Barack Hussein Obama tomou posse hoje (20) como presidente dos Estados Unidos.
Leia o discurso na íntegra.
“Meus compatriotas,
Apresento-me a vocês trazendo a humildade que as tarefas que nos aguardam exige, a gratidão pela confiança que me foi dada e a consciência dos sacrifícios de nossos ancestrais. Agradeço o presidente Bush por seus serviços ao país, bem como pela generosidade e cooperação que ele demonstrou durante a transição.
Quarenta e quatro norte-americanos fizeram o juramento presidencial, até agora. As palavras foram pronunciadas em marés de prosperidade e nas águas plácidas da paz. Mas também houve momentos em que o juramento foi feito em meio a nuvens de tormenta e ao clamor da tempestade. E nesses momentos os Estados Unidos seguiram adiante não apenas por causa da visão ou talento daqueles que ocupavam seus mais altos postos, mas porque nós, o povo, nos mantivemos fiéis aos ideais de nossos predecessores e aos documentos de nossa fundação.
Foi assim no passado, e é preciso que continue a ser assim com a atual geração de norte-americanos.
Que estamos em meio a uma crise é bem sabido. Nosso país está em guerra, contra uma rede de violência e ódio cujo alcance é imenso. Nossa economia está seriamente enfraquecida, como consequência da cobiça e da irresponsabilidade de parte de alguns, mas também de nosso fracasso coletivo em fazer as escolhas difíceis que preparariam o país para uma nova era.
Casas foram perdidas; empregos destruídos; empresas fechadas. Nossos serviços de saúde são caros demais; nossas escolas fracassam demais; e cada dia traz novas provas de que a forma pela qual usamos a energia reforça nossos adversários e ameaça o planeta.
Esses são indicadores de crise, sujeitos a dados e estatísticas. Menos mensurável, mas igualmente profunda, é a perda de confiança que se espalha por nossa terra – o medo persistente de que o declínio dos Estados Unidos seja inevitável, e que a próxima geração tenha de acalentar ambições menores.
Digo-lhes hoje que os desafios que enfrentamos são reais. São sérios, e são muitos. Não será possível superá-los com facilidade ou em curto prazo. Mas a América precisa ter certeza disso: eles serão superados.
Neste dia, estamos aqui reunidos porque escolhemos a esperança em lugar do medo, a unidade de propósito em lugar do conflito e da discórdia.
Neste dia, estamos aqui para proclamar o fim das queixas comezinhas e das falsas promessas, das recriminações e dos dogmas desgastados, que por tempo demais estrangularam nossa vida política.
Continuamos a ser um país jovem mas, como afirmam os Evangelhos, chegou o momento de deixar o lado as coisas da infância. Chegou o momento de reafirmar nosso espírito duradouro; de escolher o melhor de nossa História; de levar adiante aquele precioso dom, aquela nobre idéia, transmitidos de geração a geração: a promessa divina de que todos são iguais, todos são livres e todos merecem uma chance de buscar sua felicidade mais plena.
Ao reafirmar a grandeza de nosso país, compreendemos que grandeza não surge automaticamente. Ela precisa ser conquistada. Nossa jornada jamais envolveu procurar atalhos, aceitar barganhas. Nunca foi um caminho para os fracos, para aqueles que preferem lazer ao trabalho, ou procuram apenas os prazeres da riqueza e da fama.
Em lugar disso, nosso caminho sempre recompensou aqueles que aceitam riscos, aqueles que fazem, aqueles que criam – alguns dos quais célebres, mas muito mais freqüentemente homens e mulheres que labutaram na obscuridade e nos carregaram pela longa e árdua estrada que conduz à prosperidade e à liberdade.
Por nós, eles empacotaram suas parcas posses e atravessaram oceanos em busca de uma nova vida.
Por nós, eles batalharam em fábricas precárias e colonizaram o oeste, suportaram a dor das chibatadas e araram a terra sem descanso.
Por nós, eles lutaram e morreram em lugares como Concord e Gettysburg, a Normandia e Khe Sahn.
Vezes sem conta esses homens e mulheres lutaram, se sacrificaram e trabalharam sem descanso para que pudéssemos levar uma vida melhor. Eles viam a América como algo maior que a soma de nossas ambições individuais, maior que todas as diferenças de nascimento, riqueza ou facção.
É esta a jornada que devemos continuar hoje. Continuamos a ser a mais próspera e a mais poderosa nação da Terra. Nossos trabalhadores não são menos produtivos do que eram quando começou a crise. Nossas mentes não se tornaram menos inventivas, nossos bens e serviços não são menos necessários do que eram na semana, no mês ou no ano passado. Nossa capacidade permanece inalterada. Mas o tempo da inação, da proteção a interesses estreitos e de adiar decisões desagradáveis certamente é passado. A partir de hoje, devemos nos reerguer, reencontrar nossas forças e iniciar o trabalho de reconstruir a América.
Pois onde quer que olhemos há trabalho a ser feito. O estado da economia requer ação, audaciosa e rápida – e agiremos, não só para criar novos empregos mas para deitar uma nova fundação para o crescimento.
Construiremos as estradas e pontes, as redes elétricas e as linhas digitais que alimentam nosso comércio e nos mantêm unidos. Restauraremos a posição que a ciência merece, e utilizaremos as maravilhas da tecnologia para melhorar a qualidade dos serviços de saúde e reduzir seu custo.
Aproveitaremos o sol, os ventos e a terra para abastecer nossos automóveis e acionar nossas fábricas. E transformaremos nossas escolas, faculdades e universidades a fim de que possam atender às exigências de uma nova era. Temos a capacidade de fazer tudo isso. E o faremos.
Existem aqueles que questionam a escala de nossas ambições, que sugerem que nosso sistema não é capaz de tolerar grandes planos em número excessivo. As memórias dessas pessoas são curtas. Esqueceram-se daquilo que este país já realizou; daquilo que homens e mulheres livres podem realizar quando suas imaginações se unem a serviço de um propósito comum, e quando necessidade e coragem caminham de mãos dadas.
O que os cínicos não conseguem compreender é que o terreno mudou por sob seus pés que as discussões políticas fatigadas que consumiram nossas atenções por tanto tempo já não se aplicam. A questão que perguntamos hoje não é se o nosso governo é grande demais ou pequeno demais, mas sim se ele funciona se ele ajuda as famílias a encontrar empregos com salários decentes, serviços de saúde que elas possam pagar, aposentadorias dignas. Se a resposta for positiva, seguiremos adiante. Se for negativa, programas serão cancelados. E aqueles de nós que administram o dinheiro do povo terão de mostrar responsabilidade – gastar de maneira sábia, reformar seus maus hábitos e trabalhar à luz do dia-, porque só eles podem restaurar a confiança essencial entre o povo e seu governo.
E tampouco temos de decidir se o mercado é uma força positiva ou negativa. Seu poder de gerar riqueza e expandir a liberdade é incomparável, mas a crise serviu para nos lembrar que, sem fiscalização atenta, o mercado pode escapar ao controle, e que um país não poderá prosperar por muito tempo caso beneficie apenas aos mais prósperos.
O sucesso de nossa economia sempre dependeu não apenas do tamanho do nosso Produto Interno Bruto mas do alcance de nossa prosperidade; de nossa capacidade para expandir as oportunidades de forma a que estejam disponíveis para quem quer as deseje – e não por caridade, mas sim porque essa é a mais segura rota para o bem comum.
Quanto à nossa defesa comum, rejeitamos como falsa a noção de que é preciso escolher entre a segurança e os nossos ideais. Os fundadores da nação, diante de perigos que mal conseguimos imaginar, redigiram uma carta básica que garantia o Estado de Direito e os direitos humanos, uma carta expandida à custa do sangue de muitas gerações. Essas idéias continuam a iluminar o mundo, e não as abandonaremos em nome do oportunismo.
E assim, a todos os outros povos e governos que estão nos assistindo hoje, das maiores capitais à pequena aldeia onde meu pai nasceu: saibam que os Estados Unidos são amigos de todas as nações e de todos os homens, mulheres e crianças que desejem um futuro de paz e dignidade, e que estamos prontos a liderar, uma vez mais.
Lembrem-se de que as gerações passadas enfrentaram o fascismo e o comunismo não apenas com mísseis e tanques mas com alianças firmes e convicções duradouras. Elas compreendiam que a força apenas não basta para nos proteger, e não nos confere o direito de fazer tudo que quisermos. Em lugar disso, sabiam que nosso poder cresce quando é usado com prudência; nossa segurança emana da justiça de nossa causa, da força do nosso exemplo, e da humildade e da contenção, qualidades que nos ajudam a moderá-la.
Cabe a nós preservar esse legado. Se voltarmos a ser orientados por esses princípios, seremos capazes de enfrentar as novas ameaças que exigem ainda mais esforço, e ainda mais cooperação e entendimento entre as nações. Começaremos a entregar o Iraque responsavelmente ao governo de seu povo, e criaremos uma paz trabalhosa mas duradoura no Afeganistão.
Com velhos amigos e antigos inimigos, trabalharemos de modo incansável para reduzir a ameaça nuclear e reverter o perigo do aquecimento global. Não nos desculparemos por nosso modo de vida, e tampouco vacilaremos ao defendê-lo, e para aqueles que procuram atingir seus objetivos causando terror e massacrando inocentes, temos a dizer apenas que nossos espíritos são mais fortes que os deles, e nada poderá alquebrá-los. Nossos inimigos não conseguirão perdurar, e nós os derrotaremos.
Porque sabemos que a multiplicidade de nossas heranças é fonte de força e não de fraqueza. Somos um país de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus e descrentes. Fomos influenciados por todos os idiomas e culturas, vindos de todos o quadrantes da terra, e, porque provamos o sabor amargo da guerra civil e da segregação e emergimos dessa experiência sombria mais fortes e mais unidos, não nos resta senão acreditar que os velhos ódios um dia passarão; que as divisões entre as tribos em breve se dissolverão; que, à medida que o mundo diminui, nossa humanidade comum se revelará; e que os Estados Unidos precisam desempenhar o seu papel para promover uma nova era de paz.
Para com o mundo muçulmano, procuramos um novo meio de avançar, com base nos interesses e no respeito mútuos. Para os líderes de todo o mundo que procuram semear conflitos ou imputam ao Ocidente a culpa pelos males de suas sociedades saibam que seus povos os julgarão com base naquilo que puderem construir, e não no que destroem.
Para aqueles que se apegam ao poder pela corrupção, trapaça e repressão aos dissidentes, saibam que vocês estão do lado errado da História, mas que estamos dispostos a lhes estender a mão, se não formos recebidos por um punho cerrado.
Aos povos dos países pobres, prometemos trabalhar com vocês para fazer com que suas fazendas floresçam e que as águas corram límpidas; para nutrir os corpos famintos e alimentar as mentes ávidas. E para as nações como a nossa, que desfrutam de relativa abundância, temos a dizer que não é mais possível manter a indiferença ao sofrimento do lado de lá de nossas fronteiras, e tampouco podemos consumir os recursos do planeta sem considerar os efeitos. Pois o mundo mudou, e é preciso que mudemos com ele.
Ao contemplarmos a estrada que temos a percorrer, recordamos com humilde gratidão os bravos norte-americanos que, neste exato instante, patrulham desertos longínquos e montanhas distantes. Eles têm algo a nos dizer hoje, da mesma maneira que os heróis sepultados em Arlington sussurram para a posteridade. Nós os honramos não apenas porque são os guardiões de nossa liberdade mas porque personificam o espírito do serviço público: a disposição de encontrar significado em algo maior do que eles mesmos. E neste momento um momento que definirá uma geração – é exatamente esse espírito que deve habitar-nos a todos.
Pois por mais que um governo possa e deva fazer, em última análise a fé e determinação do povo norte-americanos é que embasam esta nação. É a gentileza com que um estranho é acolhido quando as barragens se rompem, a abnegação de trabalhadores que preferem trabalhar menos horas a ver colegas perderem os empregos, que nos conduzem nas horas mais escuras. É a coragem do bombeiro que penetra sem hesitar em um corredor enfumaçado, mas também a disposição de um pai ou mãe a cuidar de seu filho, que terão a palavra final quanto ao nosso destino.
Nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com que os enfrentamos podem ser novos. Mas os valores dos quais nosso sucesso depende trabalho duro e honestidade, coragem e lealdade, tolerância e curiosidade, fidelidade e patriotismo- vêm do passado, e são verdadeiros. São eles que representam a silenciosa força que moveu nosso progresso ao longo das décadas.
O que precisamos é retornar a eles – o reconhecimento, da parte de cada norte-americano, de que temos deveres para conosco, para com nosso país e para com o mundo, deveres que não aceitamos relutantemente mas sim recebemos com alegria, firmes no conhecimento de não existe nada tão satisfatório para o espírito, nada que ajude tanto a definir o caráter, quanto dar o máximo a serviço de um objetivo difícil.
Esse é o preço e a promessa da cidadania.
Essa é a força de nossa confiança – o conhecimento de que Deus nos atribui a tarefa de dar forma a um destino incerto.
Esse é o significado de nossa liberdade e de nosso credo – o motivo para que homens, mulheres e crianças de todas as raças e todas fés estejam unidos para celebrar nesse cenário magnífico, e para que um homem cujo pai nem mesmo seria servido em um restaurante menos de 60 anos atrás possa hoje estar diante de vocês para fazer o mais sagrado dos juramentos.
Assim, que este dia seja dedicado a recordar quem somos e o longo caminho que percorremos. No ano em que os Estados Unidos nasceram, no mais frio dos meses, um pequeno bando de patriotas estava unido em torno das bruxuleantes fogueiras de um acampamento militar à beira de um rio congelado. A capital havia sido abandonada. As tropas inimigas estavam avançando. A neve estava manchada de sangue. Em um momento no qual o destino de nossa revolução estava em dúvida, o pai de nosso país ordenou que as seguintes palavras fossem lidas ao povo:
“Que o mundo futuro saiba que, nas profundezas do inverno, quando nada exceto a esperança e virtude era capaz de sobreviver, que cidade e campo, alarmados diante do perigo comum, saíram em campanha para enfrentá-lo.”
Meus compatriotas. Diante dos perigos comuns, neste inverno de nosso sofrimento, é hora de recordar aquelas palavras imortais. Com esperança e virtude, enfrentemos uma vez mais a correnteza gélida, suportemos as tempestades que nos aguardam.
Que os filhos de nossos filhos um dia venham a dizer que, sujeitos ao teste, não permitimos que essa jornada se encerrasse, não recuamos e não vacilamos; com os olhos fixos no horizonte e trazendo conosco a graça do Senhor, nós carregamos conosco o precioso dom da liberdade e o entregamos em segurança às futuras gerações.
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