Sexta-feira, 13 de junho de 2025
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Judeus progressistas entregaram uma carta ao ex-presidente Lula na noite desta quinta-feira (30/01) em que reafirmam seu apoio ao dirigente petista e o compromisso de luta contra a extrema direita que ressurge no Brasil.

“Oferecemos nossos braços nessa batalha que estamos travando contra a destrutiva extrema direita brasileira”, destaca trecho do documento entregue a Lula durante ato no Sindicato dos Químicos de São Paulo.

“O mundo e o Brasil passam por um momento grave, marcado pela ascensão da extrema direita”, frisou em seu discurso a médica e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, Beatriz Grinsztejn.

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Para ela, o atual momento vivido no país se assemelha em muitos aspectos aos dos anos 1930, quando o nazi-fascismo tentou dominar o mundo. 

“O ódio à cultura e à ciência, o anti-intelectualismo, o preconceito e a intolerância são algumas das características fascistas que vemos voltar com força nos dias de hoje. É nosso dever desmascarar o fascismo”.

A escritora e crítica literária Noemi Jaffe, filha de uma sobrevivente do campo de extermínio de Auschwitz, lembrou o episódio em que o ex-secretário da Cultura Roberto Alvim fez alusão durante um pronunciamento ao ministro de Hitler, Joseph Goebbels.

“Para mim, como judia e filha de uma sobrevivente é muito dolorido. Nenhum ser humano normal jamais poderá se identificar com Hitler, Goebbels, Ustra. O que aconteceu, pode acontecer novamente. Herdei da minha mãe a força da resistência. Estamos aqui para lutar e resistir”.

Veja discurso de Lula na ´íntegra:

'Oferecemos nossos braços nessa batalha que estamos travando contra a destrutiva extrema direita brasileira', destaca trecho do documento entregue a ex-presidente

Lúcia Rodrigues

‘Oferecemos nossos braços nessa batalha que estamos travando contra extrema direita brasileira’, destaca trecho do documento entregue a Lula

O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) Renato Cymbalista também lamentou que existam judeus que defendam o governo Bolsonaro. 

“Quando ouço generalizações sobre a comunidade judaica ser conservadora e apoiadora de um governo fascista, eu fico profundamente desestabilizado”, afirma ao contra-argumentar que esse pensamento não representa a totalidade dos judeus.

O ex-ministro da Relações Exteriores Celso Amorim, que acompanhou Lula no evento, destacou em seu discurso a atualidade de uma pintura de Candido Portinari realizada em 1942. 

“É um cartaz com uma suástica enorme projetando uma sombra sobre o Brasil gotejando sangue. Mostrei para a Gleisi Hoffmann (que também participou do ato) e ela me perguntou se a imagem era de agora. Nunca vimos uma coisa tão atual.”

O diplomata abriu sua intervenção ressaltando que se considera um judeu honorário. 

“Meu melhor amigo de adolescência era judeu e minha primeira namoradinha era judia. Eu amo as judias e os judeus, mas amo também os palestinos.”

Amorim fez questão de ressaltar que a proposta de Donald Trump para o conflito palestino-israelense está fadada ao fracasso. “Não houve diálogo. E a paz nunca é imposta. A paz é conquistada com concessões recíprocas.”

“Historicamente nós sempre tivemos dois lados. Queremos o Estado de Israel e queremos um Estado palestino”, enfatizou o ex-presidente Lula, arrancando aplausos da plateia.  

Clara Ant, uma das organizadoras do ato, conta que Lula foi a Israel pela primeira vez em 1993, quando ainda era presidente do Partido dos Trabalhadores. “Foi recebido pelo governo e pela oposição.”

Veja discurso de Clara Ant: 

“Tenho a convicção de que quem não quer a paz no Oriente Médio é o governo de direita de Israel e o governo dos Estados Unidos. As pessoas querem a paz. A ONU (Organização das Nações Unidas) criou o Estado de Israel e deveria ter a decência de criar o Estado palestino”, afirma Lula. 

Durante o ato, o ex-presidente recebeu das mãos de Lucas Herzog, neto do jornalista judeu Vladimir Herzog assassinado sob tortura nos porões da ditadura militar, um símbolo inter-religioso. O presente, de acordo com os judeus, representa a vida.

Ele agradeceu a homenagem e lembrou que havia recebido um símbolo semelhante durante o período em que esteve preso em Curitiba.

“Ganhei uma mãozinha como essa no Paraná, que ficou na minha mesa junto com Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida e Xangô. Eu tinha um rosário de proteção muito grande”, recorda.

O ex-candidato à Presidência da República pelo PT, Fernando Haddad, o editor de Opera Mundi, Breno Altman, o cineasta Roberto Gervitz e diversas lideranças religiosas compuseram a mesa da solenidade.