As primeiras 50 multas aplicadas pela polícia a integrantes do governo britânico que participaram de festinhas em pleno lockdown Reino Unido levaram o primeiro-ministro Boris Johnson de volta à berlinda. A oposição aumentou a pressão por sua renúncia, o que ele garante que não fará.
O premiê e o ministro da Fazenda, Rishi Sunak, outra figura de destaque deste governo, pagaram as multas, se desculparam publicamente e disseram que vão se concentrar nas grandes questões que afligem os eleitores, como a inflação e o custo do gás.
O Partygate — como ficou conhecido o escândalo das confraternizações clandestinas — fez de Johnson o primeiro chefe de governo britânico a ser sancionado por infringir a lei enquanto ocupa o cargo. Johnson está na mira de colegas no partido conservador, que, por ora, deixaram de pedir a sua cabeça. O país terá eleições regionais em maio, um teste de fogo para primeiro-ministro. O pleito será o termômetro de sua popularidade, que está em baixa.
Os integrantes da legenda esperam as eleições para decidir o que farão em relação à liderança do partido. Alguns ardorosos defensores da renúncia semanas atrás passaram inclusive a dizer que não é hora de Johnson deixar o posto. Em favor do primeiro-ministro, há o seu desempenho no contexto da guerra da Rússia na Ucrânia, que tem sido bem visto pelo eleitorado.
Por mais que ele pareça estar em uma posição um pouco menos exposta nesse momento, já que o fogo-amigo de dentro do seu partido diminuiu, Johnson acaba de ter novo revés: perdeu o vice-ministro da Justiça. O conservador David Wolfson pediu demissão depois do anúncio das multas. Ele criticou a resposta oficial à penalidade e as repetidas infrações.
Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Premiê Johnson e o ministro da Fazenda de seu governo, Rishi Sunak, pagaram as multas por festas secretas
O parlamentar disse ainda que “não teve outra opção” senão entregar o cargo, dadas as suas obrigações profissionais na pasta.
Outra investigação em curso
Outras multas podem estar a caminho, inclusive tendo como alvo o próprio Johnson, que teria participado de uma segunda festa. Além disso, o país aguarda com ansiedade, desde o final do ano passado, o relatório final da corregedora Sue Gray. Ela conduz outro processo de investigação independente sobre as festas entre Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro, e outros ministérios. A depender do resultado, o inquérito pode complicar ainda mais a situação de Johnson e seu governo.
Neste momento, há ainda outro debate nacional que toma as primeiras páginas dos jornais a afligir o partido da situação às vésperas da eleição. Foi revelado que a mulher do ministro da Fazenda, Akshata Murty, filha de Narayana Murty, conhecido como o Bill Gates da Índia, não paga seus impostos no Reino Unido, por ter status de não residente.
Embora não esteja fazendo nada ilegal, o caso deu munição a críticos do governo para apontar o que consideram a hipocrisia de o responsável pelos cofres públicos, a quem cabe decidir sobre os tributos – que subiram este ano, assim como o custo de vida em geral –, ser casado com uma bilionária que foge dos impostos no país. Para tentar conter a polêmica, ela anunciou que mudará o domicílio fiscal para passar a contribuir para o fisco britânico.
Sunak é um dos nomes mais cotados para substituir Johnson no futuro próximo. O vazamento das informações tributárias de sua mulher está sendo investigado.