresso peruano.
No período de 2009 a 2020, Béjar dedicou-se principalmente ao ensino e à redação de livros acadêmicos como Mitos e Objetivos do Milênio, A Pobreza segundo os sofistas, Mito e Utopia, Relato alternativo da origem republicana do Peru, Retorno à guerrilha, Antiga crônica e mau governo e História do Peru para descontentes. Desde 2005, é membro honorário do Colégio de Sociólogos do Peru.
Héctor Béjar ainda é comunista. Além da dedicação ao ensino e à pesquisa acadêmica, é analista político, dá palestras sobre questões políticas no Peru e na América Latina, escreve artigos e faz apresentações em eventos relacionados à guerrilha dos anos 1960 e ao governo de Velasco.