O site investigativo The Intercept informou nesta terça-feira (19/01) que Matthew Bissonette, o ex-Seal que matou Osama Bin Laden e depois escreveu um livro sobre a operação que levou à morte do então chefe do Al Qaeda, está sendo investigado a nível federal. A investigação pretende determinar se ele utilizou sua posição como comandante de uma equipe de elite da marinha norte-americana apenas para benefício próprio, afirmaram fontes ao site.
Bissonette, que escreveu o best-seller “No Easy Day” (“Não Há Dia Fácil”), já estava sendo investigado pelo Departamento de Justiça e pela Marinha por revelar informações confidenciais. A própria publicação do livro, em setembro de 2012, já havia quebrado o código de sigilo que os Seals são obrigados a assinar quando se juntam à equipe.
Divulgação/ US Navy SEALs
Matthew Bissonette durante exercício de treinamento na Califórnia, em 2001
O Intercept conseguiu entrevistar o advogado de Bissonette, Robert Luskin. Ele afirmou que a investigação a respeito dos documentos confidenciais vazados se encerrou em 2015, devido a um acordo com o Pentágono e o Departamento de Justiça, que determinou a entrega de alguns dos milhões de dólares que Bissonette lucrou em cima de seu livro.
No entanto, durante este primeiro processo, o ex-militar entregou voluntariamente uma cópia de seu hard-drive para que não o acusassem de posse ilegal de material confidencial. Nele, os investigadores encontraram e-mails e outros registros indicando que Bissonette estaria trabalhando como consultor de empresas que fornecem material militar durante o período em que estava a serviço do Exército dos EUA. O HD também continha uma foto não autorizada do cadáver de Bin Laden.
Assim, o Serviço de Investigação Criminal da Marinha (NCIS, sigla em inglês) deu início a um novo processo, que também investiga as empresas favorecidas pelo militar. As companhias são a Element Group, que Bissonette ajudou a montar e da qual fazia parte, e a Atlantic Diving Supply (ADS). Ambas fizeram negócios com a Equipe 6 da Seal, à qual pertencia Bissonette.
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“O objetivo da Element Group era trabalhar com a indústria dos esportes. Ela fazia protótipos de sacos de dormir e sistemas de barracas. O intuito era virar uma companhia comercial, não se envolver com assuntos militares”, informou aos investigadores o antigo operador da Equipe 6.
Além disso, de acordo com uma das fontes anônimas ao Intercept, a ADS realizou uma série de pagamentos na faixa dos cem mil dólares para a Element Group. Os investigadores ainda estão tentando determinar quais serviços a Element Group prestava à ADS. Procurada pelo site, a ADS se recusou a comentar.
A Marinha ainda descobriu que Bissonette conduzia outros negócios similares no mesmo período. Ele organizou um grupo de colegas do Seals para servirem de consultores para o jogo de videogame “Medal of Honor: Warfighter” — idealizado por Steven Spielberg e da marca EA Games — revelando informações sensíveis. Eles, inclusive, participaram de um vídeo promocional do jogo em 2012, utilizando equipamentos do Departamento de Defesa. Como resultado, pelo menos dois Seals foram removidos da equipe e outros dois foram forçados a se aposentar.
Segundo membros aposentados da Equipe 6, o nome de Bissonette foi adicionado a uma pedra que fica na base da equipe, em Virginia. Esta pedra é usada para marcar os nomes dos membros que não são mais bem-vindos ao comando, incluindo ex-soldados que violaram códigos de conduta não oficiais entre membros de unidade.