A discussão sobre o crescimento dos Brics no cenário internacional costuma ser feita pelo viés econômico e político. No entanto, para pesquisadores da comunicação de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, este é o momento de explorar outras variáveis que ajudam a entender proximidades sociais entre os países que compõe o bloco.
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Em reunião no Rio de Janeiro no último mês, especialistas do bloco analisaram o que há em comum no cotidiano dessas cinco nações na perspectiva da mídia e do jornalismo e quais são os impactos dos Brics na comunicação. Durante o encontro, o grupo, organizado pela Academia de Ciências da Finlândia, investigou a importância de estudar a mídia no novo arranjo mundial pela ótica dos Brics.
“De comum entre os países que compõem o bloco, acho que há principalmente o sofrimento da maior parte da população, a existência de castas e elites transnacionais, um sistema de mídia que defende os interesses dessa elite politica e econômica, uma concentração de veículos, uma legislação restritiva de produção e um avanço tecnológico que pode interferir de maneira decisiva nessa concentração dos centros produtores de informação e entretenimento”, afirmou a Opera Mundi a professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Raquel Paiva, coordenadora da pesquisa no Brasil.
Assim como Raquel Paiva, os pesquisadores do bloco destacaram em entrevista a Opera Mundi que, além do sistema político e econômico proposto pelos Brics, é necessário discutir uma nova ordem mundial, em oposição ao modelo hegemônico, também em termos midiáticos.
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“São cinco economias emergentes e nós precisamos entender como elas têm sido noticiadas dentro do cenário global. E analisar como isso influencia o cenário global. Precisamos entender como o sistema econômico e político funciona. E isso passa por entender como a mídia funciona. Uma vez que os Brics estão ganhando cada vez mais espaço, as pessoas querem entender como funciona”, afirma Musawenkosi W. Ndlove, professor da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul.
Dodô Calixto/Opera Mundi
Pesquisadores de dos cinco países que compõem o Brics estiveram na Universidade Federal do RJ em setembro para discutir mídia e sociedade
Para o professor da Universidade de Fudan, China, Ruiming Zhou, se os Brics pretendem ser mais que apenas um bloco de países alinhados economicamente, mas também uma nova força política internacional, é essencial comparar os sistemas de mídias entre eles. “Os Brics têm sistemas políticos muito diferentes e sociedades muito diferentes. Por isso, precisamos ter um entendimento do sistema político e da mídia dentro desses países a fim de avançar em alternativas midiáticas enquanto bloco. Assim os Brics não serão um grupo apenas alinhado por interesses econômicos”, explica Zhou.
Além de preocupação com os impactos das novas tecnologias nos sistemas midiáticos, a pesquisa indica que os países dos Brics compartilham similaridades no modelo econômico de comunicação e na censura feita pelos proprietários dos meios de comunicação. “Por um lado, os Brics são muito diferentes, mas, por outro são similares. Todos os sistemas midiáticos passam por um controle muito forte do sistema econômico. Falamos muito sobre segurança, tecnologia e governança, mas muito pouco sobre essas questões de mídia que prejudicam o desenvolvimento de cada país e também do bloco”, comenta Dmitry Strovsky, professor da Universidade Federal Ural, na Rússia.
O primeiro resultado dos esforços conjuntos dos pesquisadores é o livro “Mapping BRICS Media” (“Mapeando a Mídia nos BRICS”), publicado em março de 2015 com os resultados da pesquisa comparativa sobre jornalistas nos países que compõem o bloco. Após Rio de Janeiro, esse resultado preliminar da pesquisa será apresentado nos outros quatro países dos Brics.
Serviço:
Livro “Mapeando os Brics”
Edição: Academia de Ciências da Finlândia, Kaarle Nordestreng
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