Em discurso na sessão plenária da IX Cúpula das Américas, sediada em Los Angeles, nos Estados Unidos, nesta sexta-feira (10/06), o presidente Jair Bolsonaro falou que as Forças Armadas brasileiras estão realizando “buscas incansáveis” pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, desaparecidos desde o último domingo (05/06), na região do Vale do Javari, na Amazônia.
“Desde o primeiro momento, naquele mesmo domingo do desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira, nossas Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida”, disse Bolsonaro.
A declaração é dada no momento em que Bolsonaro tem sido alvo de pressão internacional para intensificar a operação para encontrar Phillips e Pereira. Nesta sexta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) cobrou “investigações mais intensas” por parte do governo brasileiro.
Anteriormente, o mandatário brasileiro chegou a afirmar que o jornalista e o indigenista se arriscaram em uma “aventura não recomendável” pelo fato de a região ser “completamente selvagem” e que “tudo pode acontecer”.
Desenvolvimento sustentável e agronegócio
Bolsonaro falou ainda sobre as “oportunidades” que a reunião regional traz para o “desenvolvimento sustentável, para democracia e aos direitos humanos”.
“Estamos atentos aos problemas econômicos que afetam o mundo, como inflação e o desemprego. E, principalmente, ao bem mais precioso para o ser humano, a sua liberdade, aí incluídos a liberdade de expressão, de trabalho e de culto religioso”, afirmou, completando que o Brasil “se engajou fortemente” pelas declarações a serem “discutidas e aprovadas na Cúpula”.
Citando números questionáveis, Bolsonaro disse que o Brasil alimenta um bilhão de pessoas e garante a segurança alimentar de 1/6 da população mundial, defendendo que “sem o agronegócio do país, parte do mundo passaria fome”.
A declaração vem após dois dias de um novo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, apontando que só no Brasil mais de 33 milhões de pessoas não têm o que comer diariamente.
Além disso, a informação sobre o país alimentar um bilhão de pessoas no mundo, baseada em uma pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e já citada anteriormente pelo mandatário, não leva em consideração diversos fatores da cadeia produtiva do agronegócio, como o destino dos grãos, os desperdícios na cadeia produtiva, as desigualdades de consumo e dados sobre insegurança alimentar. Reportagem de O Joio e o Trigo aponta tais contradições.
Bolsonaro também afirmou que a nação brasileira é uma das que “mais preserva o meio ambiente e suas florestas, além de ter a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo”.
De acordo com o presidente, o Brasil “é uma potência agrícola sustentável que não necessita da região Amazônica para expandir o agronegócio”. No entanto, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o desmatamento na região cresceu mais de 56% durante sua gestão.
O pronunciamento de Bolsonaro ocorre um dia após ele se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no primeiro encontro entre ambos desde que o norte-americano assumiu o poder no ano passado.
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Pronunciamento de Bolsonaro ocorre um dia após ele se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden
Leia o discurso na íntegra:
Senhor presidente Joe Biden,
Senhor Antony Blinken, Secretário de Estado,
Senhores chefes de Estado e de governo,
Senhor Luis Almagro, Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA),
Prezado Deputado Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, e ministros que me acompanham,
Senhoras e senhores,
Agradeço o convite dos Estados Unidos para participar desta reunião de líderes democráticos das Américas.
A Cúpula das Américas é oportunidade para tratarmos os desafios da pós-pandemia, do desenvolvimento sustentável, da transição energética, da transformação digital, da imigração, bem como da democracia e dos direitos humanos.
Estamos atentos aos problemas econômicos que afetam o mundo, como a inflação e o desemprego e, principalmente, ao bem mais precioso para o ser humano: a sua liberdade, aí incluídos a liberdade de expressão, de trabalho e de culto religioso.
O Brasil se engajou fortemente no processo negociador das declarações a serem discutidas e aprovadas nesta Cúpula. Vamos trabalhar juntos para que essas propostas conduzam a novas agendas de cooperação para o crescimento econômico nas Américas.
O Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas, garantimos a segurança alimentar de um sexto da população mundial. Uma realidade: sem o nosso agronegócio, parte do mundo passaria fome.
O Brasil não apenas evitou uma crise alimentar ao garantir acesso a fertilizantes, mas também desempenhou um papel de liderança na busca de soluções internacionais em favor da segurança alimentar.
Somos um dos países que mais preservam o meio ambiente e suas florestas. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo. Mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura, somos uma potência agrícola sustentável.
Não necessitamos da Região Amazônica para expandir nosso agronegócio. Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Os nossos desafios são proporcionais ao nosso tamanho. Lembro que a área da região amazônica equivale a toda a Europa Ocidental.
Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa e restritiva. Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países. Afinal, somos responsáveis pela emissão de menos de 3% carbono do planeta, mesmo sendo a 10ª economia do mundo.
Para proteção das florestas, o Governo Federal reforçou o combate ao desmatamento e estabeleceu a operação Guardiões do Bioma Amazônia, sob a coordenação e controle do Ministério da Justiça.
Com o lançamento do Programa Metano Zero, fomos o primeiro país a implementar compromissos assumidos durante a COP-26, com financiamento específico para estruturar projetos de tratamento de resíduos orgânicos de aves, suínos, laticínios, cana-de-açúcar e de aterros sanitários, a fim de reduzir 30% das emissões totais de metano no Brasil.
Somos pioneiros na transição energética, tendo iniciado a descarbonização há quase meio século, com biocombustíveis e outras fontes. Em 2021, batemos recordes de instalação de energia Eólica (21 Gw) e Solar (14 Gw). Hoje, 85% da energia gerada no Brasil vem de fontes renováveis. Temos o potencial de produção excedente de energia eólica no mar na ordem de 700 Gw, equivalente a 4 vezes a nossa atual capacidade instalada ou 50 Itaipus. As eólicas, na costa do nosso nordeste, poderão produzir hidrogênio e amônia verde para exportação. Neste momento em que países desenvolvidos recorrem a combustíveis fósseis, o Brasil assume papel fundamental como fornecedor de energia totalmente limpa rumo a uma nova economia neutra em emissões.
Atualmente, vemos no Brasil, e em parte do mundo, um ataque claro às liberdades individuais por opinar de forma diferente.
Deixo aqui uma mensagem de compromisso do Brasil com a integração das Américas, como continente próspero e democrático. Ao longo de meu mandato, o Brasil manteve-se presente nos foros hemisféricos e regionais, trabalhando pela democracia, pela liberdade e pela prosperidade econômica e social.
Neste ano em que o Brasil comemora duzentos anos de Independência, afirmamos que temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, é favorável à vida desde a sua concepção, defende a família e deve lealdade ao seu povo.
No Brasil já se entende que a liberdade é um bem maior que a própria vida, pois um homem ou mulher sem liberdade não tem vida.
Se me permitem, antes de concluir, algumas informações de interesse de todos nós e, por que não dizer, do mundo. Desde o último domingo, quando tivemos informação que dois cidadãos, um britânico, Dom Phillips, e um brasileiro, Bruno Araújo, desapareceram na região do Vale do Javari, e desde o primeiro momento, naquele mesmo domingo, as nossas Forças Armadas e Polícia Federal têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida.
Dizer a todos que o Brasil é um país que continua concedendo vistos humanitários a afegãos, haitianos, ucranianos, sírios e venezuelanos.
Falar um pouco do potencial nosso, das Américas, prezado Marito, o nosso lago de Itaipu, brevemente, estará apto a piscicultura onde, somente pelo lado do brasileiro, nós ampliaremos a nossa oferta de mercado em torno de 40%. Assim tem tratado com vossa excelência o nosso secretário da pesca, Jorge Seif.
Dizer ao presidente argentino, prezado Fernández, continua em frente o nosso acordo de gás de Vaca Muerta. Pode ter certeza que será bom para os nossos dois países, e nós não deixaremos de continuar importando gás da Bolívia.
Dizer também aos prezados presidentes da Guiana, Irfaan Ali, e do Suriname, Chan Santokhi, que a nossa ida recentemente aos seus países visa colaborar na exploração de petróleo e gás dos seus países. Os senhores têm algo de fantástico que Deus lhes deu: reservas em óleo e gás equivalente a 90% das reservas brasileiras. Tenho certeza que juntos, e com outros parceiros bem escolhidos, os seus países, realmente, se despontarão no cenário econômico mundial.
Dizer que ontem estive com o presidente Biden numa bilateral ampliada e depois numa mais reservada com pouquíssimas pessoas. Ficamos por 30 minutos sentados, numa distância inferior de 1 metro e sem máscara. Senti do presidente Biden muita sinceridade e muita vontade em resolver certos problemas que fogem, obviamente, de total responsabilidade de cada um de nós, mas juntos poderemos buscar alternativas para pôr um fim nesses conflitos, e eu acredito que todos, trabalhando dessa maneira, atingiremos os nossos objetivos, em especial o governo americano.
A experiência de ontem com presidente Biden foi simplesmente fantástica, estou realmente maravilhado e acreditando em suas palavras e naquilo que foi tratado reservadamente entre nós.
A todos, muito obrigado e que Deus abençoe os nossos países.
(*) Com Ansa