O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se encontra nesta sexta-feira (07/07) com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, em Istambul, a poucos dias de uma cúpula crucial da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Nesta quinta (06/07), em Praga (República Tcheca), Zelensky reivindicou “honestidade” e “coragem” à aliança militar, como parte de uma ofensiva diplomática de Kiev para aderir à organização e receber mais munições de seus aliados.
Em Praga, o presidente ucraniano declarou que é hora de demonstrar “a coragem e a força desta aliança”. Ao lado do presidente tcheco, Petr Pavel, também reconheceu que a contraofensiva lançada contra as posições russas “não é rápida”. “Isto é um fato. Mas, mesmo assim, avançamos, não retrocedemos como os russos”, disse Zelensky à imprensa.
A viagem a Istambul também ocorre quatro dias antes da abertura da cúpula anual da Otan em Vilnius, capital da Lituânia, em 11 e 12 de julho, durante a qual os líderes da Aliança Atlântica esperam convencer Ancara a suspender seu veto à adesão da Suécia.
Na quinta-feira, depois de ir à Bulgária, Zelensky passou o dia em Praga e voltou a pedir a aceleração da entrega de armas pelos tchecos, grandes produtores de munições. O líder ucraniano disse que queria que a Ucrânia recebesse um “sinal claro” de que se juntaria à Otan.
“A Ucrânia não recebeu um convite de uma forma ou de outra”, salientou Zelensky. “Penso que é necessário demonstrar a força e a unidade da aliança”, acrescentou.
Os países-membros da organização ainda procuram uma linha comum sobre as garantias de segurança que estão dispostas a conceder a Kiev, bem como sobre o convite à Ucrânia para eventualmente aderir à Otan.
Acordo sobre fertilizantes
Durante esta primeira visita de Zelensky à Turquia desde fevereiro de 2022, ele discutirá com Erdogan o acordo sobre as exportações de grãos ucranianos alcançado em julho de 2022, com o apoio das Nações Unidas e da Turquia, conforme antecipou o jornal pró-governo Sabah.
A Rússia já salientou que não vê “nenhuma razão” para estender o pacto após a sua expiração, em 17 de julho. Moscou reclama há vários meses dos obstáculos para fechar outro acordo bilateral.
No campo de batalha, a noite de quarta para quinta-feira foi marcada por um ataque russo a Lviv, uma grande cidade no oeste da Ucrânia raramente visada. Dez pessoas morreram, anunciou sexta-feira de manhã o prefeito de Lviv, Andriï Sadovyi.
Um “décimo corpo (sem vida) acaba de ser descoberto. É uma mulher”, escreveu ele no Telegram, ao anunciar o fim das operações de busca.
Além dos mortos, 42 pessoas ficaram feridas, incluindo três crianças, de acordo com um novo relatório divulgado na manhã de sexta-feira pelo Ministério do Interior ucraniano. “Este é o ataque mais destrutivo contra a população civil da região de Lviv desde o início da guerra”, observou o chefe da administração militar regional, Maksym Kozytsky, no Telegram.
Twitter/ Володимир Зеленський
Zelensky disse que um "sinal claro" para a Ucrânia se juntar à Otan
Edifício histórico é atingido
Os mísseis russos danificaram mais de 30 prédios de apartamentos e outros edifícios, segundo as autoridades locais. “Este ataque, o primeiro numa área protegida pela Convenção do Patrimônio Mundial desde o início da guerra em 24 de fevereiro de 2022, é uma violação desta convenção” da Unesco, reagiu quinta-feira a organização da ONU, com sede em Paris.
“Acordei com a primeira explosão, mas não tivemos tempo de sair do apartamento. Houve uma segunda explosão, o teto começou a cair”, disse a moradora Olya à AFP. “Minha mãe está morta, meus vizinhos estão mortos. Neste momento, parece que sou a única que sobreviveu no quarto andar”, acrescentou.
O exército russo alegou ter como alvo locais de “implantação temporária” de soldados ucranianos. “Todas as instalações designadas foram afetadas”, disse o Ministério da Defesa.
Quase um mês após o início da contraofensiva destinada a expulsar as forças russas do território nacional, o Estado-Maior em Kiev apontou avanços “em alguns locais” em torno da devastada cidade de Bakhmout.
Acesso à central nuclear de Zaporíjia
Nesta manhã, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que a entidade está “progredindo” para garantir o acesso à usina nuclear de Zaporíjia, no sul da Ucrânia. Durante uma visita a Tóquio, ele especificou que os inspetores visitaram vários locais, incluindo as piscinas de resfriamento, mas que não tiveram acesso aos telhados onde a Ucrânia suspeita que as forças russas, que ocupam a usina, tenham colocado minas ou explosivos.
“Estou bastante confiante de que conseguiremos essa autorização”, comentou Grossi. “É uma zona de combate, é uma zona de guerra ativa, então às vezes pode demorar um ou dois dias para obter as autorizações”, explicou.
A Ucrânia, cuja usina de Chernobyl (norte) já havia sido atingida em 1986, na era soviética, acusou Moscou nesta terça-feira de preparar uma “provocação” no local. O exército ucraniano afirma que “objetos semelhantes a artefatos explosivos foram colocados” nos telhados dos reatores 3 e 4 da usina.
A Rússia garantiu o contrário: que Kiev planejava cometer um “ato subversivo” na local. A central, a maior da Europa, está nas mãos do exército russo desde 4 de março de 2022. O local já foi alvo de um incêndio e teve a rede elétrica cortada por diversas vezes, uma situação precária que faz temer um grande acidente nuclear.