Domingo, 16 de novembro de 2025
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O 2º Juizado de Paz de San Salvador, capital de El Salvador, determinou nesta quarta-feira (28/07) a prisão preventiva por seis meses para cinco integrantes do partido de esquerda Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN).

O tribunal acatou um pedido da Procuradoria-Geral do país que acusa os políticos de esquerda de supostos atos de corrupção cometidos quando integravam o governo do ex-presidente Mauricio Funes.

O secretário-geral da FMLN, Óscar Ortiz, condenou a decisão, a qual classificou como um ato de “perseguição judicial” e pediu a liberdade “para os presos políticos”.

“Essa ameaça que o país enfrenta é um retrocesso obscuro e o rompimento do Estado de Direito. A população não pode seguir sendo enganada com este circo e perseguição e prisão política”, disse Ortiz.

Cinco integrantes da FMLN já estão detidos desde a última quinta-feira (22/07): a ex-ministra da Saúde, Violeta Menjívar; o ex-ministro da Fazenda Juan Ramón Carlos Enrique Cáceres Chávez; a ex-vice-ministra da Ciência e Tecnologia, Erlinda Hándal; o ex-vice-ministro da Agricultura, Hugo Flores; e o ex-deputado Calixto Mejía. Outros cinco têm ordens de prisão abertas, como é o caso do ex-presidente Salvador Sánchez Cerén.

A Procuradoria ainda pode pedir que a prisão dos políticos de esquerda seja prorrogada por mais seis meses, resultando em um ano de prisão.

Prisões estão repletas de irregularidades

Segundo advogados do país, tanto as prisões como as acusações levadas a cabo contra os membros da FMLN estão “repletas de irregularidades” e ocorrem em um contexto de aprofundamento das tendências autoritárias do presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

Para a advogada salvadorenha Ruth Eleonora López, integrante da ONG de direitos humanos Cristosal, as prisões e o tratamento que os políticos de esquerda recebem por parte das autoridades têm como objetivo o escárnio público dos opositores e não respeitaram o devido processo legal.

Segundo López, o caráter arbitrário das prisões se manifesta em elementos ilegais observados no momento da abordagem policial. “No caso da ex-ministra [Violeta Menjívar] nós sabemos que ela foi presa sem ser informada do motivo de sua prisão, ou seja, as autoridades não podem simplesmente sequestrar uma pessoa”, afirmou, em entrevista a Opera Mundi.

Ainda de acordo com a especialista, “há uma seletividade, um uso de instrumentalização da justiça, já que estamos diante de casos que se está utilizando a lei para desnaturalizar o processo legal”.

Partido denuncia perseguição judicial e pede 'liberdade para presos políticos'; cinco integrantes já foram presos e outros cinco têm ordens de prisão abertas

Reprodução/FMLN

Partido denuncia perseguição judicial e pede ‘liberdade para presos políticos’

Autoritarismo

O governo do presidente Nayib Bukele tem cada vez mais, segundo observadores internacionais, encarnado um espírito autoritário, – em um país traumatizado por anos de guerra civil.  

Em fevereiro de 2020, por exemplo, sob ordens de Bukele, militares e integrantes da Polícia Nacional Civil (PNC) de El Salvador invadiram a sala de sessões da Assembleia Legislativa do país para “pressionar” pela aprovação de um empréstimo de US$ 109 milhões para financiar um plano de segurança. Na ocasião, em entrevista ao jornal El País, Bukele disse que a ordem para invadir o Parlamento foi “apenas um ato de presença” e afirmou que, se fosse um ditador, “teria assumido o controle de tudo”

Em 2021, membros do poder Judiciário do país foram destituídos pela nova Assembleia Legislativa, na qual o partido de Bukele, o Nuevas Ideas (NI), tem ampla maioria.