Mais de 750 covas não identificadas foram encontradas nesta quinta-feira (24/06) no terreno de uma antiga escola católica para indígenas no Canadá.
“Começamos nossas escavações em 2 de junho e, até nesta quarta-feira (23/06), havíamos localizado 751 sepulturas não marcadas”, disse à imprensa local o chefe do povo nativo Cowessess, Cadmus Delorme. “Não se trata de uma vala comum, são sepulturas sem identificação”, acrescentou.
As covas foram achadas no terreno da antiga escola Marieval, na província de Saskatchewan, no centro-oeste do Canadá. No fim de maio, já haviam sido descobertos os restos mortais de 215 crianças em um ex-colégio católico em Kamloops, na província da Colúmbia Britânica, na porção ocidental do país.
Essas descobertas jogam luz sobre um período obscuro da história do Canadá, onde crianças indígenas eram tiradas à força de suas comunidades para serem levadas a internatos do governo geridos pela Igreja Católica.
O objetivo era fazer essas crianças serem assimiladas pela cultura dominante no país. Além de ser obrigados a abandonar seus costumes e sua língua nativa, esses indígenas eram alvos frequentes de abusos sexuais e físicos.
Segundo Delorme, é provável que as covas encontradas em Saskatchewan um dia tenham sido nomeadas, mas “representantes da Igreja Católica removeram as lápides” porque tratavam o cemitério clandestino como uma “cena de crime”.
G. C. Cowper. Canada. Department of Mines and Technical Surveys. Library and Archives Canada/ Flickr
Antiga escola Marieval, na província de Saskatchewan, fica no centro-oeste do Canadá
“O mundo está observando o Canadá enquanto desenterramos as descobertas do genocídio”, disse o líder da Federação das Nações Indígenas Soberanas, Bobby Cameron. “O Canadá será conhecido como o país que tentou exterminar as Primeiras Nações [do inglês ‘First Nations’, como são chamados os povos indígenas no país]”, acrescentou.
Após a descoberta das ossadas em Kamloops, grupos indígenas iniciaram escavações em diversos antigos internatos por todo o país, com o apoio do governo.
O próprio premiê canadense, Justin Trudeau, reconheceu que esses episódios são “uma vergonhosa lembrança do racismo sistêmico, da discriminação e da injustiça que a população nativa experimentou”.
“Devemos tomar nota dessa realidade, aprender com o nosso passado e percorrer o caminho comum da reconciliação, de modo a construir um futuro melhor”, acrescentou.
De acordo com uma comissão de inquérito, pelo menos quatro mil crianças morreram nos 139 internatos para indígenas do Canadá até os anos 1990. A própria escola de Marieval funcionou entre 1899 e 1997, quando foi demolida e substituída por um colégio comum.
O Vaticano ainda não pediu desculpas pelos crimes cometidos nos internatos canadenses.