A organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou nesta quinta-feira (18/02) um relatório em que afirma que os ataques a hospitais na Síria são “deliberados” e um “método de guerra” no conflito que está prestes a completar cinco anos e que já deixou mais de 450 mil mortos, segundo um centro de pesquisas sírio.
No relatório, que traz dados da atuação da MSF na Síria em 2015, a ONG afirma que 63 centros médicos apoiados por ela foram alvo de 94 bombardeios aéreos e terrestres, que deixaram 81 membros da equipe médica mortos e causaram a destruição total de 12 hospitais.
“O número de estruturas médicas apoiadas pela MSF é apenas uma fração do total de centros médicos improvisados e oficiais na Síria, portanto isto deve ser considerado como uma amostra relativamente pequena da real extensão da destruição e dos danos causados pela guerra à infraestrutura de saúde e às equipes médicas no país”, afirmou a organização.
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Equipes de resgate trabalham nos escombros do hospital da MSF bombardeado em Idlib na última segunda-feira
A MSF afirma que em quatro destes ataques a hospitais foi utilizada a estratégia militar denominada “double-tap”, em que um alvo é atacado duas vezes em um curto período de tempo com o objetivo de atingir as equipes de resgate no local. “Isso indica que estes ataques vão além da violência indiscriminada, utilizando ataques contra equipes de resgate, incluindo profissionais médicos, como um método de guerra”, diz a organização.
O relatório da MSF foi divulgado dias após um bombardeio a um hospital da organização na província de Idlib na segunda-feira (15/02) ter deixado pelo menos 25 mortos e destruído a estrutura que atendia a população da região. A MSF afirma que o ataque foi perpetrado por forças em apoio ao governo sírio e o Observatório Sírio de Direitos Humanos alega ter sido realizado por forças russas.
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A Rússia nega as acusações, enquanto a Síria acusa a coalizão liderada pelos EUA pelo bombardeio. O embaixador sírio na ONU, Bashar Jafaari, afirmou no dia seguinte ao ataque que o hospital atingido havia sido estabelecido à revelia do governo de Bashar al Assad e que a MSF é “um braço da inteligência francesa operando na Síria”. “Eles que assumam as consequências de seus atos, já que não consultaram o governo sírio” antes de operar, disse Jafaari.
A organização afirma no relatório que o governo sírio classifica como ilegal a atuação de centros médicos em território dominado por forças opositoras e que por isso tem tido que trabalhar “clandestinamente” em algumas áreas, já que não tem permissão para atuar em áreas controladas pelo governo e não trabalha em áreas controladas por militantes do grupo extremista Estado Islâmico (EI).
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Escombros do hospital da MSF atingido em Idlib na última segunda-feira (15/02)
Ofensiva contra civis
A MSF afirma que, em 2015, entre 30 e 40% do total de pessoas atendidas nos 70 centros médicos apoiados pela organização no país eram mulheres e crianças, um indício do impacto da guerra na população civil síria.
Segundo a ONG, tanto os grupos armados no terreno quanto as nações envolvidas nas coalizões militares bombardeando diferentes alvos no país estão violando leis humanitárias internacionais ao desobedecer resoluções da ONU que proíbem ataques contra a população e contra infraestrutura civil.
“Após cinco anos de guerra, a infraestrutura de saúde na Síria foi dizimada, com um grande número de estruturas médicas fechadas ou destruídas como resultado da violência indiscriminada e de equipes médicas tendo que fugir em busca de segurança ou ser morta ou ferida” em ataques, diz a organização.