Quinta-feira, 6 de novembro de 2025
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A organização Human Rights Watch (HRW) publicou nesta terça-feira (03/08) um relatório apontando que a explosão no porto de Beirute, capital libanesa, ocorrida há exato um ano, foi resultado de “décadas de má gestão governamental e corrupção”, sendo que uma investigação internacional precisa ser instaurada.

O documento foi elaborado com base em entrevistas, informações do judiciário e dados da embarcação que trouxe o material explosivo para o Líbano.

“A evidência mostra de forma cristalina que a explosão de agosto de 2020 no porto de Beirute foi causada pelas ações e omissões de altos funcionários libaneses que não comunicaram com precisão os perigos representados pelo nitrato de amônio, conscientemente armazenaram o material em condições inseguras e não protegeram o público”, avalia Lama Fakih, diretora de crise e conflito da HRW.

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Ainda de acordo com a organização, múltiplas autoridades do país foram “nó mínimo, criminalmente negligentes sob a lei libanesa”. A Human Rights Watch afirma que o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) deveria exigir uma investigação internacional sobre a explosão no porto de Beirute e eventualmente aplicar sanções contra oficiais libaneses envolvidos no episódio. 

“Tais sanções reafirmariam os compromissos desses países em promover a responsabilização por graves abusos dos direitos humanos e forneceriam uma força adicional para aqueles que pressionam por responsabilização por meio de processos judiciais internos”, afirma o relatório. 

Relatório da organização aponta que  explosão em 2020 foi 'causada' pela 'não comunicação sobre os perigos representados pelo nitrato de amônio'

Wikimedia Commons

Documento foi elaborado com base em entrevistas, informações do judiciário e dados de embarcações

A explosão no porto de Beirute custou 218 vidas humanas, deixou sete mil feridos e destruiu a casa de 300 mil pessoas. Parte da infraestrutura da cidade, como serviços de saúde, transporte, água e energia elétrica foi comprometida. De acordo com o Banco Mundial, o incidente causou um prejuízo estimado entre US$ 3,8 bilhões a US$ 4,6 bilhões (algo entre R$ 19 bilhões e R$ 24 bilhões).

Em entrevista à HRW, a enfermeira Pamela Zeinoun conta como foi atender três bebês após a explosão: “Eu estava assustada. Parecia que eles estavam dormindo. Ou eles estavam mortos”. Em outro depoimento colhido pela ONG, Karlin Hitti, viúva de um bombeiro morto na luta contra o fogo, pergunta o que deve falar para sua filha sobre a morte de seu pai. “Devo dizer que eu não sei quem o matou ele? Que nós no Líbano não conseguimos descobrir?”

Com o maior número de refugiados per capita do mundo, o Líbano ainda enfrenta uma crise econômica e política. Em 2020, o PIB do país recuou 20,3% e a inflação disparou, aumentando os números da pobreza.

Desde a explosão, o Líbano já teve três primeiros-ministros. Atualmente, não há governo formado e o premiê Najib Mikati tenta formar uma coalizão que atenda aos critérios de divisão de poder entre cristãos e muçulmanos. Este desenho institucional foi implantado após a guerra civil do Líbano (1975-1990). Seu antecessor no cargo, Saad Hariri, deixou o posto de primeiro-ministro em meados de julho após tentar formar um governo por nove meses, sem ter sucesso.

(*) Com Brasil de Fato.