Héctor Béjar apresentou sua renúncia como ministro de Relações Exteriores do Peru nesta terça-feira (17/08) depois de 20 dias da posse, sendo o primeiro ministro de Pedro Castillo a deixar o cargo. A renúncia acontece logo depois que foi desatada uma campanha midiática contra o funcionário.
No último domingo (15/08), foi difundida uma entrevista concedida por Héctor Béjar antes de exercer um cargo público, na qual o sociólogo critica a Marinha peruana. No entanto, ao resgatar o vídeo, os meios de comunicação peruanos não esclarecem a data da gravação.
“Eu estou convencido, não posso demonstrar, sobre duas coisas: que o Sendero Luminoso é, em grande parte, obra da CIA e seus serviços de inteligência; e dois, que grande parte das operações de divisão da esquerda estão vinculadas aos serviços de inteligência inimigos. O terrorismo no Peru foi iniciado pela Marinha, isso é o que podemos demonstrar historicamente”, afirmou Héctor Béjar, antes de tornar-se ministro.
Ainda no domingo, o chefe de Estado peruano se reuniu com diretores dos maiores meios de comunicação do país para “promover um trabalho conjunto que priorize a estabilidade do Peru, através do respeito ao direito à informação da cidadania e o exercício responsável e transparente da liberdade de expressão”.
Antes de apresentar a renúncia, em comunicado oficial, o Ministério de Relações Exteriores já havia afirmado que Béjar estaria disposto a prestar esclarecimentos ao Congresso e sua versão sobre os fatos.
No mesmo documento, a Chancelaria aponta que as declarações “estão sendo manipuladas, editadas, recortadas e tiradas de contexto com o propósito de desacreditar e obter a censura do Ministro de Relações Exteriores”.
Na manhã de segunda-feira (16/08), partidos de direita convocaram uma manifestação em frente à sede do Ministério exigindo a saída do chanceler.
Presidência Peru
Héctor Béjar abandona Chancelaria peruana após sofrer pressão midiática
O gabinete da Presidência divulgou que aceitou o pedido, mas ainda não oficializou quem será o sucessor. Na manhã desta terça-feira, Pedro Castillo reuniu-se com Manuel Rodríguez Cuadros, ex-ministro de Relações Exteriores e ex-embaixador peruano na Unesco, que agora é um dos nomes mais cotados para assumir o cargo.
Este é o segundo ministro de Castillo que sofre algum tipo de represália. O primeiro-ministro, Guido Bellido, também é investigado pelo Ministério Público por suposto vínculo com o terrorismo. O caso é denunciado como perseguição política e judicial, já que até o momento a única prova contra Bellido é uma declaração.
Depois dos dois casos, o chefe do gabinete de ministros de Castillo afirmou que “haverá mudanças nos rumos do país”.
Quem é Héctor Béjar?
Héctor Béjar tem 85 anos, é advogado, sociólogo, e foi professor da Universidade Mayor de San Marcos. Na sua juventude participou do Exército de Liberação Nacional do Peru e do Movimento Esquerda Revolucionária (MIR – siglas em espanhol). Foi preso por quatro anos pela atuação como guerrilheiro. A inspiração para a luta armada veio dos anos em que acompanhou de perto o início da revolução cubana, ao lado dos líderes Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Seu histórico de esquerda havia sido motivo de críticas na imprensa peruana, logo após a nomeação de Castillo.
Um dos primeiros anúncios de Béjar foi a saída do Peru do Grupo de Lima, bloco criado em 2017 para promover ações internacionais contra o governo venezuelano na Organização do Estados Americanos (OEA). Também havia declarado que o governo peruano se soma ao chamado internacional pelo fim da sanções bloqueios econômicos.