Tendo Itália como destino final, um pesqueiro com 700 imigrantes sem documentação naufragou nas águas do Canal da Sicília, próximo ao norte da Líbia, na madrugada deste domingo (19/04).
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EFE
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Até o momento, foram resgatadas 28 pessoas com vida, além de 24 corpos. Como a expectativa de sobrevivência é cada vez menor para os outros passageiros desaparecidos, o Acnur (agência da ONU para refugiados) estima que esta seja “a pior tragédia vista no Mediterrâneo”.
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, que se encontrava em compromisso político no norte da Itália, está retornando a Roma para acompanhar a situação e declarou que irá convocar uma reunião extraordinária da UE (União Europeia) para debater o tema. Segundo dados da Acnur divulgados na última sexta-feira (17), 950 pessoas já morreram na região desde o início de 2015.
“No [Mar] Mediterrâneo, todo dia acontece uma tragédia”, lamentou Renzi. Para a chefe de Diplomacia da UE, a italiana Federica Mogherini o episódio é “absolutamente inaceitável”. Por sua vez, a representante do Acnur, Carlotta Sami, afirmou que a tragédia “de enormes proporções confirma a necessidade de uma intervenção europeia”.
Na noite de sábado (18/04), a tripulação do pesqueiro emitiu um pedido de socorro à Guarda Costeira italiana, alegando problemas de navegação. As autoridades pediram, por sua vez, para que o navio de bandeira portuguesa King Jacob, que estava na zona, se aproximasse para ajudar o pesqueiro.
Quando a embarcação portuguesa se aproximou, os imigrantes se posicionaram todos no mesmo lugar do barco, facilitando a rapidez de naufrágio, relatam sobreviventes.
Para a guarda italiana,quando os barcos superlotados que deixam a Líbia têm algum problema de navegação, eles demoram muito tempo para assumir o risco às autoridades européias e, quando pedem ajuda, já é tarde demais.
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“Há homens e mulheres conosco, nossos irmãos em busca de uma vida melhor, famintos, perseguidos, feridos, explorados, vítimas das guerras. Estão buscando uma vida melhor”, declarou o papa Francisco na missa deste domingo, após ser notificado do acidente.
“A Líbia é um país com uma longa costa e muito pouco controle das fronteiras. Isso facilita o tráfico de pessoas”, explica Ewa Moncure, da Frontex, agência que monitora as fronteiras externas da União Europeia, em entrevista ao Guardian no ano passado.
Mediterrêneo: a rota da morte
O Mar Mediterrâneo é uma das principais portas de entrada para o continente europeu e também uma das mais perigosas. Diariamente, barcos com imigrantes sofrem naufrágios e acidentes, provocando a morte de dezenas de pessoas.
Há uma série de rotas para se percorrer pelo Mediterrâneo. Uma das mais conhecidas é no Norte da África, pelos enclaves espanhóis de Ceuta e Melila ou pelo Canal da Sicília e pela ilha de Lampedusa, na Itália. Outro caminho tradicional percorre fronteiras de países como Grécia, Turquia e Bulgária.
Na tentativa de chegar a um país mais desenvolvido, morrem pelo menos oito imigrantes por dia, de acordo com o relatório “Viagens letais” divulgado no fim de 2014 pela OIM (Organização Internacional de Migrações). A maior parte destes é proveniente da África e do Oriente Médio, com a Síria, Líbia e Eritréia.
Em 2014, duas a cada três mortes em rotas de migração registradas pela IOM ocorreram na região do Mediterrâneo, totalizando 3.279 mortos. Comparativamente, a segunda rota mais perigosa, o Golfo de Bengala, na Ásia, vitimou 540 migrantes.