Mais de 200 estudantes do Ensino Médio em Israel, com idades por volta dos 17 anos, anunciaram que vão recusar o alistamento militar das Forças de Defesa de Israel, que é obrigatório no país. O motivo é a reforma judicial que o atual governo do país está promovendo.
A reforma, que foi anunciada em janeiro, pretende enfraquecer a Suprema Corte, dando poderes quase ilimitados ao governo. Isso tem levado centenas de milhares de israelenses às ruas em protestos de frequência semanal.
A decisão dos estudantes se insere no contexto de manifestação popular pela democracia. Eles vão anunciar formalmente a rejeição ao alistamento na próxima segunda-feira (04/09), quando terá início o ano letivo no tradicional colégio “Gimnassia Herzliya”, de Tel Aviv. Essa é uma das instituições de Ensino Médio mais progressistas do país.
Na carta formal ao exército que eles pretendem divulgar, os estudantes dirão que não querem se alistar nas forças armadas de uma “ditadura”.
Esse tipo de rejeição ao recrutamento não é comum em Israel, onde o exército é considerado uma instituição importante, necessária e relativamente admirada. No país, o serviço militar é obrigatório para garotos e garotas de 18 anos. Os meninos servem por quase três anos e as meninas, por cerca de dois.
Há certas minorias que não costumam servir, como os árabes-israelenses e os ultraortodoxos. Também há exceções como mulheres casadas ou grávidas, além de pessoas com certas deficiências. Porém, não se alistar por protesto contra o governo pode ser passível de julgamento militar e prisão.
Em raras ocasiões, no entanto, os chamados “objetores de consciência” podem receber penas mais brandas. Mas ainda não está claro como será a reação do exército nesse caso.
Politização do exército
A recusa dos estudantes em se alistar ganhou destaque por causa do temor de politização do exército. Em Israel, as forças armadas são tidas como apolíticas. Mas, desde o começo das manifestações contra a reforma judicial, havia o temor de que os protestos se infiltrassem nas colunas do exército, dividindo os soldados da mesma forma como divide a sociedade como um todo.
Flickr/ Israel Defense Forces
Em Israel, serviço militar é obrigatório para garotos e garotas de 18 anos
Isso começou a ser observado quando um grupo de pilotos da reserva decidiu parar de participar de exercícios e missões da Força Aérea em protesto à reforma judicial, há alguns meses. Mas, mesmo que esses refuseniks (ou “sarvanim” em hebraico) fossem apenas militares da reserva, não soldados da ativa, eles foram chamados de “traidores” por membros do atual governo israelense, o mais direitista, ultranacionalista e religioso da história de Israel.
Agora, é a vez dos estudantes pré-alistamento darem um passo semelhante. Eles não são ainda soldados, mas sua recusa é mais um sinal da politização que já tomou conta das forças armadas. Fora isso, o exército israelense se preocupa com o impacto a longo prazo das atitudes negativas em relação ao serviço militar.
Questão da Palestina
A recusa dos estudantes também ganhou destaque porque os jovens citaram a ocupação israelense de territórios palestinos como outro motivo para boicotar o recrutamento militar. Até agora, os protestos contra a reforma judicial focavam apenas na rejeição ao enfraquecimento da Suprema Corte planejado pelo ministro da Justiça Yariv Levin, com aquiescência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Mas esses estudantes deram um passo adiante ao incluir a questão palestina em sua recusa à convocação militar. Eles são filiados ao Bloco Contra a Ocupação, um grupo de esquerda que apoia o fim da presença de Israel na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, onde – juntamente com a Faixa de Gaza – os palestinos anseiam em criar um Estado independente.
A inclusão dessa demanda, no entanto, não está sendo vista com bons olhos por líderes dos protestos contra a reforma judicial. Eles buscam o apoio da população em geral – tanto de progressistas quanto de conservadores – contra as medidas antidemocráticas.
No momento, cerca de dois terços dos israelenses, segundo todas as pesquisas de opinião, se dizem contrários a uma reforma judicial sem um amplo consenso nacional. Ao incluir na equação uma questão tão complicada e divisível como o conflito com os palestinos, os protestos contra a reforma judicial podem perder força.