No programa 20MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (04/08), o jornalista Breno Altman entrevistou o dirigente do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), de orientação trotskista, José Maria de Almeida.
Ele contou que, atualmente, a legenda está lançando um manifesto propondo a construção de um polo como “alternativa socialista e revolucionária para o país, apoiada em transformações profundas”.
Esse manifesto, então, será concretizado em uma candidatura, seja do PSTU ou do polo que busca construir, que discuta o papel da classe trabalhadora, avançando em sua organização e mobilização “para acabar com esse sistema em que vivemos”.
Zé Maria ressaltou, contudo, que isso não significa que o partido está antecipando a campanha eleitoral, “até porque o sistema não muda só por meio de eleições, a revolução é necessária”.
Além disso, ele afirmou que a prioridade da legenda é derrubar o presidente Jair Bolsonaro “agora”: “É necessário derrubar esse governo genocida para defender a vida da população e porque ele é uma ameaça à democracia”.
“Não há como proteger a saúde e a condição de vida da população, nem preservar as liberdades democráticas com Bolsonaro. Quanto mais setores vierem para essa luta, melhor”, enfatizou o dirigente do PSTU.
Ele defendeu uma ampla unidade de ação para proteger a classe trabalhadora e derrubar Bolsonaro, incluindo setores da oposição de direita, pois, apesar das manifestações que vem acontecendo serem importantes, elas ainda são insuficientes.
“Temos que discutir greve geral. Não entendo como isso ainda não foi feito. É necessário elevar o grau de mobilização. O governo está enfraquecido, desgastado e isolado, só se mantém por conta da sua base e o apoio do ‘centrão’ no Congresso. Não podemos ter ilusões de que vai ser o Congresso ou o Supremo que vão retirar esse governo sem serem forçados pelo povo”, reforçou.
PSTU e PT
Diante de um cenário de polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro, Zé Maria retomou o histórico da relação entre o PSTU e o Partido dos Trabalhadores (PT), avaliando a possibilidade de apoiar uma candidatura do petista nas eleições de 2022.
Em 2014, a legenda trotskista se posicionou fortemente contra Dilma Rousseff, “mas a gente não era favorável ao impeachment, mas a favor de tirar todo mundo”. “Dilma tinha virado o instrumento pelo qual o empresariado realizava suas vontades, atacou as condições de vida da classe trabalhadora para defender o empresariado e nós queríamos uma alternativa a tudo isso”, afirmou.
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Zé Maria defendeu uma ampla unidade de ação para proteger a classe trabalhadora e derrubar Bolsonaro
Por isso, o PSTU nunca utilizou o termo “golpe” para falar do impeachment da ex-presidente: “Será que teve golpe mesmo? Porque, hoje, o PT está procurando as mesmas pessoas que supostamente deram o golpe para fazer alianças eleitorais”, questionou o dirigente, citando Renan Calheiros e Rodrigo Maia como exemplos.
Por outro lado, o dirigente reconheceu a parcialidade de processos como a Lava-Jato: “Somos a favor de investigar e punir corrupção, que houve no PT, mas só se puniu e perseguiu o PT”. Ele também ressaltou que no segundo turno das eleições de 2018, apesar de todas as discrepâncias com a legenda, o PSTU chamou sua militância a votar em Fernando Haddad.
“O problema é que, do ponto de vista do projeto que defendemos para o país, o PT resolveu se aliar ao empresariado, mantendo o status quo. E, à medida que faz isso, como queremos acabar com o capitalismo a favor de uma sociedade socialista, temos que lutar também contra o PT”, explicou.
Zé Maria lamentou, contudo, essa postura dizendo que gostaria que o PT “estivesse na linha de frente, na trincheira com a gente, falando o quanto essa burguesia é nojenta e escravocrata, e que precisamos governar contra ela”.
É por isso que ele confessou que o PSTU ainda não quer se pronunciar com relação a apoios na próxima eleição, “depende de como as coisas avançarem, do que o próprio Lula fizer” e de quem for para o segundo turno. “O que temos claro é que vamos apresentar uma alternativa socialista revolucionária”, destacou.
Cuba e Venezuela
Diferentemente de outros partidos da esquerda brasileira, o PSTU é conhecido por sua postura crítica aos governos da Venezuela e de Cuba. Zé Maria explicou essas posturas.
Segundo ele, em Cuba, está havendo uma restauração do capitalismo que, somado ao bloqueio econômico, está levando à degradação da condição de vida da população. Por isso ele disse que o PSTU apoiou as manifestações contra o governo da ilha.
“Não sei por que setores da esquerda se colocam contra setores da classe popular que estão se mobilizando. Só porque os Estados Unidos tentam se apropriar do movimento, vamos deixar de apoiar a luta do povo? Vamos ficar do lado do governo? Somos contra o imperialismo, mas nossa solidariedade não é com o governo, é com o povo”, argumentou.
Essa postura se mantém no que diz respeito à Venezuela, “onde há uma disputa entre a burguesia nascida nos governos de [Hugo] Chávez e a oligarquia que sempre governou a Venezuela. O problema é que agora surgiu um terceiro setor que busca ocupar o cenário político, mas que não tem intenção de libertar o povo”.
“O enfoque pelo qual temos que olhar para o mundo é o da nossa classe. A posição do trotskismo é estar do lado dos povos desses países, não dos governos, sobretudo não com governos que aplicam contra seus povos o imperialismo que outros países exercem no resto do mundo”, frisou.