Em seu discurso na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (19/09), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância de fortalecer as ações para enfrentar a crise climática que assola o planeta, mas defendeu que é a maior parte do financiamento dessas mesas deve ser responsabilidade dos países mais ricos do mundo, por serem os principais causadores desse cenário.
Segundo Lula, “agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas. Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima”.
“A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado. Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas. São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pela mudança do clima. Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera. Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo”, acrescentou o presidente brasileiro.
Lula também destacou que o Brasil “já provou e vai provar de novo que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível. Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo: 87% da nossa energia elétrica provem de fontes limpas e renováveis”.
“A geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel (do Brasil) cresce a cada ano. É enorme o potencial de produção de hidrogênio verde. Com o Plano de Transformação Ecológica, apostaremos na industrialização e infraestrutura sustentáveis”.
Cúpula da Amazônia de Belém do Pará
Lula também defendeu, em seu discurso, uma maior importância à Amazônia como mais importante bioma do planeta, e reforçou a necessidade de preservá-la.
Nesse sentido, afirmou que seu governo retomou uma “robusta e renovada agenda amazônica, com ações de fiscalização e combate a crimes ambientais, por isso, ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%”.
Outro ponto importante da fala do mandatário brasileiro foi o fortalecimento da cooperação entre os países amazônicos, a partir da Cúpula da Amazônia, realizada em agosto passado, em Belém do Pará.
“O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si. Sediamos, há um mês, a Cúpula de Belém, no coração da Amazônia, e lançamos nova agenda de colaboração entre os países que fazem parte daquele bioma. Somos 50 milhões de sul-americanos amazônidas, cujo futuro depende da ação decisiva e coordenada dos países que detêm soberania sobre os territórios da região”, ressaltou.
Ricardo Stuckert
Lula recordou a Cúpula da Amazônia, em Belém do Pará, durante seu discurso na ONU
O líder brasileiro acrescentou que houve um aprofundamento do diálogo com países detentores de florestas tropicais da África e da Ásia. “Queremos chegar à COP 28 em Dubai com uma visão conjunta que reflita, sem qualquer tutela, as prioridades de preservação das bacias Amazônica, do Congo e do Bornéu-Mekong a partir das nossas necessidades”, frisou.
“Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade. A promessa de destinar 100 bilhões de dólares (anualmente) para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa. Hoje esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares”, completou Lula.
Reforma da ONU
A reforma do sistema ONU foi mais um ponto crucial do discurso do presidente brasileiro, realizado nesta terça-feira.
No trecho final do seu discurso, Lula lembrou que “a ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo”, e complementou dizendo que “a comunidade internacional precisa escolher: de um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito; de outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz”.
“As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados. Além de não alcançarem seus alegados objetivos, dificultam os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica de conflitos. O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo”, insistiu o mandatário.
O presidente brasileiro assegurou que o Brasil vai manter uma postura “crítica a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria” e reivindicou uma ampliação no Conselho de Segurança da ONU, que, segundo ele, “vem perdendo progressivamente sua credibilidade”.
“Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia. A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano”, explicou.
Lula concluiu seu discurso dizendo que “somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo a nosso redor”.
“A ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Mas só o fará se seus membros tiverem a coragem de proclamar sua indignação com a desigualdade e trabalhar incansavelmente para superá-la”, finalizou o líder brasileiro.
78ª Assembleia da ONU
O discurso do presidente Lula na abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, ganhou proporções históricas ao abordar praticamente todos os principais desafios da humanidade na atualidade e por imprimir uma visão do Sul Global diante desses temas.
Este foi o seu retorno ao Parlamento mundial após 14 anos. Em suas primeiras palavras, Lula recordou não aquele último discurso, e sim o primeiro. “Há 20 anos, ocupei esta tribuna pela primeira vez, e disse, naquele 23 de setembro de 2003, ‘que minhas primeiras palavras diante deste Parlamento Mundial sejam de confiança na capacidade humana de vencer desafios e evoluir para formas superiores de convivência’. Volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na humanidade”.
O mandatário brasileiro disse que seu retorno a Nova York é “um triunfo da democracia” no Brasil, e que o país “está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais”.
Veja o discurso de Lula durante 78ª Assembleia da ONU na íntegra: