O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quarta-feira (23/08) da sessão plenária ampliada da 15ª cúpula do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). No discurso, defendeu a criação de uma moeda comum para transações comerciais entre os membros do grupo.
Para Lula, a criação de uma moeda comum no bloco aumenta as “opções de pagamento”, auxiliando na “redução de vulnerabilidades': “por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), podemos oferecer alternativas próprias de financiamento, adequadas às necessidades do Sul Global“, disse.
Ao remeter o papel da instituição financeira, chamada de banco do Brics, Lula disse ter certeza que o NDB estará à “altura desses desafios”, exaltando a liderança da ex-presidente Dilma Rousseff no comando do Novo Banco de Desenvolvimento.
O presidente brasileiro já apresentou uma proposta semelhante de moeda comum para o Mercosul, como parte de uma estratégia para diminuir a dependência em relação ao dólar, moeda padrão em transações internacionais.
Assim como em outras ocasiões, Lula destacou ainda que o “endividamento restringe o desenvolvimento sustentável” das nações emergentes, declarando ser “inadmissível que os países em desenvolvimento sejam penalizados com juros até oito vezes mais altos do que os cobrados dos países ricos”.
“Precisamos de um sistema financeiro internacional que, ao invés de alimentar as desigualdades, ajude os países de baixa e média renda a implementar mudanças estruturais”, comentou Lula diante dos outros líderes do bloco: Xi Jinping, da China; Cyril Ramaphosa, África do Sul; primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e chanceler russo Sergey Lavrov.
Paz na Ucrânia
O discurso de Lula também tocou em outros assuntos, como o conflito entre Rússia e Ucrânia. O presidente brasileiro disse que seu país tem uma posição “histórica de defesa da soberania, da integridade territorial e de todos os propósitos e princípios das Nações Unidas”.
Mas também salientou que o Brasil “não contempla fórmulas unilaterais para a paz“, defendendo que Brasília está “pronta” para “juntar a um esforço que possa contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura”.
Ricardo Stuckert
Cúpula do Brics acontece em Joanesburgo, na África do Sul, até esta quinta-feira (24/08)
“Achamos positivo que um número crescente de países estejam em contato com Moscou e Kiev. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e à destruição. […] Todos sofrem as consequências da guerra, que evidencia as limitações do Conselho de Segurança. Muitos outros conflitos e crises não recebem a atenção devida, mesmo causando vasto sofrimento para suas populações”, reforçou Lula, citando Haiti, Iêmen, Síria, Líbia, Sudão e Palestina.
Segundo Lula, o Brics não pode “se furtar a tratar o principal conflito da atualidade, que ocorre na Ucrânia e tem efeitos globais”, destacando ainda que o mundo regrediu para uma “mentalidade obsoleta da Guerra Fria e da competição geopolítica”.
“Essa é uma insensatez que gera grandes incertezas e corrói o multilateralismo. O mundo precisa compreender que os riscos são inaceitáveis para a humanidade”, afirmou.
As mudanças climáticas e os países ricos
Ainda na Cúpula do Brics, Lula ressaltou que os países ricos são os principais responsáveis pela crise climática e cobrou maior financiamento para as nações em desenvolvimento.
“É muito difícil combater a mudança do clima enquanto tantos países em desenvolvimento ainda lidam com a fome, a pobreza e outras violências. Os grandes responsáveis pelas emissões de carbono que causaram a crise climática foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e alimentaram um extrativismo colonial predatório”, afirmou o mandatário.
Lula declarou ainda que os países ricos têm “uma dívida histórica com o planeta Terra e com a humanidade” e que é preciso “valorizar o Acordo de Paris e a Convenção do Clima, em vez de terceirizar as responsabilidades climáticas para o Sul global”, destacando que a Cúpula da Amazônia, realizada em 8 e 9 de agosto, em Belém, foi um “marco para a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável mais justo“.
De acordo com ele, para que as “promessas já feitas pelos países ricos sejam cumpridas, o financiamento climático e de biodiversidade deve ser verdadeiramente novo e adicional em relação ao financiamento ao desenvolvimento”, disse o presidente, ressaltando que o Brasil está “recuperando seu protagonismo ambiental“.
(*) Com Ansa.