“Seguiremos em luta para encontrar a verdade”. A fala do porta-voz dos pais e familiares dos 43 estudantes da escola de Ayotzinapa, desparecidos desde 26 de setembro de 2014, Melitón Ortega, resume o sentimento das milhares de pessoas que se mobilizaram em mais de dez estados mexicanos no aniversário de seis meses do crime que comoveu o país. Em resposta aos acontecimentos, familiares querem impedir realização de eleições no estado de Guerrero, onde ocorreu o crime e propõem realização de assembleias populares, como alternativa.
Agência Efe
Manifestação reuniu milhares na Cidade do México
Diante do descontentamento com a resposta que vem sendo dada pelo governo ao caso, Ortega pediu que as pessoas não votem para eleger representantes em Guerrero por meio das eleições. Segundo ele, os representantes devem ser eleitos mediante o “regime de usos e costumes, com assembleias populares”, instrumento previsto na Constituição mexicana em regiões indígenas e que prevê votação por mãos alçadas.
Os pais chegaram a se reunir com autoridades do INE (Instituto Nacional Eleitoral), nesta quinta (26/03), onde fizeram uma série de pedidos, entre eles a não realização de eleições em Guerrero, onde ocorreu o desaparecimento dos jovens. Mas, de acordo com porta-vozes, as reivindicações “não se resumem somente a isso”.
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Manifestantes rechaçam convocação de eleições em Guerrero
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No próximo dia 7 de junho, mais de 83 milhões de mexicanos estão convocados às urnas para escolher 1.996 cargos, incluindo 500 deputados federais e os governadores de nove estados, entre eles Guerrero.
Busca pela verdade
De acordo com Ortega, esses seis meses têm sido de “sofrimento, dor, pesadelo e tristeza. Isso nos quebrou o coração, mas apesar de o governo estar tentando calar nossas vozes com mentiras, não vamos parar. Seguiremos na luta para encontrar a verdade”, disse durante o ato na capital mexicana.
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Na Praça de Maio, na Argentina, mães e avós de maio se somaram ao protesto para que os jovens sejam encontrados
Na mesma linha, Epifanio Álvarez, pai do estudante Jorge Álvarez Nava, ressaltou que, seis meses depois do sumiço do filho, “estamos com a mesma força e o mesmo desespero e não vamos nos deter até saber dele”.
María Elena Guerrero, mãe de Giovani Galindes Guerrero, afirmou que “minha dor já se transformou em fúria contra esse governo. Já nos tirou tudo, até o medo”. Já a estudante Lucía Pi, da Assembleia Interuniversitária, disse que o governo “nos pede que criemos uma absurda verdade histórica e superemos. As instituições estão em putrefação e a verdade é clara e está à vista: foi o Estado”.
Assista a entevista com Omar García, sobrevivente do massacre:
As falas fazem referência ao descontentamento dos familiares com a versão oficialmente difundida de que os jovens foram queimados no lixão de Cocula e posteriormente jogados no rio. Os pais além de contestarem a versão, defendem que o Estado tem participação no ocorrido e que os quartéis do Exército da região onde os garotos desapareceram, sejam investigados.
A procuradoria, por sua vez, disse ter realizado “uma investigação transparente, exaustiva e apegada ao direito” sobre o desaparecimento e que até agora foram detidas 104 pessoas, 48 delas policiais de Iguala, 16 agentes municipais de Cocula e 40 membros do cartel de Guerreros Unidos.
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