A organização Human Rights Watch (HRW) publicou nesta terça-feira (03/08) um relatório apontando que a explosão no porto de Beirute, capital libanesa, ocorrida há exato um ano, foi resultado de “décadas de má gestão governamental e corrupção”, sendo que uma investigação internacional precisa ser instaurada.
O documento foi elaborado com base em entrevistas, informações do judiciário e dados da embarcação que trouxe o material explosivo para o Líbano.
“A evidência mostra de forma cristalina que a explosão de agosto de 2020 no porto de Beirute foi causada pelas ações e omissões de altos funcionários libaneses que não comunicaram com precisão os perigos representados pelo nitrato de amônio, conscientemente armazenaram o material em condições inseguras e não protegeram o público”, avalia Lama Fakih, diretora de crise e conflito da HRW.
Ainda de acordo com a organização, múltiplas autoridades do país foram “nó mínimo, criminalmente negligentes sob a lei libanesa”. A Human Rights Watch afirma que o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) deveria exigir uma investigação internacional sobre a explosão no porto de Beirute e eventualmente aplicar sanções contra oficiais libaneses envolvidos no episódio.
“Tais sanções reafirmariam os compromissos desses países em promover a responsabilização por graves abusos dos direitos humanos e forneceriam uma força adicional para aqueles que pressionam por responsabilização por meio de processos judiciais internos”, afirma o relatório.
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Documento foi elaborado com base em entrevistas, informações do judiciário e dados de embarcações
A explosão no porto de Beirute custou 218 vidas humanas, deixou sete mil feridos e destruiu a casa de 300 mil pessoas. Parte da infraestrutura da cidade, como serviços de saúde, transporte, água e energia elétrica foi comprometida. De acordo com o Banco Mundial, o incidente causou um prejuízo estimado entre US$ 3,8 bilhões a US$ 4,6 bilhões (algo entre R$ 19 bilhões e R$ 24 bilhões).
Em entrevista à HRW, a enfermeira Pamela Zeinoun conta como foi atender três bebês após a explosão: “Eu estava assustada. Parecia que eles estavam dormindo. Ou eles estavam mortos”. Em outro depoimento colhido pela ONG, Karlin Hitti, viúva de um bombeiro morto na luta contra o fogo, pergunta o que deve falar para sua filha sobre a morte de seu pai. “Devo dizer que eu não sei quem o matou ele? Que nós no Líbano não conseguimos descobrir?”
Com o maior número de refugiados per capita do mundo, o Líbano ainda enfrenta uma crise econômica e política. Em 2020, o PIB do país recuou 20,3% e a inflação disparou, aumentando os números da pobreza.
Desde a explosão, o Líbano já teve três primeiros-ministros. Atualmente, não há governo formado e o premiê Najib Mikati tenta formar uma coalizão que atenda aos critérios de divisão de poder entre cristãos e muçulmanos. Este desenho institucional foi implantado após a guerra civil do Líbano (1975-1990). Seu antecessor no cargo, Saad Hariri, deixou o posto de primeiro-ministro em meados de julho após tentar formar um governo por nove meses, sem ter sucesso.
(*) Com Brasil de Fato.