Atualizada às 18h46
Aplaudido de pé no Congresso norte-americano, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou o programa nuclear iraniano em seu discurso nesta quinta-feira (03/03) em Washington. “Se o Irã quiser ser tratado como um Estado normal, então deve agir como tal”, disse o premiê israelense, ao criticar o diálogo entre o país persa e as potências ocidentais.
Para o premiê, o acordo nuclear negociado entre Teerã e seis potências mundiais “só tornará o Oriente Médio pior”. “O atual regime de governo iraniano sempre será um inimigo para a América. Nós devemos permanecer juntos para impedir a marcha iraniana de terror. Aiatolá Khamenei vomita o ódio mais antigo do antissemitismo com a mais nova tecnologia”, prosseguiu.
Aos seus olhos, o acordo “não irá prevenir que o Irã tenha acesso a armas nucleares, mas vai garantir que isso ocorra”. Para ele, Teerã ludibria as autoridades internacionais e não deve ter acesso a um programa nuclear.
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EFE
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Repercussão
O governo iraniano qualificou de “um espetáculo cheio de enganos” o discurso de Netanyahu. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Marzieh Afkham, disse nesta terça (03/03) que “as declarações de “iranofobia” de Netanyahu são parte da propaganda eleitoral dos extremistas de Tel Aviv”.
Para Afkham, as palavras de Netanyahu são uma “demonstração de fraqueza” e do “isolamento dos grupos radicais”.
Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que não escutou o discurso e se recusou a encontrar Netanyahu, considerou que o chefe do governo israelense não ofereceu “alternativas viáveis” ao diálogo com o Irã.
“Não há nada novo. Mas ninguém pode duvidar que o regime iraniano ameaçou repetidamente Israel”, comentou Obama. Mas, o mandatário lembrou que as sanções vigentes contra o país forçaram o Irã a negociar e concluiu: “as sanções por si só não são suficientes. Se não chegarmos a um acordo, corremos o risco de o Irã começar imediatamente a acelerar seu programa nuclear. Vamos esperar que haja realmente um acordo sobre a mesa. Não temos que especular”.
Convite controverso
O discurso de Netanyahu diante do Legislativo norte-americano foi feito por John Boehner, líder opositor. A vinda do premiê israelense provocou um racha com a administração democrata do governo do presidente Barack Obama.
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“Sei que meu discurso foi controverso. Eu lamento profundamente que alguns tenham encarado minha presença aqui como uma questão política, mas a aliança notável dos EUA e Israel deve permanecer sempre acima da política”, declarou na abertura de seu discurso.
“Eu gostaria de agradecer pelo apoio a Israel ano após ano, década após década. Não importa de que lado estejam, vocês apoiam Israel. Eu sempre serei grato ao presidente Obama”, acrescentou Netanyahu.
Recusa de democratas
Mais de 50 senadores e deputados democratas anunciaram planos de recusar participar do discurso de Netanyahu no Congresso para protestar contra o republicano John Boehner, responsável por convidar o premiê israelense a Washington.
“É uma pena que as ações de Boehner nas vésperas das eleições nacionais em Israel tenham feito com que o evento de terça seja mais político e menos útil para a crítica questão nuclear e a segurança de nosso mais importante aliado no Oriente Médio”, declarou a senadora democrata Elizabeth Warren (Massachusetts), segundo o USA TODAY.
Mais cedo, o deputado democrata Luis Gutiérrez (Illinois) escreveu um artigo para o Huffington Post intitulado: “Por que eu não estarei no discurso de Benjamin Netayahu”. “Eu não quero participar de um a manobra política que possa ter retornos de curto prazo para o partidarismo e para os partidos conservadores, tanto em Israel e nos Estados Unidos, em detrimento dos danos a longo prazo para uma das relações internacionais mais importantes que os Estados Unidos têm”.
Entenda o caso
O convite de Boehner – também líder da Câmara dos Representantes dos EUA – foi considerado uma quebra de protocolo para a Casa Branca. A atitude ainda gerou conflitos internos na administração do presidente Barack Obama e também com o governo israelense.
Na segunda (02/03), Netanyahu declarou que a relação entre os dois países “está mais forte do que nunca e será ainda mais forte” e que as nações são “membros de uma mesma família”, em uma tentativa de apaziguar a tensão.
Prévia do encontro de hoje no Congresso, o discurso de ontem foi realizado durante a conferência anual do Aipac (Comitê de Relações Públicas Americano-Israelenses), instituição mais influente em lobby israelense nos EUA.
Mesmo assim, o presidente norte-americano, Barack Obama, recusou-se a se reunir com Netanyahu, sob a justificativa de que um encontro poderia influenciar nas eleições israelenses, previstas para acontecer no dia 17 de março.
O próprio secretário de Estado e chefe da diplomacia, John Kerry, admitiu que foi “estranho” que o republicano John Boehner não notificasse a Casa Branca. Em entrevista à emissora ABC News, ele ressaltou que, apesar da visita surpresa, Washington e Tel Aviv coincidem em seu objetivo principal de garantir que o “Irã não está fabricando armas nucleares”.
Há anos, Irã negocia com o G5+1 (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) a existência de um programa nuclear. A comunidade internacional acusa Teerã de querer produzir uma bomba atômica, embora o país persa assegure que o programa tem um caráter pacífico, como a geração de energia elétrica para o território nacional. O prazo do processo de negociação com as potências foi prolongado para julho de 2015.