“Um Diplomata no Cativeiro”, lançado pela Bella Editora, que conta a história do sequestro do cônsul brasileiro em Montevidéu, Aloysio Gomide, entre julho de 1970 e fevereiro de 1971, em ação do Movimento Nacional de Liberação (MLN), mais conhecido como Tupamaros.
A obra traz um perfil biográfico de Gomide e também uma grande reportagem contando a história daquele caso que ocorreu em paralelo a outro sequestro histórico realizado pelos Tupamaros: o do norte-americano Dan Mitrione, agente da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) que ensinou tortura aos militares de diferentes ditaduras do Cone Sul nos Anos 60.
O sequestro de Mitrione foi o mais midiatizado, já que incluía uma clara reivindicação dos Tupamaros a respeito do papel dos Estados Unidos como maior incentivador das ditaduras sul-americanas da época. Porém, no caso do sequestro de Gomide, e apesar de que o Brasil vivia uma ditadura naquele então, e que também apoiava a repressão cometida por militares de países vizinhos, a autora diz que não estava claro que aquela ação tinha a algum tipo de reivindicação pela situação política brasileira.

Segundo Ana Paula, “os Tupamaros não se manifestaram mais claramente sobre as motivações para o sequestro de Gomide, como fizeram no caso do Mitrione, que era um caso conhecido, se sabia que ele (Mitrione) passou pelo Rio de Janeiro e por Minas Gerais, sempre em contato com agentes da ditadura brasileira, até porque ele veio ao país para fazer isso, para ensinar a torturar”.
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“O que se especula é que foi pela importância do Brasil para a América Latina naquele momento. O Brasil já vivia uma ditadura desde 1964, que estava consolidada, e quando o presidente (Jorge) Pacheco Areco assumiu no Uruguai, no final de 1967, no mesmo ano em que a família Gomide se mudou para o Uruguai. Foi com esse presidente que tudo no país começou a ficar mais rígido, e com essa rigidez o movimento dos Tupamaros também foi crescendo, a resistência cresceu bastante”, explica a jornalista.
Ana Paula também relata o episódio em que Gomide fica sabendo da execução de Dan Mitrione por parte dos Tupamaros. “Ele não tinha nenhum contato com o exterior. Ele ficou sete meses no cativeiro, não podia ler jornal e como ele era muito religioso pediu para ler a bíblia. Havia uma pequena biblioteca no esconderijo, mas segundo ele só havia ‘livros subversivos’. Mas no dia da morte do Mitrione foi a única vez em que os Tupamaros deixaram o rádio ligado, e foi então que ele ouviu a notícia que um americano sequestrado tinha sido encontrado morto. Também foi a primeira vez que ele ouviu o nome do Mitrione. E claro, ele conta que o terror dele aumentou, cada vez que entrava alguém no cativeiro ele achava que seria o próximo. Fora do cativeiro a mesma coisa, a mulher dele ficava esperando que em algum momento achariam o corpo, e inclusive houve vários alarmes falsos”, conta a escritora.