O cartaz bem visível na loja de conveniência anuncia o mais novo produto à disposição do cliente: “sacola plástica: $0.05” (cinco centavos de dólares canadenses, equivalentes a oito centavos de real). Antes uma cortesia para o transporte das compras, agora este é o preço mínimo pago em Toronto, Canadá, por quem utiliza a tradicional sacola de supermercado.
Desde 1º de junho, estabelecimentos são obrigados por lei a cobrar a taxa mínima para cada saco plástico e aceitar o uso de sacolas reutilizáveis ou oferecer alternativas grátis (como sacos de papel, caixas etc). A iniciativa, pioneira no país, faz parte da estratégia da prefeitura de Toronto de diminuir em 70% seus resíduos sólidos até 2010. A sacola plástica é a primeira entre outros produtos que passarão a ser cobrados separadamente pelas empresas do setor alimentício, tais como potes para armazenar alimentos e copos descartáveis.
Dados apresentados pela administração municipal estimam que, por ano, 457,6 milhões de sacolas são utilizadas em Toronto, somando 2745,6 toneladas que vão para os aterros sanitários. Boa parte deste lixo o governo acredita que pode ser diminuído com a substituição da sacola plástica pela reutilizável – a maioria feita de pano ou de materiais recicláveis.
Em entrevista ao Opera Mundi, Vicent Sferrazza, diretor de gestão dos resíduos sólidos da prefeitura, afirma que o hábito já começa a se disseminar entre a população. “As pessoas estão aprendendo a usar suas sacolas alternativas. Tem que se tornar uma rotina”, diz. A afirmação é endossada pela comerciante Mary Maselles, que já constata um aumento de 30% no uso de sacolas reutilizáveis em sua loja.
Controvérsias
Com estes resultados, o governo aposta na lei que, ao mesmo tempo, agrada ambientalistas, mas desperta descrença de alguns cidadãos e protestos no setor varejista.
Uma das polêmicas é o valor arrecadado com a nova taxa. De acordo com a Associação das Indústrias Plásticas Canadense, a cobrança de $0.05 pode gerar 44 milhões de dólares canadenses anualmente em Toronto, se o uso das sacolas mantiver-se. O dinheiro não deve ser repassado para a prefeitura, embora esta aconselhe o investimento do valor em programas ambientais.
A sugestão vem sido seguida por grandes empresas varejistas, como The Loblaws, Sobeys e Metro (com ampla campanha de marketing), porém, o mesmo nem sempre pode ser viável a médios e pequenos comércios. Segundo Maselles, se quiser melhorar os serviços em sua loja, o dono terá de tirar dinheiro do próprio bolso. “Para conseguir comprar uma sacola reutilizável, que custa um dólar, tenho que ‘vender’ 20 sacolas tradicionais. Num comércio pequeno é complicado”, expõe.
Já a consumidora Dianne Lane questiona a redução do impacto ambiental prometida. “De qualquer maneira, continuamos utilizando sacolas plásticas para jogar nosso lixo. Principalmente para quem mora em condomínios, é difícil armazená-lo em lixeiras ou fazer compostagem”, admite. Lane ainda vê com desconfiança o uso deste valor gerado pela taxa: “Não gosto de pagar por algo que não sei para onde está indo”.
Discussões pelo Canadá
A nova lei em Toronto também tem sido tema de debate por outras cidades canadenses. Calgary e Hamilton já rejeitaram medidas semelhantes, porém, Vancouver tem estudado o caso com mais interesse. Um projeto elaborado pela Câmara Municipal aguarda o relatório sobre sua natureza jurídica.
Por outro lado, a província de Manitoba propõe a expansão dos programas “take-back”, em que os clientes voltam o excesso de sacolas plásticas nas lojas. Para Darryl Drohomerski, gerente de resíduos sólidos da cidade de Winnipeg, esse tipo de programa voluntário é mais eficiente.
Vicent Sferrazza admite que o apelo financeiro não é suficiente. “Entendemos que educação é importante, por isso temos campanhas multimídias que explicam porque estamos adotando esta medida, e como o cidadão pode participar”, esclarece.
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