Começa nesta sexta-feira (06/09), na Arena de Eventos do Parque do Ibirapuera, a exposição interativa “Campo de Refugiados no Coração da Cidade”, organizada pela instituição MSF (Médicos Sem Fronteiras).
O objetivo da mostra é retratar a realidade dos campos de refugiados, locais que abrigam continuamente milhões de pessoas que fogem da violência de conflitos armados ou de perseguições políticas, raciais e religiosas sofridas em seus próprios países.
Gabriela Néspoli/Opera Mundi
Em uma área de 600 metros quadrados, MSF recriou as estruturas que utiliza para prestar cuidados de saúde aos refugiados
Ao chegar, o público será convidado a assumir a identidade de uma pessoa que vive em um dos campos nos quais o MSF atua, incorporando a realidade de um refugiado. “Cada visitante receberá um cartão com um pequeno resumo da história de um refugiado e, ao longo do caminho, será convidado a interagir como se fosse aquela pessoa”, explica Susana de Deus, diretora geral de MSF-Brasil.
Guiados por profissionais com experiência nos projetos da organização, os visitantes também poderão interagir com réplicas das estruturas que são tradicionalmente montadas pela MSF para prestar cuidados de saúde aos refugiados, como consultórios médicos, posto de vacinação, centro de nutrição e sala de atendimento de saúde mental.
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Barraca tradicional de um campo de refúgio, que costuma abrigar 5 pessoas.
A instituição salienta que a organização dos campos de refugiados é responsabilidade da Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e que MSF atua para instaurar toda a infra-estrutura necessária para fornecer cuidados médicos às pessoas em situação de fragilidade, a qual varia de acordo com a necessidade de cada local. Em geral, MSF oferece tratamentos contra a desnutrição, cuidados de saúde básica, vacinação e saúde mental, além de construir latrinas e postos nos quais a água encontrada em locais próximos ao campo – geralmente contaminada – é tratada e distribuída às famílias.
Alessandra Villas Boas, diretora de comunicação de MSF-Brasil, afirma que construir uma boa infraestrutura nos campos é importante pois muitas vezes os conflitos tomam uma dimensão tão grande que o refugiado se vê impossibilitado de deixar o campo, transformando-o em um local de moradia semi-permanente, como é o caso do campo de Dadaab. Fundado há mais de 20 anos, o complexo de Dadaab, no Quênia, para refugiados somalis, é o abrigo para mais antigo e extenso do mundo. Ele é composto por cinco campos e, entre residentes antigos e novos, uma população de aproximadamente 40 mil pessoas.
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Cada latrina costuma servir até 20 pessoas, mas em campos superlotados, como Doomez, uma latrina é utilizada por até 200 pessoas.
“As crianças são as que mais sofrem. Muitas chegam aos campos com desnutrição severa e outras doenças evitáveis, como a diarreia. Elas também desenvolvem esses quadros durante a estadia nos campos, que muitas vezes funcionam em condições precárias onde a ajuda humanitária costuma ser limitada, o que também facilita a disseminação de doenças contagiosas”, afirma a diretora geral de MSF-Brasil, Susana de Deus.
Segundo dados da organização, em 2012 as equipes de MSF prestaram assistência médico humanitária para refugiados e deslocados internos em mais de 30 países.
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Situação atual
De acordo com dados da Acnur, atualmente mais de 45,2 milhões de pessoas vivem longe de suas casas na condição de refugiados, requerentes de asilo (aguardando documentação de refugiados em outro país) ou deslocados internos, caso no qual a fuga se dá dentro das fronteiras nacionais.
Só nos campos de refugiados do Iraque e da Jordânia vivem hoje mais de 672 mil sírios que fugiram do conflito que assola o país há mais de dois anos. Segundo informações da organização, quase dois milhões de sírios já deixaram o país por conta da guerra e a ajuda humanitária na região está muito aquém das necessidades dessa população, que também procura abrigo em países como Líbano e Egito.
“Há ainda uma grande crise de refugiados, da qual pouco se fala, no Sudão do Sul, onde milhares de sudaneses que fugiram do conflito em seu país têm buscado abrigo”, relata Susana.
Refugiados no Brasil
Larissa Leite, representante da Cáritas Arquidiocesa de São Paulo, organização não-governamental que é parceira da Acnur e auxilia na assistência humanitária e na integração de refugiados no Brasil, afirma que atualmente existem 81 nacionalidades diferentes de refugiados no país. Grande parte deles é proveniente de países africanos, como Angola, República Democrática do Congo, Guiné-Bissau e Senegal e chega ao Brasil ou de avião ou clandestinamente, de navio.
Ela também ressalta que a primeira preocupação do refugiado récem-chegado é onde vai ficar. Em São Paulo, como não há espaços amplos que poderiam ser transformados em campos, o refúgio é urbano e geralmente se dá em abrigos públicos, casas acolhidas e em outros locais disponíveis a partir de parcerias com o sistema público.
Após a definição da moradia temporária, o refugiado é estimulado integrar-se à cultura brasileira, recebendo aulas de língua portuguesa, cursos de qualificação profissional e assistência na procura por emprego. A Cáritas auxilia também no processo de documentação dos estrangeiros. Para que eles recebam o RNE (Registro Nacional do Estrangeiro) e possam iniciar uma nova vida longe seu país de origem, é necessário o reconhecimento oficial de sua condição de refugiado pelo Conari, órgão responsável por analisar o pedido de refúgio com base no fundado temor de perseguição.
“Campo de Refugiados no Coração da Cidade”
Data: De 06 a 15 de setembro
Horário: Das 10h às 17h
Local: Arena de Eventos do Parque do Ibirapuera (próxima ao Museu Afro, entrada pelos portões 3 ou 10)
Após São Paulo, a exposição seguirá para o Rio de Janeiro, entre os dias 4 e 13 de outubro, e para outras capitais do país.