A marcha de camponeses que percorre o Paraguai desde sexta-feira (06/02) passada chegou nesta terça-feira (10/02) ao Congresso do país para pedir mudanças na política econômica implementada pelo presidente Horacio Cartes e a realização de uma reforma agrária no país.
Os camponeses também pedem o fim da repressão no campo e manifestaram rechaço à privatização de empresas estatais e repúdio ao que consideram ser a “narcopolítica” adotada pelo governo. A convocação foi realizada pelo Partido Paraguai Pyahurá, com o apoio da Federação Nacional Camponesa e a Frente Guasu.
Agência Efe
Milhares de camponeses participaram do protesto contra as políticas de Cartes
Ao grito de “Horacio, Horacio, fora do Palácio”, milhares de pessoas se concentraram hoje em frente à sede do Parlamento, em pleno centro de Assunção, para mostrar rejeição ao governo.
Os manifestantes chegaram a pé formando duas colunas que partiram de diferentes departamentos do interior. É necessária “uma reforma agrária” que “transforme a posse da terra, elimine o latifúndio e desenvolva a produção agrícola para satisfazer as necessidades internas”, assim como a “produção industrial ligada à matéria-prima nacional”, declarou à agência Efe o secretário adjunto da Federação Nacional Camponesa (FNC), Marcial Gómez.
O dirigente destacou que o Paraguai é um dos países com maior concentração de terras do mundo, a maior parte delas está nas mãos de empresários dedicados à exportação agrícola e criação de gado.
Gómez ressaltou ainda que o atual sistema econômico “aprofunda a dependência internacional, a entrega e o saque dos recursos naturais” e criticou o modelo de produção agrícola atual, baseado nas grandes extensões de terreno destinadas à monocultura de produtos como a soja, que ocupam três milhões de hectares da superfície total do país.
A economia do Paraguai, que é uma das que mais cresceu em 2014 na América Latina (4%, segundo a Cepal), tem como pilares a produção de soja, da qual o país é o quarto maior exportador do mundo, e de carne bovina, da qual é o sexto exportador.
Na mesma linha, Eladio Flecha, secretário-geral do Partido Paraguai Pyahurá (“Paraguai novo”, em língua guarani), organizador da mobilização, disse à Efe que Cartes “só serve aos interesses de uma pequena minoria de privilegiados”, que são “os latifundiários, criadores de gado, agroexportadores e narcotraficantes”.
Agência Efe
Cartes, há um ano no poder, tem tomado medidas impopulares no país
A coordenadora da coluna que partiu do leste do país até a capital, Augusta Caballero, ressaltou que “o povo está inquieto e descontente”, motivo pelo qual a marcha recebeu “o apoio e solidariedade dos cidadãos” em todo o percurso.
“O paraguaio pobre não tem futuro, está angustiado e desesperado, e nos fez chegar essa inquietação”, acrescentou.
Caballero afirmou que a solução aos problemas dos paraguaios passa pela “renúncia de Cartes” e a constituição de um “governo patriótico” formado por um conjunto de personalidades “honestas e democráticas” que “orientem o povo organizado a um programa de desenvolvimento e de soberania nacional”.
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Marcial Gómez acrescentou também que no Paraguai “os narcotraficantes financiam as campanhas eleitorais e inclusive lideram as listas dos partidos”.
O dirigente da FNC considerou necessário “realizar debates e assembleias cidade por cidade”, para que “o povo participe permanentemente em sua própria organização e apresente suas propostas”.
Os participantes da “longa marcha”, como foi denominada, permanecem concentrados na praça junto ao Congresso paraguaio, onde devem pernoitar antes de partir nesta quarta-feira de volta a seus lugares de origem.
Uma nova convocação foi feita para o dia 1º de março, coincidindo com o feriado nacional do Dia dos Heróis, quando deverão propor a formação de um Congresso Democrático e Popular que será o veículo do descontentamento de setores mais pobres no país.
* com informações da agência Efe