Após um ano e meio de inquérito público, a Justiça britânica concluiu nesta quinta-feira (21/01) que a morte do ex-agente da KGB (sigla do antigo serviço secreto soviético) Alexander Litvinenko “provavelmente foi aprovada” pelo presidente russo, Vladimir Putin, e foi realizada pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, sigla em russo). Putin nega qualquer envolvimento com o caso.
O juíz Robert Owen teve acesso a informações coletadas pelo Serviço Secreto britânico, o MI6, e ouviu dezenas de pessoas a respeito do caso antes de divulgar suas conclusões em um documento de 300 páginas.
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Litvinenko alguns dias antes de morrer, em 2006
Segundo os termos da investigação ditados pelo governo britânico, Owen não pode formular acusações civis, nem criminais, mas deve se limitar a explicar as circunstâncias da morte de Litvinenko.
“A operação da FSB para matar o Sr. Litvinenko provavelmente foi aprovada pelo Sr. Patrushev [então diretor da FSB] e também pelo presidente Putin”, diz um um dos parágrafos do documento.
Além disso, o juíz ainda acredita que o ex-guarda-costas da KGB, Andrei Lugovoi, que virou deputado na Rússia, e o ex-agente da KGB Dmitry Kovtun realizaram o envenenamento. Ambos negaram as acusações.
Agência Efe
À imprensa, a viúva de Litvinenko disse estar “muito satisfeita” com o resultado das investigações britânicas
“Estou muito satisfeita de que as palavras que meu marido pronunciou em seu leito de morte, quando acusou Putin, tenham sido provadas por um tribunal britânico”, disse a jornalistas a viúva do ex-espião, Marina Litvinenko.
Em sua declaração, ela ainda pediu ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, que expulse do país “todos os agentes da inteligência [russa] radicados na embaixada [do país]”.
Além disso, Marina Litvinenko também pediu que haja “sanções dirigidas e vetos de viagem aos indivíduos mencionados no relatório judicial, incluindo o senhor Putin”.
Segundo uma porta-voz, o premiê britânico considerou ” extremamente alarmantes” as conclusões do caso e disse que irá avaliar quais “medidas adicionais” tomar. “Não é maneira de se comportar para nenhum Estado, muito menos para um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, acrescentou.
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Defesa russa
Com a divulgação do inquérito britânico, o Kremlin acusou a investigação de ter uma “nítida motivação política e carecer de transparência”. O presidente Putin negou envolvimento com o caso.
“Não era de se esperar que o relatório final de uma investigação parcial e extremamente opaca, ajustada a conclusões determinadas de antemão, resultasse objetivo e imparcial”, declarou a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, em comunicado. Ela ainda informou que irão estudar o conteúdo publicado.
Zakharova também lamentou que “uma investigação puramente penal tenha sido politizada e obscurecesse o ambiente geal das relações bilaterais [entre Rússia e Reino Unido]”.
Arquivo Efe
Lugovoi em coletiva de imprensa em 2013; ele nega envolvimento no assassinato de Litvinenko
O deputado Andrei Lugovoi, ex-agente russo, acusado de ter envenenado Litvinenko, também rejeitou as acusações, nesta quinta.
“As acusações são absurdas. Os resultados da investigação divulgados hoje voltam a confirmar a posição anti-russa de Londres e a falta de desejo dos ingleses de estabelecer a verdadeira causa da morte de Litvinenko”, disse Lugovoi à agência local Interfax.
Relembre o caso
Litvinenko, que trabalhava para a KGB, fugiu da Rússia em 2000 para a Inglaterra. Desde então, ele havia se tornado um crítico do Kremlin. O ex-espião passou a trabalhar para o MI6 britânico e a prestar assessoria à polícia espanhola no combate à máfia russa.
Em 1o de novembro de 2006, Litvinenko se reuniu com Andrei Lugovoi e Dmitri Kovtun num hotel em Londres. Mais tarde ele se encontrou com o italiano Mario Scaramella. Em algum momento desse dia, Litvinenko foi envenenado com uma dose fatal de polônio-210, colocado em seu chá, e começou a passar mal na mesma noite.
Ele morreu 23 dias depois. Em carta póstuma, o ex-agente acusou Putin de ser o responsável por sua morte. O chefe do Kremlin negou as acusações e disse se tratar de uma “provocação política”. O assassinato foi considerado um ato de terrorismo nuclear.
O ex-agente teve de ser enterrado em um caixão de chumbo para evitar fugas radioativas. A morte de Litvinenko estremeceu as relações diplomáticas entre o país europeu e a Rússia: à época, diplomatas de ambos os países chegaram a ser expulsos e tiveram seus vistos suspensos.
Cory Doctorow/FlickrCC
Local onde está enterrado Litvinenko, em Londres