O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta segunda-feira (30/01) a primeira visita oficial de Estado em seu terceiro mandato no Palácio do Planalto.
O visitante foi o chanceler alemão Olaf Scholz, que realizou no Brasil a última parada de sua turnê pela América do Sul, que passou antes por Chile, para encontro com o presidente Gabriel Boric, e depois por Buenos Aires, onde foi recebido pelo mandatário Alberto Fernández.
Em Brasília, Lula e Scholz conversaram sobre mudanças climáticas, proteção da Amazônia, acordos comerciais, multilateralismo e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Após a reunião bilateral, os dois chefes de estado ofereceram uma coletiva conjunta no Palácio do Planalto. Entre os jornalistas alemães presentes na entrevista era claro o interesse sobre a posição de Lula e do Brasil a respeito do conflito na região do Donbass, entre o exército russo e as forças ucranianas apoiadas pelo Ocidente.
Contribuição para a paz
Sobre esse tema, Lula afirmou que a posição do Brasil é a de “tentar contribuir para a paz”. O presidente se colocou à disposição para participar de uma possível comissão para negociar a paz entre Moscou e Kiev, a qual, segundo ele, deveria envolver diversos países e líderes mundiais.
“Eles [Rússia e Ucrânia] parecem que já estão tão envolvidos no conflito que já não sabem como parar, então é preciso que exista um esforço de fora para trazer os dois lados para uma negociação que vise encontrar um ponto em comum para a paz”, explicou Lula.
O presidente enfatizou que o Brasil é um “país de paz”. “Nesse momento, precisamos encontrar quem quer a paz, palavra que até agora foi muito pouco utilizada”, disse.
Lula também ressaltou que, “países como a China e como a Índia, e outras potências emergentes” também devem se “envolver mais nesse conflito, para buscar uma solução. […] Se eu for à China em março, quero conversar sobre a paz entre Rússia e Ucrânia com o presidente Xi Jinping”.
Sobre uma das principais preocupações da imprensa alemã presente na coletiva, o presidente brasileiro deixou claro que o Brasil “não tem interesse em passar munições para que sejam utilizadas na guerra entre Ucrânia e Rússia”.
Ricardo Stuckert
Ao receber Olaf Scholz no Palácio do Planalto, em Brasília, Lula afirmou que pretende ajudar nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia
Mercosul, União Europeia, OCDE e OMC
A entrevista também abordou temas relacionado à participação do Brasil em organismos internacionais. Lula assegurou que o país fará esforços para colocar em prática ainda este ano o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
Também ressaltou que o Brasil estudará seu possível ingresso à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) e que cobrará dos países desenvolvidos a recuperação da Organização Mundial do Comércio (OMC) como instância de discussão para um diálogo mais justo entre os países.
“Queremos fechar o acordo Mercosul-União Europeia até o fim do semestre, se possível. E queríamos que a Alemanha contribuísse para que a OMC voltasse a funcionar”, insistiu Lula.
Scholz reconhece Brasil ausente durante Bolsonaro e diz a Lula: ‘vocês fizeram falta’
Por sua parte, Scholz assegurou que os obstáculos para esse acordo nos últimos anos era a falta de compromisso do anterior governo brasileiro com a proteção da Amazônia, o que já não é mais um problema, já que a gestão alemã reconhece em Lula uma administração que pretende retomar o cuidado da floresta como uma de suas políticas prioritárias.
O retorno da cooperação entre Brasil e Alemanha não ficou só nas palavras. O mandatário germânico anunciou que o país já enviou 192 milhões de reais, de um pacote de 1,1 bilhão, que será repassado até o final do ano, referentes à retomada da ajuda financeira do Fundo Amazônia – interrompida em 2019 devido ao desmatamento recorde na floresta durante o governo de Jair Bolsonaro.
Scholz não escondeu a satisfação pelo retorno das relações entre Alemanha e Brasil, dizendo a Lula que “vocês fizeram falta”, dando a entender que o período com Bolsonaro na Presidência foi marcado pela ausência do país nos grandes debates internacionais”.
“Ao Brasil cabe um papel fundamental no clima do nosso planeta. Sem a proteção das florestas tropicais no Brasil e na América Latina, não conseguiremos atingir os objetivos do Acordo de Paris e garantias básicas para nossa existência”, enalteceu o chanceler alemão.