Dez dos maiores bancos norte-americanos foram autorizados hoje (9) pelo Departamento do Tesouro a pagar o empréstimo de 68,3 bilhões de dólares concedido pelo governo desde outubro do ano passado, após a eclosão da crise econômica.
O pagamento dos empréstimos foi possível porque os bancos conseguiram travar seus prejuízos, suas ações subiram e o Dow Jones, índice da bolsa de Nova York, estabilizou.
Em outubro, numa manobra avalizada pelos então candidatos presidenciais, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain, o ex-presidente George W. Bush entregou um auxílio de 239 bilhões de dólares a 27 bancos e entidades de crédito afetadas pela crise.
Pelo menos 25% desse montante, precisamente 68,3 bilhões, foi entregue aos 10 bancos e entidades financeiras hoje autorizados a liquidar a dívida. São eles: American Express, Morgan Stanley, Bank of New York Mellon, BB&T Corporation, Capital One Financial, State Street Corporation, Northern Trust, US Bancorp, JPMorgan e Goldman Sachs.
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O plano de liquidação da dívida previa que no segundo trimestre deste ano, esses bancos devolvessem 25% do valor do empréstimo. Mas devolveram tudo.
De fora, ficaram importantes bancos como o Bank of America e o Citigroup, porque ainda não conseguiram recuperar o valor de suas ações, que caíram entre 50% e 70%.
No caso dos bancos que pagaram, ocorreu o contrário. Só o Morgan Stanley viu suas ações subirem 200% e conseguiu beneficiar-se da estabilização do Dow Jones.
“Pode-se dizer que os contribuintes americanos acabaram por ganhar dinheiro com tudo isto”, comentou o presidente Barack Obama, ao anunciar a autorização para o pagamento da dívida.
Como os banqueiros queriam
Quando o governo criou o pacote de resgate dos bancos, colocou como condição que estes só poderiam pagar a dívida após mostrar liquidez, sujeita a uma confirmação do Departamento do Tesouro, que foi o que aconteceu hoje.
O pagamento da dívida era um desejo dos banqueiros, porque sua manutenção implicava assumir uma série de obrigações, como os impostos. A esperança era escapar ao olho vigilante do governo, por causa do uso de fundos públicos.
Mas Obama jogou neles um balde de água fria. “A devolução dos empréstimos não justifica comportamentos do passado nem futuros disparates”, acrescentou o presidente, avisando que o Departamento do Tesouro continuará em cima dos bancos.
“Todos eles, no fundo, queriam sair deste problema com o suficiente capital, mas também o mais depressa possível, porque receber ajuda financeira do governo não é muito prestigioso para os bancos”, comentou Brian R. Sterling, um banqueiro de investimentos da Sandler O’Neill, em Nova York.
Com este pagamento, ficaram para trás uns 17 bancos que não conseguiram quitar a primeira prestação do empréstimo. Segundo o economista Jorge Sanguinetti, o mais provável é que não sejam penalizados, mas também já foram avisados do que lhes espera. “As coisas estão claras. Se não pagam, desaparecem”, afirmou.
Os próximos
Segundo o FED (Federal Reserve, o banco central do país), tudo aponta que nas próximas semanas 12 pequenos bancos serão autorizados a liquidar suas dívidas, mas o mais provável, dizem especialistas, é que só o façam parcialmente.
Por outro lado, o pagamento antecipado da dívida dos 10 maiores bancos deu ao governo a oportunidade de acelerar a implementação de um plano de controle bancário que vinha desenhando discretamente.
Segundo o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, como a economia norte-americana está dando sinais de recuperação, na próxima semana a administração Obama vai anunciar o plano de reforma de regulação do sistema financeiro.
Ainda não são conhecidos muitos detalhes do plano, mas segundo explicou Geithner hoje numa audiência no Senado, estará orientado não só aos bancos como também aos mercados cambiais, salários dos executivos bancários, fundos de investimentos de alto risco.
No caso dos investimentos de alto risco, estes passariam a estar controlados por um organismo, a ser criado em separado do FED.
Pouco depois que o secretário do Tesouro revelou os planos da Casa Branca, o senador democrata Christopher Dodd avisou que, antes da reforma do sistema financeiro, o Congresso vai continuar a prestar atenção à reforma de saúde, atualmente em discussão. Quanto muito, disse o senador, “vamos discutir isso depois das férias de agosto”.
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