O presidente dos Estados Unidos e outros líderes do G20 chegaram nesta sexta-feira (08/09) a Nova Délhi para participar, no fim de semana, da reunião de cúpula em que a Índia tentará iniciar um diálogo sobre a Ucrânia e a mudança climática. Nesta véspera do início oficial do evento, o premiê indiano, Narendra Modi, recebeu o presidente norte-americano, Joe Biden, para uma reunião bilateral – em mais um sinal de proximidade entre as duas potências.
Enquanto isso, o líder russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping decidiram não participar da cúpula. A ausência de dois governantes de peso deixam o caminho livre para que Biden tenha um papel central na cúpula.
A América Latina estará representada pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cujo país assumirá a presidência do bloco depois da Índia, e pelo argentino Alberto Fernández.
Lula chegou à Índia no final desta sexta-feira (08/09). A agenda dele inclui, até o momento, reuniões bilaterais com os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, entre outros. Na pauta prioritária do brasileiro, estão o combate à pobreza, às mudanças climáticas e uma reforma na governança global, incluindo instituições como o Conselho de Segurança da ONU.
Modi recebe Biden
Os governantes dos países do G20 estão divididos sobre temas cruciais, como a invasão russa da Ucrânia, a meta de abandonar gradualmente os combustíveis fósseis e a reestruturação da dívida mundial. As divergências vão dificultar o entendimento para uma declaração final do evento, no domingo (10/09).
O presidente norte-americano, Joe Biden, chegou a Nova Délhi no início da noite desta sexta e sua agenda na Índia começou com uma reunião bilateral com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi – a quem recebeu com grande pompa na Casa Branca, em junho.
Um comunicado da Casa Branca indica que, na reunião, Biden reafirmou o seu apoio ao acesso da Índia a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, caso a instituição passe por uma reforma. Eles também discutiram questões de cooperação em defesa, energias renováveis e direitos humanos.
O governo dos Estados Unidos tenta fortalecer os vínculos com a Índia, em meio a uma disputa com a China, enquanto Nova Délhi busca consolidar sua liderança regional e internacional. Essa aproximação ocorre num contexto em que o xadrez da geopolítica mundial está em plena movimentação, com a guerra na Ucrânia e a China procurando expandir sua influência global.
A Rússia será representada pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que já está na Índia, e a delegação chinesa será liderada pelo primeiro-ministro Li Qiang.
Divisões profundas
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou nesta sexta-feira que o mundo parece uma família “disfuncional”, em meio a uma crescente polarização que pode resultar em mais conflitos. “Se somos realmente uma família global, hoje parecemos uma família bastante disfuncional”, disse Guterres em coletiva de imprensa.
“As divisões estão crescendo, as tensões estão surgindo e a confiança está se desgastando, o que em conjunto levanta o espectro da fragmentação e, em última instância, do confronto”, alertou.
O presidente norte-americano espera aproveitar o encontro de cúpula para demonstrar que o bloco, apesar das divisões, continua sendo o principal fórum de cooperação econômica mundial. O governo dos Estados Unidos monitora “cuidadosamente” os desafios econômicos da China, como o consumo interno mais frágil que o esperado, o endividamento do setor imobiliário e os desafios demográficos, destacou em Nova Délhi a secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen.
A secretária disse que tem consciência do risco da situação chinesa para o crescimento mundial, mas afirmou que, “em geral, a economia global tem sido resiliente”. Ela acrescentou que “a influência negativa mais importante é a guerra russa na Ucrânia”.
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Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, assumirá a presidência do bloco
Um bloqueio 'escandaloso'
O G20 também está rachado sobre a invasão russa do território ucraniano. Além disso, vários países em desenvolvimento do grupo estão mais preocupados com os preços dos grãos do que com as condenações diplomáticas a Moscou.
Os esforços de Modi para que os líderes do G20 evitem as divisões e abordem os problemas mundiais de forma mais ampla, em particular a reestruturação da dívida mundial e a volatilidade dos preços das commodities após a invasão da Ucrânia, que não apresentaram resultados nas reuniões ministeriais anteriores à cúpula.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, declarou nesta sexta-feira à imprensa que é “francamente escandaloso que a Rússia, depois de acabar com a iniciativa de grãos no Mar Negro, bloqueie e ataque os portos ucranianos”.
Modi também reafirmou, na quinta-feira, o desejo de expandir o G20 com “a inclusão da União Africana como membro permanente”. Esta pode ser uma das decisões mais importantes do encontro.
“Estou muito satisfeito de receber a União Africana como membro permanente do G20 e estou orgulhoso pela UE ter reagido imediatamente de forma positiva para apoiar esta candidatura”, disse Michel. “Vamos esperar para ver qual será a decisão, mas uma coisa é certa: a UE apoia a adesão da África ao G20”, acrescentou.
Divergências também sobre a crise climática
O chefe de Governo indiano também pediu aos líderes do G20 que apoiem “financeira e tecnologicamente os países em desenvolvimento na luta contra a mudança climática”. Três questões-chave estarão sobre a mesa em Nova Délhi: a triplicação das capacidades globais em termos de energias renováveis, a redução gradual da utilização de combustíveis fósseis como o carvão e o financiamento da transição verde nos países em desenvolvimento.
Em julho, os ministros da Energia dos países do G20, no entanto, não apresentaram um roteiro para a redução das emissões, nem sequer mencionaram o carvão na sua declaração final, embora seja um dos principais contribuintes para o aquecimento global
“Os comunicados que foram publicados são infelizmente inadequados”, disse Simon Stiell, da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNCCC), à AFP esta semana. A ausência de compromissos sólidos em matéria de clima seria um fracasso “potencialmente catastrófico” para estes países, responsáveis por 80% das emissões de gases com efeito de estufa, alertou a Anistia Internacional na quinta-feira (07/09).